3. A burrice.

118 8 4
                                    

(Quatro meses após o começo do Apocalipse).

- Joel. - Alice o chamou pela quarta vez, já ficando irritada.

- Você tá fazendo o nó errado. - Avisou Joel observando a garota tentar imitar os passos de Ethan e não se sair tão bem.

- Tá. - Ela desmanchou tudo o que estava fazendo com todo ódio do mundo e Ethan fez o mesmo, só que com calma, apenas para poder começar tudo de novo e Alice ver outra vez como se fazia.

- Você consegue, Alice. - Ethan sorriu fraco para ela, apoiando-a como sempre e imaginando que o motivo de tanto estresse fosse por ela não estar conseguindo dar o nó na corda. Alice era realmente uma pessoa muito estressada.

- Não é por isso que estou com essa cara, Ethan. - Alice respondeu seriamente.

- Por que é então? - Ethan perguntou, não ligando para o tom da garota, afinal estava preocupado de mais com ela para se importar com isso.

- O seu pai. Joel, será que você pode me escutar só por um minuto? - A jovem ruiva jogou a corda em suas mãos para o lado e se levantou do chão irritada.

- Sou todo ouvidos. - Joel cruzou os braços sobre o peitoral forte e olhou para ela com um leve deboche, nem imaginado o que havia de vir.

- Você me disse lá no começo quando eu vim para cá que iria me levar para ver meus pais assim que as coisas se acalmassem. E desde que tudo se acalmou eu tenho tentado tocar nesse assunto mas você sempre ignora. Eu deixei de ir naquele dia porque acreditei em você, Joel, mas se não é verdade e você não vai me levar, então eu irei sozinha.

- E vai enfrentar todos os zumbis sozinha e as pessoas também, porque você está completamente preparada para sobreviver lá fora, não é? - Joel caçoou. Alice teve que respirar fundo duas vezes para espantar a vontade enorme que ela estava de machucar Joel, antes de voltar a falar com o tom de voz mais macio do mundo.

- Joel, quando eu pedi para ir até lá daquela outra vez, umas cinco semanas depois do surto, você me disse que deixaria eu ir quando eu estivesse pronta para me defender de tudo de ruim lá fora.

- Sim, e você ainda não está. E o fato de você estar querendo se arriscar lá fora para achar seus pais perdidos prova isso. - Disse Joel sem se importar se a sua sinceridade magoaria Alice. Ele não podia deixar ela sair mundo à fora assim, não com os perigos que existiam. - Você não sabe nem onde eles moram, Alice. Nem teve a chance de conhecer a casa deles e quer me dizer que vai conseguir achá-los?

- Mas nós ainda podemos ir ao hospital ver se eles estão lá.

- Você quer dizer o mesmo hospital que os soldados provavelmente destruíram?

- Para com isso! - Alice empurrou Joel com toda força, tentando descontar pelo menos uma parte da raiva que estava sentindo por ele. - Foi você quem disse que iria me levar, então por que está fazendo isso comigo agora? Se você não tivesse me tirado da rua no primeiro dia e se você não tivesse me impedido de ir, eu estaria com os meus pais agora e não aqui com você.

- Você estaria morta, Alice! - Joel gritou em sua direção, não aguentando mais manter a calma diante da ingenuidade e teimosia da menina. Ela não conseguia ver que tudo que ele estava fazendo era tentar mantê-la viva?

- Você não sabe disso! - Berrou Alice o empurrando novamente, mas não obtendo nenhum resultado dessa vez. - Eu vou ir até eles e mesmo que eu não os ache, eu nunca mais vou voltar. Eu odeio você.

- Eu não vou deixar você ir.

- E quando foi que você virou meu pai? - Alice cuspiu em sua direção, apesar de já tê-lo considerado assim. - Eu vou ir, Joel, não importa o que você queira. Se não me deixar ir por bem eu vou sair enquanto vocês estiverem dormindo e vocês não vão saber que eu sumi até acordarem. Eu não vou mais ser sua prisioneira.

- Acha que foi isso que eu fiz com você? Te fiz prisioneira? Eu te ensinei a lutar, te ensinei a acender uma fogueira, a fazer armadilhas e tudo isso porque você me pediu para te ensinar a sobreviver. E só porque eu não quero te deixar ir passear lá fora e acabar morta eu sou um péssimo pai?

- Você não é meu pai!

- Mas eu cuido de você como um. - Joel retrucou magoado. Alice sentiu seu coração quebrar ao ver a expressão raivosa morrer no rosto dele morrer e dar lugar a uma careta de dor.

- Eu estou indo, Joel. - A menina decidiu não deixar o sentimento de culpa pesar em suas decisões, endureceu o rosto e o tom de voz e virou as costas para os dois homens a sua frente, indo em direção ao porão de onde pegou a sua mochila de emergência que continha facas, suprimentos, uma pistola e munição. Depois subiu as escadas do porão rapidamente e passou reto pela cozinha sem nem se quer olhar para Joel e Ethan.

- Alice, espera. - Pediu Joel cansado, mas foi ignorado. - Alice, eu vou te levar naquela droga de hospital.

- Eu não quero mais sua ajuda.

- Mas você precisa. Ethan, pegue as minhas coisas.

- Ok. - O loiro concordou, dando uma última olhada para Alice e seu pai só para se certificar de que os dois não tentariam se matar durante a sua ausência e foi até o porão para pegar as duas outras mochilas de emergência. - Aqui, pai.

- Por que pegou a outra mochila? Você não vai. Eu não vou colocar outra criança em perigo.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora