28- Enfim Livre

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Tomas 


O CAMINHO PARA  casa não foi diferente da ida. Fui a maior parte em silencio, tentando processar tudo. Vinte e quatro anos depois eu vi a face de quem me fez tanto mal. Ouvi sua voz trouxe recordações dolorosas. 

Quando Catarina propôs que eu enfrentasse meu pai eu achei que ela estava ficado maluca. Mas parando para pensar ela tinha razão. Porém esse encontro não foi nada do que eu esperava. Pra falar a verdade nem eu mesmo sei o que estava esperando.

De alguma forma ouvir que meu pai não acreditava de verdade que eu seria igual a ele mudou algo em mim. Não que eu precisasse que ele dissesse isso, agora sei que eu nunca fui e nunca serei igual. Mas algo mudou. Que eu ainda precisava descobrir e me adaptar.

Eu estava me sentindo leve. Eu não estava mais com medo do passado. Entendi principalmente que o problema sempre esteve nele. Meu pai podia ser diferente,mas ele escolheu ser daquela forma, mesmo que se arrependa agora.

A vida é feita de escolhas afinal. O arrependimento é bom, certo ?

Apesar de não querer vê-lo novamente e nem querê-lo na minha vida, não desejo a ninguém uma vida de sofrimento e solidão.

- Obrigado - murmurei para Cat, que estava ao meu lado lendo um livro.

Estávamos no avião, de volta a Seattle. Catarina fechou o livro e apoiou no colo.

- Pelo que exatamente ? - ela inclinou a cabeça levemente para o lado.

Os olhinhos verdes vibrantes de Catarina estavam ainda mais lindo refletindo a luz do fim de tarde que entrava pela minúscula janela do avião.

- Por sugerir que fossemos lá. Por estar aqui comigo. E por nunca ter desistido de mim.

Ela abriu aquele sorriso maravilhoso. Eu ainda perdia o fôlego sempre que ela sorria dessa forma para mim.

- Não agradeça por isso. Eu quero te ver bem. E eu faria qualquer coisa para isso - prometeu ela.

Eu me sentia seguro ao lado da minha esposa. Como se nenhum mal pudesse me atingir quando ela estava por perto. Eu deveria protegê-la do mundo. Mas era ela quem me protegia, as vezes de mim mesmo. E eu me sentia bem com isso.

- Como você está se sentindo ? - ela perguntou.

Organizei os pensamentos antes de responder.

- Livre - era assim que eu me sentia. - Parece que o peso do mundo saiu das minhas costas. Acho que poder dizer diretamente para ele como ele me fez mal foi revigorante. Ele tinha que saber.

- Sim, tinha. Eu estava com medo de que você saísse de lá ainda pior. Fico feliz que tenha dado tudo certo.

Me aproximei e beijei os lábios carnudos da minha linda esposa. Quando me afastei fiquei observando seu rosto angelical. Eram traços tão finos e delicados. Os olhos grandes, que poderia ser grande demais no rosto de outra pessoa, mas não no dela. Os lábios bem esculpidos. Os cabelos volumosos emoldurando o rosto.

Era como se eu tivesse a vendo pela primeira vez depois de muito tempo. E talvez fosse isso mesmo. Eu estava tão perdido em mim mesmo que esqueci dela.

- Nunca mais deixe que eu me afaste de você - pedi. - Nem que for preciso me surrar. Grite comigo. Eu nunca mais vou deixar de priorizar você e Jane. Mas ao menor sinal de que eu esteja me afastando, me puxe de volta.

Catarina espalmou as mãos em cada lado do meu rosto.

- Está tudo bem amor. Mas não se preocupe, eu vou estar sempre aqui por você e nossa filha.

Agora eu já te conheçoOnde histórias criam vida. Descubra agora