Catarina
TOMAS FOI PROCURAR as chaves e eu me virei em direção a saída, enquanto falava com mamãe.
- Sim, agora estamos aqui no hotel. Já vamos embora - eu ia dizendo. - Eu tenho uma surpresa para ele.
- Que surpresa ? - indagou ela, curiosa.
- Não posso falar agora, se ele escutar vai estragar tudo. Mas vai ser amanhã, Malu me ajudou a preparar tudo - expliquei, sentindo a empolgação me consumir.
- Certo, depois me ligue para contar como foi - ela deu uma pausa longa demais. - Tem certeza de que esta tudo bem filha? - Insistiu minha mãe.
- Sim mãe. Estamos bem. Tomas e eu. Jane também, falei com sara há uma hora.
Ela respirou fundo do outro lado. Parecia aflita. Eu quase podia ouvir ela andando em círculos na sala de sua casa.
- Ah filha, tenha cuidado. Eu tive um sonho horrível ainda pouco, quando estava tirando um cochilo. E uma sensação ruim me invadiu, é como se meu coração tivesse sendo espremido como uma laranja - ela disse, e sua voz parecia realmente assustada.
Abri a boca para responder que tudo estava bem quando um som chegou até mim. Um estampido alto que ecoou pelas paredes vazias. Foi tão repentino e assustador que larguei o celular e ele quicou no chão. O som foi terrivelmente reconhecível, mas parecia ter vindo do lado de fora, o que não impediu do meu coração bater desenfreado e meus pelos se arrepiarem com uma sensação estranha.
- O que foi isso ? - ouvi a voz dela baixinho vindo do celular no chão.
Recuperei o celular do chão e coloquie no ouvido com as mãos tremulas.
- Você também ouviu ?
- Sim.
- Tomas? - chamei. Sem respostas.
Percebi nesse momento que ele estava demorando mais do que deveria.
- Mãe, vou procurar por Tomas. Está escuro, ele pode ter se perdido.
Desliguei e acendi a lanterna do celular. Quase não lembrei o caminho que fizemos até a área externa. O lugar era enorme.
A cada passo que eu dava um calafrio estranho percorria meu corpo. E Não tinha absolutamente nada haver com a brisa fria. Meu coração começou a bater mais descompassado. Nem mesmo eu entendia o porquê.
Consegui por fim achar a porta de saída certa.
- Meu amor ? - chamei mais uma vez.
Dessa vez meu coração galopou com mais intensidade. Se ele se perdesse eu não saberia encontrá-lo e já estava escuro demais.
O escuro me deixava nervosa depois do que me aconteceu. E eu sentia todos os pelos do meu corpo eriçado.
Encontrei o espelho d'água e do lado de fora estava mais claro. Dei mais alguns passos. Tomas não estava a vista. Mas então...
Tudo ficou ainda mais silencioso. Eu não ouvia o barulho dos carros na rua, nem mesmo o assovio do vento. Não tinha o barulho do mar e nem dos barcos na enseada. Nem mesmo minha respiração eu ouvia. Era como se o universo todo tivesse prendido a respiração diante daquele momento. Daquela cena. Diante do meu marido, estirado no chão. Os braços e pernas abertos, uma mancha vermelho carmesim sobre o tecido da camisa imaculada.
E o meu primeiro pensamento foi que meu Tomas estava morto.
Eu não consegui me mover por um milésimo de segundo. Pisquei várias vezes, como se o que eu estava vendo era uma mera ilusão da minha cabeça. Como se eu pudesse mudar o fato de que era real. Era real.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Agora eu já te conheço
Romance( Livro II ) Depois dos acontecimentos que abalaram suas vidas, Catarina e Tomas conseguiram se casar e ter a vida que sonharam. Eles almejavam paz e tranquilidade, trabalhar e cuidar de sua nova família. Mas Nem tudo é um mar de rosas, a vida n...