Catarina
SEIS SEMANAS SE passaram desde o roubo do projeto. Seis malditas semanas se passaram. E eu já não sabia mais o que significava jantar com meu marido, nem mesmo tê-lo em casa aos finais de semana. E quando ele estava geralmente o telefone não parava de tocar e Tomas passava horas enfurnado dentro do escritório.
Eu me sentia sozinha. Sentia que a casa estava grande demais. Eu estava com raiva dele por me deixar só. Estava com raiva de mim por sentir raiva dele, afinal não era culpa dele. Tomas estava sobrecarregado e eu deveria entender. Deveria apoiá-lo. Mas eu não conseguia deixar de me sentir magoada por não ter mais meu Tomas. Eu tinha somente parte dele.
Os poucos momentos que o trabalho não exigia demais de Tomas, ele estava esgotado. Então geralmente só chegava, tomava banho e dormia. Ele não tinha mais tempo para longas conversas, não tinha mais tempo para ver série comigo. Não tinha mais tempo para passeios no parque ou jantares em restaurantes minúsculos. Não tinha mais tempo para mim. Não tinha mais tempo nem mesmo para Jane.
- Eu vou dar uns bons socos naquela cara bonitinha dele - exclamou Clarissa, furiosa.
Clarissa me deu muito apoio durante essas semanas. Ela me visitou bastante e me fez companhia, além de Sara, Claro. Sempre que não estava trabalhando ou então como namorado ela estava comigo.
Ela também estava bem chateada com o roubo. Ela conhecera Alessandro tão bem como Tomas, que a criou como se fosse da própria família. E ela sabia o que isso significava para Tomas. Mas ainda assim ela estava furiosa.
Clarissa estava jogada no tapete, com as pernas esticadas, um tornozelo sobre o outro.
Era sábado de tarde e ela não tinha que ir para o hospital. Jane brincava com Harry no tapete. Que por sinal viraram uma dupla quase inseparável.
- Não fique brava, não é culpa dele - falei, sem convicção.
- Nem você mesmo acredita nisso Cat - rebateu ela. - Ele sabe o que a ausência causa, ele não podia estar te deixando tanto tempo sozinha.
- Mas é só até isso ser resolvido - argumentei.
Ela balançou a cabeça e inclinou o corpo para frente.
- Você é muito inteligente para cair nessa Catarina. A ausência se torna uma coisa constante, quando vocês perceberem pode ser que os danos sejam irremediáveis - afirmou.
Eu sabia que ela tinha certa razão. Mas eu não queria pressioná-lo. Não queria causar mais um estresse para ele.
- O quê ele poderia fazer se os problemas não param de surgir ?
- Quanto a isso nada. Mas ele poderia pedir que alguém resolvesse para ele. Eu sei que Tomas trabalha com pessoas realmente competentes - disse ela.
- Mas ninguém se dedicaria como ele.
- Você está certa. Talvez não se dedicaria. E eu o entendo. Ele quer cuidar pessoalmente de tudo. Mas só que, ele não pode ficar tão ausente - ela baixou a cabeça e mexeu na barra de sua blusa, puxando uma linha solta.
Eu sabia que ela estava certa. Mas eu acreditava que era só uma fase. Mesmo ficando chateada eu sabia que isso logo acabaria.
- Se isso continuar eu vou conversar com ele - garanti.
- Humm, você sabe minha opinião.
- Sim eu sei. Agradeço por estar aqui comigo - falei.
Ela sorriu e passou os dedos pelos longos cabelos loiro platinado, que parecia ainda mais brilhoso sob a luz do fim da tarde que entrava pela janela.
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Agora eu já te conheço
Romance( Livro II ) Depois dos acontecimentos que abalaram suas vidas, Catarina e Tomas conseguiram se casar e ter a vida que sonharam. Eles almejavam paz e tranquilidade, trabalhar e cuidar de sua nova família. Mas Nem tudo é um mar de rosas, a vida n...