𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.

35. O urso, os sapos e a cobra.

Estou com a faca acima da minha cabeça. Tento movê-la para baixo, me imaginando fazendo isso, mas não me mexo. Não consigo me mexer.

Vamos, Alice. Só um golpe. Só um golpe e tudo acaba. Tento convencer meu corpo a agir.

- Não faça isso, cenourinha. – Vejo a figura da minha mãe implorar. Sei que ela é uma mentira, mas não consigo segurar as lágrimas quando a vejo parada ao meu lado.

É tão real que posso sentir a palma de sua mão em minha bochecha, mas sei que é mentira porque ela ainda está vestida do jeito que estava quando a vi pela última vez.

- Eu sei que Negan pode ser complicado, mas eu o amo e sei que ele pode mudar. - Diz Lucy, acariciando minha bochecha e limpando minhas lágrimas.

- Ele não pode. - Tento ser firme. - Preciso matá-lo.

- Cenourinha, por favor...

Sei o que é preciso, sei que devo cravar a faca no peito de Negan e destuí-lo de uma vez, mas como posso dizer não para a minha mãe?

Preciso ser forte. Preciso ser forte.

- Se visse quem ele se tornou, não tentaria me impedir. – Digo encarando o rosto bonito e choroso da minha mãe.  – Eu perdi o Joel porque eu não conseguia deixar você partir, não posso perder meu grupo também. Eu te amo, mamãe, mas você já morreu. Não tem nada que eu possa fazer para te salvar e nada que eu possa fazer pelo seu marido também, porque ele morreu no dia em que perdeu você.

Alguém na porta.

Em um segundo, me jogo no sofá e escondo a faca debaixo da minha barriga. Alguém tinha acabado de girar a maçaneta e estava entrando. Sorte que consegui perceber antes que a pessoa entrasse, ou eu estaria com a sentença dada.

Fico alerta quando sinto a pessoa se aproximar, mas não me exalto, apenas continuo respirado profundamente e finjo estar dormindo.

- Meu pai estava errado. Talvez você não seja tão esperta assim. – Diz a voz de Ethan e sinto ele puxar a faca de debaixo da minha barriga. – Durma e talvez eu não conte o que você tentou fazer.

O que?

Quero confrontar Ethan, perguntar porque ele está me impedindo, mas me limito a ficar parada, esperando ele sair para terminar meu trabalho.

Ethan não sai. Ao invés disso, se senta numa poltrona e fica encarando. Eu poderia continuar me fazendo de louca e permanecer aqui deitada, mas resolvo me sentar e enfrentá-lo.

- O que você está fazendo aqui?

- Veja só! Acordou! - Ethan tira sarro, então fica com cara de tédio novamente. - O que você acha?

- Você é o guarda-costas dele agora? Para o homem que uma hora dessas estava me perguntando o porquê eu não queria matar o Negan, você parece bem preocupado com ele agora. – Retruco.

- Talvez não seja mais inteligente o bastante para fazer o simples raciocínio, então vou esclarecer: Negan pode ser lelé, mas sem ele, as coisas aqui vão parar em uma terceira guerra mundial. E eu não estava te dando ideia de matá-lo, estava te julgando por não conseguir.

- Não existe só o jeito do Negan. Um líder melhor pode assumir as coisas e mudar tudo.

- Quem? Você? – Ethan ri. – Ah, desculpe, você quer dizer o Rick? Claro, o cara que não conseguiu nem proteger o próprio colega de ser esmaga...

Lanço a faca escondida no meu punho em sua direção. Ela passo assobiando por seu ouvido. Não tenho intenção de machucá-lo, apenas de passar uma mensagem: "Continue falando e a próxima será no seu olho."
 
- Eu não sabia que você tinha outra faca. – Diz ele, fingindo não ter levado susto. - Eu deveria ter imaginado.
 
- Seu pai te odiaria. – Minha declaração "repentina" faz com que Ethan se levante da poltrona como um urso em minha direção.