4. A descoberta.

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(Algumas horas após o incidente no hospital).

Alice não sabia mais quanto tempo ia ter que esperar pela sua morte.

Estava sentada no chão do quarto onde sua mãe adotiva costumava estar já faziam horas, mas nada nela tinha mudado.

Talvez fosse porque não sentia dor, nem frio e nem calor que não estava percebendo o quanto estava doente, e era uma coisa boa, parando para pensar. Mas mesmo não sofrendo com a tortura física, Alice não estava totalmente livre de dores, não quando sua mente não parava de imaginar como teria sido se ela não fosse tão impulsiva.

Ela tinha sacrificado tudo para encontrar seus pais. Primeiro a oportunidade de sobreviver a tudo isso perto das suas irmãs do orfanato -a qual abandonara lá no início- e agora a sua vida feliz com os O'Connel.

Alice ia morrer sozinha e isso não era nem a pior parte. A pior parte era que ela morreria sem poder se despedir de Joel e Ethan, e sem poder pedir desculpas e dizer que se arrependia de ter feito eles se arriscarem tanto por um corpo que no fim nem estava lá. E isso dava sim, esperança de que sua família adotiva talvez tivesse sobrevivido, Alice só não conseguia parar de chorar ao pensar que caso eles estivessem vivos, ela jamais os veria.

Pelo menos ela tinha quase certeza que Ethan e Joel não tinham morrido naquele hospital infestado de zumbis por culpa dela, pois quando estava deitada no topo da escada, suja com o sangue e os órgãos de um enorme zumbi que tinha esfaqueado e depois matado, ela pôde ouvir Joel chamando o filho para ir embora. E mesmo que parte dela tenha ficado triste por ter sido deixada para trás, ela entendia o porquê e sabia que não havia outra opção, afinal mesmo que eles tivesse conseguido encontrá-la e levá-la para casa, ela ainda iria morrer pois tinha sido mordida. E Alice não queria nem imaginar como os dois sofreriam ao vê-la morrendo.

Não queria imaginar o quanto eles deveriam estar sofrendo naquele momento.

E tudo isso porque ela não conseguiu aceitar que talvez seus pais adotivos não tivessem sobrevivido.

Ela não queria perder quem amava, mas no fim foi exatamente esse medo que a fez perder tudo que tinha.

- Talvez eu devesse atirar na minha cabeça agora. - Alice olhou para a cama de hospital vazia que antes pertencia a sua mãe, como se ela estivesse sentada lá ao seu lado. - Você acha que deveria, mamãe? Eu não quero atirar, mas não quero correr o risco de virar zumbi e você, ou o papai, ou as meninas do orfanato, ou o Joel e o Ethan acabarem me encontrando. E se eu for a causa da morte de um de vocês? Não, não. Eu vou atirar. Eu amo todos vocês, me desculpem por eu ter sido tão inconsequente. Eu sinto muito.

Abriu a mochila com pesar e pegou a arma lá dentro, olhou se tinha munição e destravou.

Alice desejou fortemente que a imagem de sua mãe que tinha acabado de aparecer na cama lhe dissesse para parar, mas ela não disse nada, apenas ficou ali parada sorrindo.

- Eu não consigo com você olhando. - Disse ela e virou o rosto para outro canto do quarto, mas deu de cara com todos que amava. - Com nenhum de vocês olhando. Por favor, fechem os olhos.

Mas eles não fecharam. Negaram com a cabeça e pegaram armas que antes nem existiam em seus coldres e sorriram para ela com os olhos cheios de lágrimas.

- Fechem os olhos ou eu não vou conseguir. - Repetiu Alice, temendo por não entender o porquê deles terem pegado suas armas.

Talvez quisessem atirar nela. Talvez eles a culpassem por tudo.

- Vamos ir todos juntos, Alice. - Disse Helena, para a surpresa e medo da garota.

O ar faltou nos pulmões de Alice quando ela viu Helena e todos os outros a quem tanto amava apontarem as armas para a própria cabeça, assim como ela planejava fazer.

- Vai ficar tudo bem, Alice. Você consegue! - Ethan a encorajou com aquele sorriso acolhedor como sempre fazia.

Mas como Alice conseguiria fazer isso com ela mesma se todos que ela amavam estavam bem ali na sua frente?

Alice não conseguiu atirar. O desespero pesou mais fortemente em seu peito e ela quis gritar, mas tudo que saiu foi uma tosse engasgada que acabou com todo resto de ar que existia em seus pulmões.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora