7. A escolha.

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Assim que chegamos na cabana onde Tyreese e Judith se encontravam, vi Rick e Carl correrem em direção à menina e não foi difícil compreender que eram uma família.

Fiquei muito feliz em ver todo o grupo sorrindo para a criança, e não consegui deixar de sorrir também. Eu sempre gostei de crianças, mas ainda estava meio surpresa por Judith estar bem ali. Não era sempre que se via uma criança viva num mundo desses.

Ficamos pouco tempo ali. Seguimos o caminho dos trilhos e paramos depois de uma bela caminhada para longe do Terminus.

- Eu queria te agradecer. - Disse Rick se aproximando de mim com a pequena Judith nos braços após um longo tempo conversando com Tyreese. - Nós mal nos conhecemos e você já nos salvou duas vezes. Obrigado.

Meus olhos caíram sobre o rosto de Judith e eu sorri por debaixo da máscara preta e ligeiramente suja no meu rosto.

Preciso urgentemente de um pacote de descartáveis.

- Não precisa agradecer. Eu fico feliz que esteja com a sua família outra vez.

- É. - Rick sorriu e deu um olhar significativo para Judith em seu colo e depois para todos os membros do seu grupo.

Ele também considera eles família. Admirei.

- Tudo graças a você e a Carol. Eu devo tudo a vocês duas.

- Não precisa disso tudo, se eu não tivesse aparecido a Carol teria dado conta. - Respondi, me sentindo envergonhada com tanta gratidão.

- Eu agradeço mesmo assim. - Rick sorriu outra vez. - Você já comeu? Acho que o Daryl já foi para floresta caçar. Eu posso apresentar você aos outros enquanto ele não volta.

- Na verdade, eu estava pensando em pegar a estrada logo. - Falei, ajeitando de leve a mochila nas minhas costas.

Rick pareceu surpreso com a minha resposta.

- Você não vai ficar?

- Não. - Respondi, meio confusa. Ele achava que eu ia ficar?

- Para onde você vai? - Rick quis saber. - Você tem família por aí? Está procurando alguém?

- Para onde os meus pés me levarem. - Disse simplesmente. Não estava com vontade de falar sobre Ethan e desenterrar o passado com um estranho, mesmo que fosse um estranho conhecido.

- Não parece um plano muito bom sair por aí sozinha. Você viu o que acabou de acontecer no Terminus. As pessoas estão perigosas de mais.

- E eu mais que qualquer uma sei disso. Sou uma adolescente e mulher num mundo de pessoas ruins, acha que eu já não vi te tudo? Eu sou boa sobrevivendo sozinha, Rick. É melhor para todo mundo se eu continuar assim. - De repente, eu já estava falando mal de mim mesma para Rick.

- O que quer dizer?

- Eu não sou uma pessoa boa, Rick. Aquilo que eu fiz com aqueles homens que ameaçaram você e seu grupo na floresta, eu ajudar vocês no Terminus... Aquilo foi bom, mas eu não sou boa, entende? Eu sou ruim para se ter por perto.

Cale a boca, Alice. Ele não precisa saber.

- Todos nós já fizemos alguma coisa. - Disse Rick, olhando no fundo da minha alma.

Sua declaração me deixou em choque por um breve segundo.

- Talvez tenha razão. - Engoli a saliva com força. - Mas se soubesse o que eu já fiz, não sei se você aguentaria olhar pra mim.

- Talvez você também não suportasse olhar para mim se soubesse o quanto eu também já fiz. - Disse Rick, trocando Judith de braço. - Mas eu não ligo para o que você fez, porque eu vi você sair do meio das árvores e matar um grupo de homens que você não conhecia por outro grupo que você também não conhecia. Você entrou num covil de canibais, passou pelo fogo, pelos zumbis e pelas pessoas tentando atirar em você por um grupo ainda maior de pessoas que você não conhecia. É isso que eu valorizo, Alice. Não os seus erros, mas o que você fez pela gente. Eu não sei se no seu lugar eu teria arriscado a minha família por algum estranho.

- Isso é porque eu não tenho família. - Abri um sorriso quase divertido. Fazer piadas com o meu sofrimento tinha se tornado meu maior passatempo.

- Mas pode ter uma a partir de hoje, se quiser. Claro, existem riscos, mas é melhor do que ficar sozinho. A escolha é sua.

- Antes você tem que saber quem você está aceitando no seu grupo.

- Certo, você tem razão. Quantos zumbis você já matou?

- O quê? - Sua pergunta repentina me deixou confusa. - Muitos.

- Quantas pessoas você já matou?

Minta.

- Mais pessoas do que eu gostaria.

- E por quê?

- Porque elas teriam feito o mesmo ou pior. Eu fiz o que precisava para evitar que eu ou alguém inocente sofresse.

- Parece um bom motivo para mim. Você pode ficar.

- Tudo bem, mas só para informar, eu tenho pesadelos e as vezes acordo gritando. Eu também tenho problemas em controlar minha raiva. - Admiti, me sentindo envergonhada em dizer isso. - Eu não quero dizer que me irrito atoa, é claro, só quero dizer que quando eu estou com raiva eu não sei o que eu faço, eu nem me lembro as vezes. Eu também sou muito impulsiva, eu posso tomar uma decisão errada e... então estragar...estragar tudo.

- Eu já disse, Alice, você é bem-vinda aqui. - Rick colocou a mão no meu ombro numa forma de me acalmar. - Quer conhecer o pessoal?

- Quero. - Respondi de imediato.

Eu estava feliz de ver pessoas aparentemente boas depois de lidar com tantos malucos.

- Primeiro de tudo, essa aqui é a Judith. - Rick balançou a garotinha de leve em seus braços e então inclinou ela um pouco para mim. - Quer segurar ela?

- Eu posso? - Perguntei animada.

- É claro.

Rick não hesitou em colocar a menina nos meus braços.

- Você é tão linda. - Falei, enquanto observava o rosto da bebezinha e segurava ela com as duas mãos.

Não podia correr o risco de derrubar a criança no meu primeiro dia com um grupo novo.

Judith pareceu gostar de mim e ficou muito entretida com a cor do meu cabelo.

- Parece que ela gostou de você. - Ouvi uma voz jovial ao meu lado e me virei para ela, já sabendo que era Carl.

- Acho que ela gostou foi do cabelo. - Eu disse, mas ri ao sentir as mãos gorduchinhas esfregando as mecha pela minha testa. - É, Judith, a tia Alice não sabe cortar o cabelo. Mas eu vou te ensinar outras coisas legais depois, tá bom, meu amor?

- Você parece gostar de crianças. - Disse Carl, sorrindo ao me ver aguentar Judith puxar algumas mecha do meu cabelo e tentar enfiar na boca.

- Eu cresci num orfanato. Acho que ver crianças de novo me faz lembrar de como era.

- Sinto muito. - Disse Carl, mas não entendi se ele tinha dito aquilo porque eu era órfã ou porque eu tinha saudades da vida antes.

- Está tudo bem. Rick, será que pode me apresentar os outros agora? Eu quero tirar um cochilo daqui a pouco. Faz dois dias que eu não durmo.

- Se quiser pode ir dormir agora e falamos com os outros depois.

- Não, eu prefiro falar logo.

- Eu posso te apresentar todo mundo. - Carl propôs de repente.

- Pode ser também. Judith, quer ir com o papai? - Perguntei e nem precisei de palavras, porque a menina se jogou para o colo de Rick. - Ingrata. Não deixo mais você comer meu cabelo.

Minha brincadeira arrancou uma risada de Rick e Carl, e eu me senti estranha por ouvir risos outra vez.

É bom. Admiti para mim mesma. É como ser feliz outra vez.

- Vou te apresentar a Maggie e o Glenn primeiro. - Disse Carl, fazendo sinal com a mão para que eu o seguisse.

Ele me guiou até uma moça de cabelos castanhos e curtos e olhos verdes, e um homem asiático. Mas tinham três outras pessoas ao redor deles, um eu sabia que se chamava Tyreese, mas a moça negra de cabelo preso num coque e o outro homem negro, porém mais magro e usando uma blusa de cor laranja, eu não conhecia ainda.

- Esses são a Maggie e o Glenn, eles são um casal. Sasha e Tyreese que são irmãos e Bob...

- Namorado da Sasha. - Disse Bob e Sasha sorriu boba para ele. - Daryl falou sobre você. É Alice, não é?

Aceitei a mão que ele me oferecia de bom grado.

- Alice Le'Roux. - Eu tentei sorrir com os olhos e usar uma voz mais doce para demonstrar que estava tentando ser gentil.

Era difícil demonstrar muitas emoções quando metade do seu rosto estava escondido.

- Que nome diferente.

- É francês. - Dei de ombros. - Mas não é meu nome de verdade, eu que inventei.

- Como num jogo de zumbis, só que é um jogo real. - Disse Bob, e eu ri com o raciocínio dele de que esse era um tipo de nome artístico.

- Não, eu sou órfã. - Expliquei, ainda risonha. - Eu cheguei no orfanato só com o primeiro nome, mas com as funcionárias permitiam que as crianças que foram abandonadas mudassem o próprio nome, eu decidi mudar o primeiro nome e escolher um sobrenome. No fim, acho que não funcionou muito no quesito de deixar o passado para trás porque eu escolhi um sobrenome francês porque minha mãe era francesa.

Eu ter dito " crianças que foram abandonadas", pareceu mudar o humor deles drasticamente. Não era minha intenção, mas já era de se esperar que reagissem assim.

- E qual era o seu nome de verdade? Você ainda lembra? - Carl tentou deixar o clima menos pesado.

- Mary, Maryenne. Algo assim. Eu não lembro direito.

- São nomes bonitos, mas eu gosto mais de Alice Le'Roux. Combina com você. - Disse Carl e eu sorri agradecida.

- Obrigada.

- De nada. - Carl sorriu e se virou para os outros. - Eu vou levar ela para conhecer o resto do pessoal.

- Foi um prazer conhecer você. - Disseram Maggie e Glenn juntos, e os outros ao redor concordaram com eles.

Quando estávamos prestes a virar as costas e sair, Tyreese me chamou.

- Eu queria te falar uma coisa. Não vai demorar muito, mas é importante. Será que podemos conversar agora?

Olhei para Carl, procurando por alguma resposta silenciosa, mas então concordei com Tyreese, mesmo desconfiada.

Que tipo de assunto importante ele teria para falar comigo?

Atire nele se ele tentar algo.

Não vamos atirar em ninguém.

- Claro. Em particular?

- Seria bom.

- Certo. Eu já volto. - Disse para Carl, mesmo não sabendo o porquê. Não era como se ele fosse morrer de saudades.

Nos afastamos um pouco dos outros e fomos em direção à beira da floresta para conversar.

- E então? Sobre o que era o assunto? - Minha voz soou um pouco mais rude do que deveria, resquícios de uma desconfiança sem motivo, porque se ele queria me matar, não seria só a alguns metros do grupo dele.

- Sei que já conheceu a Carol. Há um tempo atrás, nós morávamos em uma prisão, mas então uma doença invadiu a nossa casa. Carol ficou com medo de que a doença se espalhasse rápido de mais e...matou as pessoas que estavam doentes antes que passassem para os outros. Não funcionou e uma dessas pessoas, era a minha namorada. Eu senti muita raiva dela quando ela me contou, mas eu vi o quanto ela estava arrependida e o quanto ela se culpava por isso. Eu só quero que todos entendam e aceitem ela aqui. Alguns sabem o que ela fez, os que moravam com a gente na prisão, mas eu queria contar para os outros e resolver as coisas. Um grupo cheio de segredos assim é um grupo a qual a gente não pode confiar. E temos que confiar um nos outros.

Ele tem razão. Pensei, me sentindo culpada.

Não. Se você contar a verdade eles vão te odiar.

- Eu só queria que você soubesse e aceitasse ela.

- Se você perdoou ela e se ela está arrependida, então quem sou eu para discordar? Não precisa se preocupar, Tyreese, eu entendo o que é fazer alguma coisa da qual você não consegue se perdoar. Isso que você fez por ela, perdoar alguém que te machucou tanto, foi muito gentil da sua parte. Você é um grande homem, Tyreese.

- Não, eu sou só um homem. Temos que tentar fazer o melhor, certo?

- Certo. - Concordei, gravando suas palavras na minha mente.

- E mais uma coisa: obrigada pelo o que fez pela gente lá no Terminus.

- Não foi nada.

Tyreese me enviou um último sorriso gentil antes de voltar para perto de Sasha e Bob, e eu fui até Carl que estava perto de um homem ruivo e forte e mais umas três pessoas, duas mulheres e um homem.

- Oi. - Cumprimentei Carl, que sorriu para mim e então me virei para o pequeno grupo a minha frente.

- Esses são os que acabaram de chegar no grupo, são: Tara, Rosita, Abraham e Eugene.

Eram, respectivamente, uma mulher de cabelo castanho curto e olhos castanhos gentis, uma mulher de características semelhantes e que usava maria chiquinhas e boné, o homem ruivo e um homem de cabelo com um formato esquisito, tinha um topete mas era longo atrás.

- Essa é a Alice Le'Roux. - Apresentou Carl, embolando um pouco a língua para falar meu nome. Ao perceber isso, ele me olhou com um sorriso culpado no rosto e eu ri de leve.

- É um prazer. Abraham Ford. - Abraham elevou a mão em minha direção. Eu devolvi o aperto, encarando ele curiosa.

- Exército?

- Eu servi como sargento. - Disse Abraham com orgulho. - Seus pais eram do exército?

- Eu sou órfã. Mas um homem muito habilidoso me treinou bem. Ele era um tipo de agente do governo, apesar de parecer coisa de filme de ação. - Falei, me sentindo culpada por falar de Joel.

Vadia.

- Você está bem? - A voz de Abraham me fez perceber que eu estava fazendo uma careta triste.

- É que eu não durmo faz um tempinho. - Menti. Na verdade, eu nem me sentia cansada, mesmo sabendo que eu estava.

- Talvez devesse dormir um pouco antes de sairmos. Não sei aonde o Rick planeja ir.

- Tem razão. Eu só queria conhecer todos primeiro. Bem, foi bom conhecer vocês.

Abraham disse o mesmo, Eugene pareceu desinteressado e Rosita e Tara foram mais calorosas.

No fim, Carl me acompanhou até onde eu tinha colocado minha mochila e sentou ao meu lado.

- Você pode dormir se quiser. Eu vou ficar de olho e te acordo caso a gente precise sair daqui.

- Obrigada, mas quando for me acordar é bom me bater porque meu sono é pesado. Não é atoa que eu evitava dormir quando estava sozinha.

- Você nunca esteve em outro grupo?

- Eu estive com um bem no começo. Eram um pai e o filho dele. Eram boas pessoas.

- O que aconteceu com eles?

- O pai foi mordido. Eu não consegui matar o monstro que fez isso. - Senti a raiva acelerar meu coração. Monstro. - O filho eu não sei o que aconteceu. Quando o pai dele foi mordido, eu surtei e fui embora. Quando eu voltei ele não estava mais lá, mas ele tinha deixado a minha mochila cheia de coisas para caso eu voltasse.

- Essa mochila?

- É. - Ouvi minha voz sair embargada e percebi que já tinha falado de mais. - Eu vou dormir um pouco. Até daqui a pouco, Carl.

- Até.

Tomara que eu não tenha pesadelos.

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Olá pessoas lindas, depois de muito tempo aqui estou eu. O capítulo não está muito do meu agrado, mas eu precisava atualizar logo ou nunca sairia dessa fase.

Vimos aqui uma Alice meio louca falando sozinha e também muito feliz de estar num grupo outra vez (ainda que ela sinta medo de estragar tudo como ela fez com Ethan e Joel).

Imagina como a coitada não vai ficar quando começar a perder as pessoas de novo? Com certeza essa é a pior parte de se ter um grupo, por isso eu fico pensando que se fosse eu, eu ficaria sozinha como ela tinha ficado esse tempo todo.

E vocês prefeririam ficar sozinhos ou em um grupo?

Enfim, espero que tenham gostado, por favor votem e comentem e ate o próximo 😘







𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora