Já faziam horas que eu tinha chegado a casa de Joel, inclusive já passava das 22:00, mas apesar do horário, a situação não tinha melhorado muito. Vez ou outra, Ethan e eu saíamos do porão e íamos ao primeiro andar para ver como as coisas estavam indo e encontrávamos sempre a mesma cena: Os zumbis na rua batendo em todos os vidros de carros que não conseguiram fugir e Joel, o pai de Ethan, sentado em uma das poltronas da sala completamente imóvel, apenas observando pela janela.
Na décima quinta vez que subimos para ver o que estava acontecendo lá fora -e para ver se Joel estava bem- acabei me deparando com uma das cenas mais horríveis que já tinha visto na minha vida e não tive forças para subir mais.
- Alice? - Pude ouvir a voz de Ethan me chamar, mas não sai de baixo das cobertas, apenas esperei para ouvir o que ele tinha a dizer, mas ao receber silêncio como resposta, percebi que ele estava esperando alguma confirmação minha para continuar a falar. - Oi. - Respondi e tirei o cobertor molhado de lágrimas do rosto, para encará-lo.
- Quer conversar sobre o que aconteceu lá fora? - Ethan se aproximou com passos calmos e se sentou na beirada da cama de casal em que eu me encontrava.
- É um Apocalipse zumbi. - Eu disse enfurecida, após alguns segundos juntando forças para conseguir falar sem gaguejar. - É um Apocalipse zumbi, Ethan, e mesmo com tudo que está acontecendo às pessoas não conseguem ter empatia. Aquele homem atirou no outro só pra conseguir a comida que ele tinha. Simples assim. Ele atirou em um homem e depois roubou as coisas dele como se aquele homem não fosse nada.
- O mundo já era assim antes. - Começou Ethan, soltando um pigarreio de desconforto em seguida. - Tínhamos mais recursos e motivos para ajudar e não ajudávamos, e se não ajudávamos quando tínhamos algo, como podemos esperar que alguém arrisque a própria vida ou pense no outro agora que não temos quase nada?
- Eu sei que é pedir de mais que todos se arrisquem por todo mundo, eu só...só não... Esquece, eu não sei o que dizer.
- O mundo não era totalmente ruim e não vai se tornar agora também. Eu ajudei você, você tentou ajudar o senhor Hemish... existem pessoas que se importam, Alice, e é nisso que temos que pensar.[ ... ]
(Três semanas após o começo do Apocalipse)
- Tá legal, qual é o plano? - Perguntei me aproximando de Joel no quintal dos fundos com as mãos na cintura e um olhar insistente.
- Eu não disse para não sair desarmada? Aliás, nem uma arma você sabe usar ainda. - Brigou Joel, obviamente estressado com a minha irresponsabilidade, mas na verdade era ele quem estava no quintal molhando as plantas.
- É disso que se trata, senhor O'Connel. Você disse que ia me ensinar a sobreviver. - Lembrei. - Como quer brigar comigo por eu não saber usar uma arma se você não me ensina a usar uma.
- Você disse que poderia aprender sozinha, esperava que tivesse aprendido.
- Pode parar de debochar, por favor? É sério, Joel. - Disse o primeiro nome dele apenas para demonstrar que estava irritada.
Os dias estavam muito longos e a minha rotina muito vazia, jogar uno, dominó e adedanha eram as únicas coisas que eu fazia, e isso já estava me dando nos nervos. Não que fossem coisas chatas, mas estávamos em um Apocalipse zumbi! Eu queria aprender a me defender para continuar viva e não ganhar no uno todas as vezes que eu e o Ethan jogávamos.
- Por favor, senhor O'Connel, eu não quero morrer. Eu preciso aprender a me virar. - Esse argumento pareceu funcionar, já que Joel deu um aceno positivo com a cabeça e me mandou -meio contra gosto- ir atrás do Ethan.
Eu o encontrei no segundo andar da casa, no quarto dele, lendo uma revista em quadrinhos dos Vingadores . Ele rapidamente notou minha animação e sorriu para mim apesar de uma careta confusa estar dançando em seu rosto.
- Qual o motivo desse sorriso bonito?
- Seu pai aceitou me treinar. - Respondi alargando ainda mais meu sorriso. Ethan sorriu de volta, mas dessa vez foi tão forçado que eu via o momento em que aquele sorriso viraria de cabeça para baixo e formaria uma carinha triste. - Ele me pediu para chamar você.
- Tá legal. - Ele respondeu baixo, pegando sua HQ e logo seguindo para o porão comigo.
Quando chegamos lá o tatame que eles treinavam -e onde Joel estava dormindo desde que eu cheguei-, estava sem nenhum travesseiro ou cobertor em cima, e Joel nos esperava em pé com uma sobrancelha erguida. Essa era a cara pensativa dele e eu estava começando a pegar aquele costume também.
- Antes de começarmos eu vou dizer algumas regras e dar algumas explicações.
"Regra número 1: Você deve analisar bem o seu alvo antes de começar a lutar, não pode atacar uma pessoa só porque ela olhou para você. Se fizer isso, pode acabar machucando alguém inocente. Regra número 2: Na luta para sobrevivência não existe regras além da número 1, ou seja, tudo é válido, desde puxões de cabelo até o famoso dedinho no olho, inclusive o Ethan gosta bastante desse, então tem que tomar cuidado para não ficar cega."
- E por que eu ficaria cega?
- Eu vou te ensinar os movimentos certos, mas é com o Ethan que você vai lutar. - Explicou e eu não soube dizer se ficava aliviada ou não.
Uma vez eu vi Ethan quebrar a cara do Arthur Phillips porque ele tinha empurrado uma das meninas do orfanato e chamado ela de idiota. A briga foi tão feia que acabaram até chamado a polícia para apartar e Arthur ficou tão traumatizado que seus pais se mudaram de cidade com medo de que algo acontecesse de novo.
- Mais alguma regra? - Perguntei ignorando o pensamento sobre Ethan.
- É mais uma dica do que uma regra, na verdade. - Disse Joel, pensando consigo mesmo. - Você vai dar de cara com homens e mulheres muito mais fortes que você e até mais habilidosos, mas não importa quem eles sejam ou do que sejam capazes de fazer, em momentos assim você só tem que se concentrar em uma coisa: em usar sua inteligência. Saber a melhor hora de atacar é essencial para não perder uma briga, e saber onde atacar é mais ainda. Agora nós vamos começar com o básico da autodefesa e vamos subindo os degraus aos poucos. Quando estiver pronta, você e o Ethan vão lutar.
- Certo. - Eu concordei, começando a não me sentir muito segura daquilo.
A aula do Joel foi melhor do que eu imaginava, porque apesar da cara séria dele e o jeito de durão, ele era muito paciente explicando e um ótimo professor. Ficamos umas boas horas treinando porque eu não queria parar. Estava me divertindo tanto com a aula que nem ao menos me senti cansada.
- Tá, agora já chega. Ethan, relatório do treino. - Joel pediu, soltando um suspiro cansado e limpando o suor da testa em seguida.
- Você é bem rápida, mas não é muito forte. Tem um ótimo reflexo, mas não tem um bom equilíbrio. Por outro lado, você aprende bem rápido e tem uma bateria enorme, fez até meu pai suar. - Ethan deixou o seu orgulho transparecer ao falar a última coisa.
- Então temos mais pontos positivos que negativos? - Perguntei sorridente.
- Muito mais. - Ethan assentiu com um sorriso de orelha a orelha.
- Mas não se anima não, nós ainda temos muito trabalho pela frente. - Joel deu um leve tapa atrás do meu pescoço e então foi em direção ao guarda roupa apenas para pegar uma muda de roupa para tomar banho. Ethan e eu ficamos ali mais um tempo falando sobre o primeiro treino e logo depois eu fui me limpar também..
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.Sim, eu sei que o capítulo está minúsculo, mas eu sinceramente não queria acrescentar mais nada nele e sim esperar o outro pra poder escrever algo menos parado ou sei lá. Enfim, espero que tenham gostado e se gostaram deixem seu voto e comentem, pq eu amo ler os comentários
Um bom começo de semana pra vocês.
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𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.
Fanfiction𝙰𝚕𝚒𝚌𝚎 𝚗𝚞𝚗𝚌𝚊 𝚒𝚖𝚊𝚐𝚒𝚗𝚘𝚞 𝚚𝚞𝚎 𝚞𝚖 𝚍𝚒𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛𝚒𝚊 𝚊𝚗𝚍𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚙𝚘𝚛 𝚊𝚒 𝚙𝚊𝚛𝚎𝚌𝚎𝚗𝚍𝚘 𝚞𝚖 𝚊𝚛𝚜𝚎𝚗𝚊𝚕 𝚊𝚖𝚋𝚞𝚕𝚊𝚗𝚝𝚎, 𝚖𝚊𝚜 𝚎𝚖 𝚞𝚖 𝚖𝚞𝚗𝚍𝚘 𝚍𝚘𝚖𝚒𝚗𝚊𝚍𝚘 𝚙𝚘𝚛 𝚣𝚞𝚖𝚋𝚒𝚜 𝚎...