27- Que tal falar sobre o passado ?

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- ACHO QUE VOCÊ deveria - insisti. 

Ele pressionou os lábios.

- Por que você acha isso ?

Me endireitei no sofá, de modo que fiquei de frente para ele.

- Porque isso ainda te afeta. O que aconteceu te fez lembrar dele. Fez você ter sonhos com ele que já não tinha há alguns anos. Porque ele ainda te assombra. Talvez enfrentar isso resolva - sugeri, mesmo me sentindo incerta.

- Enfrentar como ? Eu só preciso me lembrar de que eu sou quem eu escolho ser, ponto - disse, em tom definitivo.

Mas eu sentia, de alguma forma que precisava ter essa conversa.

- Isso também é importante. Mas você não consegue nem falar dele sem ficar nervoso. Eu sei que a dor é grande, mas acho que está na hora de você enfrentar isso de frente.

- E o que você sugere ? - percebi que ele já sabia o que eu queria dizer, mas mesmo assim ele queria que eu falasse.

Talvez até ele mesmo já tivesse pensado nisso. Mas não teve coragem de formular a idéia.

- Você já procurou por ele ? Já tentou ver se ele ainda sequer está vivo ?

- Por que eu faria isso ? - ele rebateu a pergunta.

- Eu não sei.

Ele suspirou.

- Cat, eu só estou deixando o passado para trás. Onde está, no lugar dele.

- Mas não está adiantando. Você tentou ignorar por todos esses anos mas essa sombra sempre volta para te assombrar - argumentei.

Silencio. O único som por alguns momentos foi as vozes vindo da televisão, de algum programa aleatório que assumiu o lugar do filme que estava passando.

- O que você sugere ? - perguntou ele de novo, um pouco mais ríspido.

- Procure por ele. Veja se está vivo ainda. Vá visitá-lo e enfrente o seu passado.

- E o que eu diria para ele ?

- Diga como se sente. Mostre que você virou um grande homem, eu não sei. Perdoe, se for possível.

Ele balançou a cabeça em negativa. Os olhos tão frios e sombrios que congelou meus ossos. Eu nunca queria esse olhar dirigido a mim.

- Não precisa dizer nada agora. Só pense nisso, certo ?

Me inclinei para frente. Dei um beijo rápido em seus lábios e levantei do sofá.

- Você iria comigo ? - Tomas perguntou.

Me virei.

- Sempre - respondi. Sorri, de forma reconfortante.

Subi para o quarto. Fiquei andando em círculos me perguntando se eu fiz a coisa certa. Se isso só pioraria ainda mais o estado dele. Mas algo lá no fundo me dizia que essa era a coisa certa a se fazer. E eu segui meus instintos.

Eu passei anos magoada com muitas pessoas que me fizeram mal. Mas eu ainda lembro da sensação de liberdade quando enfrentei Vicent, em Port Angeles. Quando eu disse tudo o que queria. Eu me senti livre.

Claro que uma situação nem se comparava a outra. Mas ainda assim eu sentia que isso seria bom para Tomas.

Algum tempo depois desci para a cozinha. Peguei um pedaço de torta de pêssego e comecei a comer. Eu estava ansiosa, então um pouco de açúcar iria ajudar.

Eu estava no final da torta quando Tomas parou ao meu lado. O telefone nas mãos e a cabeça baixa.

- Eu pedi para Weller procurar por ele - parei de respirar. - Está vivo. Ainda mora no mesmo lugar.

Agora eu já te conheçoOnde histórias criam vida. Descubra agora