11. A perda.

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Já tinham se passado algumas horas desde o ocorrido, mas Eugene não tinha acordado ainda e Abraham nem mesmo tinha ameaçado sair do chão, continuava de joelhos olhando para frente. Eu não o "culpava" tanto quanto os outros por estar agindo daquele jeito, porque entendia o que ele estava sentindo. Ele estava sofrendo porque tinha acabado de perceber que o propósito de sua existência tinha sido uma mentira.

Glenn, Rosita e Tara tinham saído para buscarem água e comida, mas Maggie ainda estava aqui. Vez ou outra ela se aproximava de Eugene para checar se ele estava vivo. Nessas vezes, ela passava e olhava para mim, mas nunca dizia nada, provavelmente com medo de não saber o que dizer para me consolar.

Enquanto isso, eu me odiava por tudo que tinha contado ao Eugene, achando que ele era um homem bom e que poderia me ajudar a me redimir com Joel. Eu sabia que no fundo eu tinha mais raiva de mim mesma do que de Eugene, mas não conseguia simplesmente calar os pensamentos ruins que preenchiam minha mente.

Só preciso matar ele e ai ele não vai poder contar a ninguém. O pensamento apareceu novamente e outra vez eu tremi por saber que ele era genuinamente meu.

Eu não vou matar ninguém. Respondi pela quarta vez. Precisava continuar repetindo aquilo se eu não quisesse sair de onde eu estava e ir até Eugene apunhala-lo no peito. Mas eu não estava repetindo essas palavras porque presava muito pela vida de Eugene naquele momento, e sim porque eu não queria que ninguém do grupo me visse um monstro. Mas eu sou um monstro.

Só que eu não quero ser. Retruquei, mas não foi o suficiente pra calar os desejos ruins.

Se eu estivesse mesmo com raiva eu poderia matá-lo. Admiti horrivelmente. Eugene não estaria entre a vida ou a morte, ele estaria morto. Eu o mataria sem hesitar, sem nem ao menos notar o que estaria fazendo.

Eu queria estar com raiva.

Não deseje isso. Repreendi, sabendo o quanto eu odiava perder o controle e ser cruel. Era irônico que eu estivesse desejando ser capaz de fazer o que mais odiava só por estar magoada. Traída. Corrigi. Eugene me traiu. Eu confiei nele e ele continuou mentindo na minha cara como se o que eu contei não tivesse significado nada.

Bem, para ele não significou.

- Alice, você está bem? - Maggie me perguntou finalmente, depois de checar se Eugene ainda estava vivo pela décima vez.

- Com certeza não. - Respondi sem hesitar. - E você?

- Eu vou superar. - Se sentando no chão perto de mim. - Não é como se eu não estivesse vivendo antes de saber sobre a cura. Só é uma pena, sabe? Achei que as coisas poderiam mudar.

- É, eu também. - Murmurei cansada.

- Posso te fazer uma pergunta? Por que ficou com tanta raiva do Eugene?

- Não é óbvio?

- Na verdade sim, mas ninguém além do Abraham ficou tão abalado desse jeito. - Respondeu Maggie cuidadosamente. - Então imaginei que você tivesse um motivo melhor do que o resto de nós.

Não vou contar pra ela. Decidi. Já é ruim o suficiente que o Eugene saiba.

- Por que ele traiu a gente, Maggie. - Respondi o que era mais óbvio. - Confiamos nossa esperança a ele e mesmo assim ele continuou mentindo. E mesmo que ele viva depois dessa surra que levou, eu não vou cuidar dele ou protegê-lo dos mortos. E você também não deveria se esforçar tanto por ele.

- Eu também estou decepcionada, mas acho que não posso culpá-lo, sabe? - Disse Maggie. Não, eu não entendo. - O Eugene não é um bom sobrevivente, mas conseguiu ficar vivo porque mentiu. Não é o que todos queremos? Sobreviver mais um dia?

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora