Alfonso: Desculpe? — Perguntou, duvidando de si mesmo.
Madison: Eu voto sim. Dependendo de mim, ela não vai se lembrar. — Seguiu.
Dessa vez as vozes pipocaram de novo. Ian teve um acesso de riso no meio do processo, engasgando com a bebida. Alfonso estava atordoado demais pra pedir silencio. Jennifer estava revoltada demais pra sair do lugar. As vozes foram voltando aos poucos ao tom normal.
Kristen: Você ficou louca? — Perguntou, exasperada.
Madison: Usem a cabeça. O que Anahí tem a ganhar se lembrando de quem era? — Perguntou, cruzando as pernas — Ela vai se lembrar de que foi estuprada quando criança. Por anos depois disso. Vai se lembrar que a mãe foi negligente. Vai se lembrar que quase morreu de bulimia. Vai lembrar da loucura que foi o casamento dos dois. Vai se lembrar da dor de ter perdido o pai, principalmente da forma como perdeu. — Explanou.
Ian: Seu ponto é...
Madison: Meu ponto é que ela não tem lembrança feliz alguma. A única coisa que a trazia alegria, esperança, era Nathaniel, e ela perdeu a gestação e os três primeiros anos da vida dele. A vida de Anahí foi uma desgraça. — Disse, obvia. Christopher ouvia, considerando.
Jennifer: E entregá-la a Alfonso é o modo de transformar a desgraça em um arco-íris? — Perguntou, desesperada. A opinião do grupo estava mudando, ela podia sentir. Isso simplesmente não podia acontecer.
Madison: Todos temos motivos pra duvidar de Alfonso. Por um tempo eu cheguei a acreditar que ele tinha problemas mentais. — Disse, sem encarar o cunhado, franzindo o cenho. Alfonso esperava, quieto — Mas eu vi a dedicação com a qual ele cuidou de Nathaniel. Eu o ouvia, nos primeiros meses, acordado a noite inteira, cuidando do menino. Ele mudou a vida dele toda por esse filho, é quase irreconhecível. Você sabe disso também, Kris. — Kristen assentiu, pensativa.
Kristen: ...Se ele cuidar de Anahí com 1/3 da devoção que aplicou ao cuidar de Nate... — Ela pensou, quieta — Meu voto é sim. — Alfonso pestanejou de novo, surpreso.
Jennifer: Quem garante? — O desespero na voz dela já era aparente.
Alfonso: Eu garanto. — Disse, imediatamente — Eu a quero. E não pra machucá-la ou pra me vingar, dessa vez.
Jennifer: Prove. — Cuspiu de volta.
Kristen: Jennifer, vamos por um segundo fingir que você está pensando em Anahí, e não no fato de que Alfonso escolheu ela ao invés de você. — Cortou o bate boca, sem nem olhar a outra. Jennifer passou a mão no cabelo, exasperada.
Madison: A Anahí que está no hospital não tem traumas. Ela dorme tranqüila a noite, sem remédio algum. Mesmo que ela não se lembre, eu sou amiga dela, e é como amiga que eu quero que ela tenha uma chance de ser feliz. Sem toda aquela carga nas costas. Ela merece poder recomeçar. — Disse, decidida — Eu não sei vocês, mas meu voto é sim.
Kristen: O meu também. Eu quero que ela tenha a chance de criar o filho dela em uma família. — Disse, balançando a cabeça — Rob?
Robert: Sim. — Alfonso estava pregado no chão. Nem acreditava. — Por mim, ela não vai se lembrar.
Rebekah: Sim. — Os outros olharam pra ela, que assentiu, pensativa — Eu devo isso a ela.
Ian: Se você diz que seu objetivo é cuidar dela... — Disse, olhando Alfonso, que assentiu — Sim.
Christopher: Sim. — Votou, encarando a esposa, e Madison sorriu em aprovação, se inclinando e beijando-o. Faltava Jennifer.
Jennifer: Não! — Disse, vendo todos olhando pra ela.
Alfonso: Nós precisamos de unanimidade nisso, Jennifer. Depois do que você fez a Nathaniel, se quer meu perdão, não é o momento de me negar algo! — Disse, quase fora de si. Todos haviam concordado. Jennifer não ia estragar isso, não agora que ele chegara tão perto. Surpreendentemente, Rebekah se levantou, se virando pra prima.
Rebekah: Nós fomos criadas tendo toda a proteção e carinho possíveis. — Disse, os cabelos loiros emoldurando o rosto. Usava uma camiseta branca, longa, indo até o inicio das coxas, uma jeans escura e salto alto. — Nossa infância foi feliz. Alfonso pode não entender como Ian não entende, ou Christopher, ou Rob, mas você é mulher. Você sabe o que significa. Você não pode querer que ela se lembra de ter sido violentada quando criança, abusada por anos, só porque Alfonso preferiu ela. — Interferiu, dura. Jennifer respirou fundo, exasperada. Ian apertou a mão de Rebekah em aprovação. - É cruel demais, não é o que nós somos, Jennifer.
Jennifer: Está bem! — Alfonso suspirou, aliviado — Está bem, que seja! Mas quem garante que ele não vai se ressentir de novo ao ter ela aqui? — Jogou, tentando mudar a mente dos outros.
Madison: Ele não tem pelo que se ressentir. Essa Anahí nunca o rejeitou. — Disse, tranqüila. Alfonso fechou a cara, mas não disse nada.
Robert: E a primeira prova disso você vai precisar dar, Alfonso. — Alfonso parou de atravessar Madison — Porque alguém vai precisar contar a Nate que a mãe dele acordou, e não sabe que tem um filho. Vai precisar desiludir ele de que ela o está esperando com os braços abertos. — A alegria de Alfonso se esvaiu como um balão sendo esvaziado — E esse alguém é você.
Ian: Nosso voto é "sim", mas você vai precisar provar que não estamos errados, e a prova é fazer o menino entender a condição atual sem odiar Anahí. Ela não escolheu esquecê-lo. — Disse, sério — Nós vamos fazer todo o possível, desviar dela tudo o que possa fazê-la se lembrar, protegê-la das próprias lembranças, porque você pediu. Mas se seu objetivo é construir uma família, você vai precisar provar, e a prova é reintegrar Nathaniel e Anahí como mãe e filho, nas condições em que estamos.
Alfonso: Posso fazer isso. — Disse, seguro — Ela vai amá-lo com o tempo. Ele já a ama. Vai funcionar. — Garantiu, e ninguém disse mais nada.
Jennifer podia não gostar, mas era minoria vencida. Alfonso dizia que ia conseguir, e os outros resolveram ajudar, por mais tortuoso e difícil que fosse, mas os riscos eram grandes... E era bom ele estar certo. As apostas estavam todas nisso.
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Enquanto Você Dormia (Efeito Borboleta - Livro 2)
FanficTRAILER OFICIAL: https://youtu.be/Um7zO-MwLKw Quando você é enganado, traído e machucado a certo ponto, só existem duas opções: Esquecer e perdoar, ou esperar o momento e a hora certa de se vingar. Essa não é uma história sobre perdão. "O bater das...