Capítulo 31- Quem de nós dois

90 6 16
                                    


_____Marisa Orth_____

Saio logo após deixar um bilhete, é melhor do que ficar lá e ver aqueles olhos azuis que me olharam com tanto desejo na ultima noite, fiquei olhando até eles pesarem e caírem no sono, se eu visse hoje não teria forças para ir embora sem me perder neles de novo, nós nunca fomos complicados, sempre foi tudo muito claro, sentimento claro, todos viram, todos veem, mas eu me vendo para ignorar, não da pra esconder, eu e ele temos tudo, tudo, nunca fomos amigos, sempre teve sentimentos a mais.

Eu posso vagar pelas minhas lembranças, e ele está lá, não dá para desviar, eu quero sair, mas ele sempre está na minha vida, queria qualquer coisa que me fizesse parar de pensar, eu e ele não existe mais, eu mesma rio dos meus pensamentos, eu estou fugindo mas isso não faz sentido, morar nas lembranças é bom mas revirar isso dói, vou ficar com as coisas boas, já que é isso que importa, no taxi peço para o motorista passar pela orla, o sol acabou de nascer, são pouco mais das 6 da manhã, não é do meu costume acordar esse horário, mas eu entendo ele, esse é o melhor horário para caminhar na praia, para pensar, para escrever, mas esse não é meu forte. 

Combinamos que as coisas voltariam como eram antes, e esse é o combinado, ele vai me incomodar nos ensaios? Quero meu parceiro de volta, quero brincar, quero ele comigo para encarar nosso casal, o Caco vai puxar a minha Magda, vamos ser o motor desse enredo, como sempre fomos. 

Pouco importa o que vão dizer, o que tivemos já passou, passou, meu sorriso eu não preciso mais fingir, agora posso ver ele e sentir, eu espero que volte, eu não tenho saída, o carro para na frente do prédio da mammy acerto e subo, vejo ela acordada tomando uma xícara de chá fumegante, ela me vê entrar e sorri me oferecendo o chá em silêncio, me aproximo e pego uma das xícaras da mesinha deixo a peça de louça apoiada na perna, enquanto a rua preguiçosa com seus poucos carros começa a ganhar vida, ela não questiona, só me faz companhia ela sabe o que eu sinto, e eu ainda não sei, a olho, e ela encara o líquido que com sua fumacinha faz espirais.

-o que eu sinto? -quebro o silêncio, ela só me encara, mas volta o olhar para o chá.

-eu não preciso dizer... você sabe muito bem - diz ela sem me encarar, mas isso só me deixa confusa, ela quer dizer o que com isso, se eu estou perguntando é porque não sei.

-mas... - ela levanta a mão me fazendo parar.

-meu amor, não sei quem de vocês é mais confuso, eu juro, vocês sabem exatamente sobre tudo, você quer que eu diga algo, quer que eu fale o que você quer ouvir, eu sei, eu poderia falar que você está satisfeita... porque a minha certeza é que vocês foram parar na cama, mas não é isso que você quer ouvir, eu tenho certeza...

Fico sem argumentos, me vejo no reflexo da xícara, meus olhos estão cansados pelas poucas horas de sono, depois das nossas percas de controle, ficamos lá, acordados esperando alguma palavra vir para justificar aquilo, mas nada justifica, minha cabeça em seu peito enquanto os dedos dele se perdiam entre meus cabelos suados, a respiração calma, era a calma... é isso que eu sinto, calma, sem borboletas no estomago, ele me traz paz. 

Volto meu olhar para o horizonte, como se visse ele dormindo naquela cama enorme como deixei ele lá, quem diria, nunca foi assim, nosso acordo sempre foi dormir e acordar juntos, sorrir e dar um selinho demorado para firmar a noite anterior, mas hoje eu não tive coragem de ficar, eu fui medrosa.

Eu poderia voltar lá e deitar naquela cama de novo... é tarde de mais, se eu ligar? não, ele já deve ter acordado, ele acorda cedo, acorda e ficava me olhando tirando os fios de cabelo do meu rosto, e fazia carinho até acordar,  eu brigava, rio sozinha, noto um sorriso brotar nos lábios da Aracy, ela sabe o que eu estou pensando. 

As lembranças são meu lugar seguro.

- vou dormir... preciso dormir mais um pouquinho. - digo tomando o chá e me levantando.

Ela estende a mão para tocar meu rosto e abaixo permitindo. - Vai lá, um mulherão desse tamanho com olheiras não vale a pena. - sorri e eu retribuo e saio. 

Vou direto para um banho tirando o que restou da noite anterior, sem ressentimento, é satisfatório, logo me enrolo na toalha e caio na cama do jeito que estou, preguiça de fazer qualquer coisa, já levanto para me vestir, mas não tenho consciência pego no sono.

Não sei quanto tempo passa, escuto um bater na porta, que logo é aberta devagar, mãos delicadas mexem comigo me fazendo despertar.

-Marisa meu amor o sono era tanto que não deu tempo de vestir uma roupa? - rio contra o travesseiro, por minha sorte não me mexi e permaneci com a toalha me cobrindo. - eu tenho um convite para fazer. -dirijo meu olhar sonolento para ela esperando. - Uma pessoa chamou para almoçar...

Nunca terminouOnde histórias criam vida. Descubra agora