Capítulo 18

157 14 34
                                    

_ Marisa's pov_

Estava com os olhos inchados, por mais aconchegante que o colo do meu filho fosse precisava ficar sozinha, mas na solidão do meu quarto me lembrei, quando fiquei sozinha ele apareceu, me acolheu, sempre ele que me dava o colo que tinha o dom de me acalmar, a dádiva de fazer meus olhos ficarem mais secos e meu coração mais leve, mas agora... Ele e o meu motivo, o motivo da minha dor, do gosto amargo da minha garganta, as camisas no meu closet, o sapatênis limpo na lavanderia, o chinelo no meu pé de cama.

Era o motivo dos meus sorrisos durante o dia mas agora é o salgado das lágrimas que inundam o travesseiro que tem seu cheiro, os fios loiros, a camisa florida que ele usava quando íamos tomar café em uma delicadesse, não queria mas ela estava no meu corpo, eu grito de ódio, pedi para o João me deixar só, não sei se ele está na sala, sofrendo ao ouvir cada grito que minha alma ficava farta da dor e minha voz ecoava pelas paredes, ou ele me deixou realmente só, sozinha no apartamento, onde ele me amou em cada cômodo, o corredor presenciou momentos sórdidos, porque... Porque minha mente me faz pensar nisso, pensar agora.

Meus cabelos armados pelo tanto que me debati na cama, a camisa dele com o cheiro que me faz sorrir, mas o sorriso brota nós meus lábios as lágrimas tomam novamente, o grito vem, meu peito fica em cacos cada vez mais pequenos, que eu tento colar, mas quebra e quebra estou sangrando meu coração me corta, eu tento mais e nada, somente os cacos na mão, olha só mais uma peça, até no auge do meu sofrimento ele está na forma mais presente, o caco, o caco do meu coração lembra ele, ele está em cada faceta de mim.

No meu casamento eu sofri, mas não chega a 10% da minha dor agora, não é só um relacionamento, é um amor, uma amizade, uma vida, é tudo, sempre, eu abraço o travesseiro e minhas lágrimas não param, minha dor, A MINHA DOR ESTÁ INSUPORTÁVEL...

A cama grande no centro estou eu com uma camisa floreada nós lençóis brancos que já estão todos desarrumados, abraçada no travesseiro...

A campainha... Eu não aguento levantar, mas a campainha insiste, o João foi, estou sozinha, a campainha não para, não quero atender, não vou, a campainha para, desistência, igual ao Miguel que desistiu de mim.

Passa um tempo, passa, minha barriga ronca, meus olhos seguem para o relógio na cabeceira, já se passa das 8 da noite.

Levanto a passos lentos com a camisa em meu corpo chego na sala me sento no sofá sem acender as luzes a luz da lua entra pelas persianas, e a luz do hall entra por de baixo da porta, mas lá tem algo estranho no chão, me aproximo, acendo a luz vários papéis de folha de caderno rosa.

Abro a porta o João se trancou para fora, quando abro sentado de frente para a porta com o caderno em mãos está o Falabella, meus olhos enchem de lágrimas, tento bater mas ele e rápido e põe o caderno no batente.

- Marisa precisamos conversar.- ele se levantou.

- não, não tem nada pra conversar, volta pra sua...-nojo é o que eu sinto.- Ruiva.

- Marisa me deixa entrar vamos conversar.

- não sai daqui vai em bora AGORA.- Fico escorada na porta, vejo na sombra ele se sentou de novo.

- eu vou falar daqui e você vai ouvir, o caderno que eu tive que bater porta a porta aqui no seu andar pra conseguir está impedido fechar e você está impedindo abrir, se sair eu entro.

- pode falar eu não vou ouvir.- me sento de costas para a porta e tapo os ouvidos.
Só ouço murmúrios, nada mais não o quero aqui, sinto ele se apoiar na porta na sombra aparenta que ele estamos costa a costa ele na luz do hall e eu na escuridão do apartamento.

A curiosidade é mais forte engulo as lágrimas e me permito ouvir.

- eu sei que você não está ouvindo, mas não posso deixar de falar, escrevi tantos bilhetes que quase acabei com o caderno que me deram, te ver com a minha camisa me diz que você ainda me ama, Marisa se permita, me escute eu posso explicar, mas você não está ouvindo, eu vou chegar em casa e pegar todas as suas roupas que tenho e espalha-las pela minha cama para dormir sobre elas, chorar como você estava chorando, porque você não acredita mim, uma imagem vale mais que 1000 palavras? Não seja por isso eu escrevo um livro para que acredite em mim, um box de enciclopédias com casa motivo do meu amor, cada curva do seu corpo, cada sorriso, cada abraço, um spin-off de cada noite tórrida que tivemos, e por último um só com os eu te amo que te disse.

Sinto a porta ficar mais leve ele se desencostou, puxou o caderno.

- está aí pode fechar, eu disse e você não ouviu nada, nem agora, eu vou, eu te amo, e espero que se lembre disso.

Os passos foram se afastando.

A porta fecha e eu fico sentada lá, abraço os joelhos, todas as palavras dele ecoam, já não tenho mais lagrimas para chorar, tudo para.

Depois de longos minutos tento me levantar, mas escorrego em algumas folhas de papel, quase caio mas me apoio no chão e pego aos papeis, amasso todos, e vou jogar fora, já no lixo do escritório, vejo na estante um livro preto com letras azuis, azuis como os olhos dele, ele me persegue em todos os cantos, vou até o livro e pego, atiro no lixo, não o quero aqui, nunca lí essa droga, e nem vou ler, a mensagem que ele deixou na capa dizendo que tinha um conto para mim, eu não vou ler, não quero saber.

Minha barriga chama, fome, só comi uns bolinhos na cafeteria enquanto o Tom incomodava o Lucinho, quero só ver o clima dessa gravação, sem a Mammy pra me dar colo quero nem ver como vou lidar com toda essa pressão.

Preparo uma omelete e uma salada, algo para calar meu estomago, termino e organizo a cozinha, ainda desamparada pela vida sigo corredor a dentro encho a minha banheira de sais, ervas calmantes, uma água escaldante, meu dermatologista se souber disso me esgana, mas preciso, se esse banho não me acalmar ao menos vou estar cozida e temperada, sim uma piada ruim para tentar ver se ao menos um riso brota em meus lábios.

Depois de horas eu percebo a água já fria, tão fria quanto meu coração, mas ao menos com a frieza vem a serenidade, a calma, o azul, olha só minha cabeça me pregando peças de novo, a calma é tão azul quanto os olhos dele.

Chega... saio do banheiro de roupão e vou pegar uma aspirina, chorar tanto da dor de cabeça,  não está na caixinha de remédios que guardo na cozinha, me lembro está no escritório, vou ate lá e vejo o lixo, o livro e os papeis amaçados. No momento que atirei o livro a lixeira virou e os papeis se espalharam pelo chão, me abaixo para pega-los e as letras caligrafadas aparecem em meio aos amassos abro uma "Oi", rio do papel, abro outra "Tô aqui" na minha cabeça solto um AVA e rio de novo "Sei que está aí", hahaha sabia nada eu estava no quarto chorando, continuo abrindo e tem uns dez bilhetes que variam de Oi, Oie, olá, até um que era bordão do sai de baixo "inhai" o bordão da Marcinha, que saudade da minha amiga.

Finalmente um sorriso brota em meus lábios, esse "inhai" me levou exatamente para 1997 a Neide e a Magda, as risadas do púbico, as flores no final, a Marcinha foi uma irmã que Deus me deu, mas ele já tirou ela de mim, aproveitamos o tempo que ficou aqui, e só me restam as lembranças e lembranças lindas.

Vou para a cama, amanhã eu penso melhor em tudo isso.

Nunca terminouOnde histórias criam vida. Descubra agora