31 - Então foi você ?

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Catarina 



TOMAS FOI PROCURAR as chaves e eu me virei em direção a saída, enquanto falava com mamãe.

- Sim, agora estamos aqui no hotel. Já vamos embora - eu ia dizendo. - Eu tenho uma surpresa para ele.

- Que surpresa ? - indagou ela, curiosa.

- Não posso falar agora, se ele escutar vai estragar tudo. Mas vai ser amanhã, Malu me ajudou a preparar tudo - expliquei, sentindo a empolgação me consumir.

- Certo, depois me ligue para contar como foi - ela deu uma pausa longa demais. - Tem certeza de que esta tudo bem filha? - Insistiu minha mãe.

- Sim mãe. Estamos bem. Tomas e eu. Jane também, falei com sara há uma hora.

Ela respirou fundo do outro lado. Parecia aflita. Eu quase podia ouvir ela andando em círculos na sala de sua casa.

- Ah filha, tenha cuidado. Eu tive um sonho horrível ainda pouco, quando estava tirando um cochilo. E uma sensação ruim me invadiu, é como se meu coração tivesse sendo espremido como uma laranja - ela disse, e sua voz parecia realmente assustada.

Abri a boca para responder que tudo estava bem quando um som chegou até mim. Um estampido alto que ecoou pelas paredes vazias. Foi tão repentino e assustador que larguei o celular e ele quicou no chão. O som foi terrivelmente reconhecível, mas parecia ter vindo do lado de fora, o que não impediu do meu coração bater desenfreado e meus pelos se arrepiarem com uma sensação estranha. 

- O que foi isso ? - ouvi a voz dela baixinho vindo do celular no chão. 

Recuperei o celular do chão e coloquie no ouvido com as mãos tremulas. 

- Você também ouviu ?

- Sim.

- Tomas? - chamei. Sem respostas.

Percebi nesse momento que ele estava demorando mais do que deveria.

- Mãe, vou procurar por Tomas. Está escuro, ele pode ter se perdido.

Desliguei e acendi a lanterna do celular. Quase não lembrei o caminho que fizemos até a área externa. O lugar era enorme.

A cada passo que eu dava um calafrio estranho percorria meu corpo. E Não tinha absolutamente nada haver com a brisa fria. Meu coração começou a bater mais descompassado. Nem mesmo eu entendia o porquê.

Consegui por fim achar a porta de saída certa.

- Meu amor ? - chamei mais uma vez.

Dessa vez meu coração galopou com mais intensidade. Se ele se perdesse eu não saberia encontrá-lo e já estava escuro demais.

O escuro me deixava nervosa depois do que me aconteceu. E eu sentia todos os pelos do meu corpo eriçado.

Encontrei o espelho d'água e do lado de fora estava mais claro. Dei mais alguns passos. Tomas não estava a vista. Mas então...

Tudo ficou ainda mais silencioso. Eu não ouvia o barulho dos carros na rua, nem mesmo o assovio do vento. Não tinha o barulho do mar e nem dos barcos na enseada. Nem mesmo minha respiração eu ouvia. Era como se o universo todo tivesse prendido a respiração diante daquele momento. Daquela cena. Diante do meu marido, estirado no chão. Os braços e pernas abertos, uma mancha vermelho carmesim sobre o tecido da camisa imaculada.

E o meu primeiro pensamento foi que meu Tomas estava morto.

Eu não consegui me mover por um milésimo de segundo. Pisquei várias vezes, como se o que eu estava vendo era uma mera ilusão da minha cabeça. Como se eu pudesse mudar o fato de que era real. Era real.

Agora eu já te conheçoOnde histórias criam vida. Descubra agora