19. Os sentimentos.

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Ainda estão de olho no meu grupo.

Se deixarmos isso para depois pode ser ainda pior.

Eu sei, mas...

O barulho de passos me fez calar o meu próprio pensamento. Meu corpo ficou tenso e minha mão escorregou até o facão na minha bainha, mas ao identificar de quem eram os passos, me acalmei.

- Rick? - Perguntei, me virando para trás.

- Como sabia que era eu? - Ele se aproximou com passos lentos e se esforçou para ver meu rosto na escuridão.

- Eu conheço seu jeito de andar. - Respondi e ele assentiu com a cabeça.

Era verdade. Rick andava com as pernas abertas, quase como um cowboy do faroeste, e isso fazia com que o barulho dos seus passos tivessem um som muito específico. Eu também sabia diferenciar os passos de Abraham por ele ser muito grande e pesado, os de Eugene por ele andar como um robô, os de Daryl por ele andar na lateral na maioria das vezes, os de Rosita por ela andar quase desfilando, os de Michonne por andar lentamente, Noah por andar mancando e o de Carl por ser muito barulhento em cada passo que dava. Os outros eu até que sabia diferenciar, mas ainda tinham vezes em que eu os confundia.

- O que veio fazer aqui fora? Não conseguiu dormir? - Perguntei a Rick e ele trocou o peso de uma perna para a outra e maneou com a cabeça em um "sim".

- E você?

- Estava tendo um pesadelo e achei melhor ficar acordada. E eu também queria pensar um pouco.

- No que estava pensando? - Rick veio para o meu lado e ficamos os dois encarando o muro como dois desocupados.

- Em Alexandria, nos seus moradores, seus líderes... É um pouco assustador viver dentro desses muros, não acha? Alguns pensam que isso significa que o perigo não pode nos alcançar, mas a verdade é que esses muros só servem pra que a gente não enxergue ele vindo. Era sobre isso o meu pesadelo. - Contei e ouvi o som de Rick trocando novamente o peso de uma perna para a outra. - Eu vi os muros de pé, intactos. Então eu vi as pessoas daqui todas mortas ou zumbificadas, o nosso grupo tentava lutar, mas a ameaça continuava pulando os muros e vindo atrás da gente. Os muros não protegeram ninguém, só ajudaram a desviar a nossa atenção da possibilidade de um ataque.

- Eu entendo o seu medo, mas vamos ficar bem, Alice. Somos fortes para suportar isso. - Rick pousou a mão no meu ombro em uma tentativa de me reconfortar.

- Joel também era forte e isso não impediu ele de morrer. - Meu olhar era vazio e eu nem sabia direito porque estava usando ele de exemplo. - A ameaça as vezes vem de onde menos esperamos e não podemos agir despreocupadamente.

- É, você tem toda razão.

- Mas o que veio fazer aqui fora? Não queria só ficar aqui olhando os muros comigo, né? - Perguntei em um tom de brincadeira e Rick riu por alguns segundos antes de ficar sério.

- Carol me disse que você descobriu algumas coisas com o filho da Jessie. - Começou Rick. - Eu ia te perguntar mais cedo, mas não queria que os outros ficassem sabendo ainda.

Olhei desconfiada ao redor, mesmo tendo quase certeza absoluta de que ninguém de Alexandria sairia as três da manhã para dar um passeio.

- Eu descobri algumas coisas, mas não vou poder investigar tudo sozinha pra ter certeza. - Respondi após alguns segundos em silêncio.

- Talvez eu possa ajudar. - Disse Rick e acenou com a cabeça na minha direção. - Então? O que foi que o filho da Jessie te disse?

- Tem uma menina chamada Maeve que sofria agressão da mãe, mas segundo o que dizem por aí, a mãe dela virou uma boa moça depois de levar umas paneladas da filha na cabeça. - Contei e Rick pareceu surpreso com a informação. - Sam acha que Deanna sabia de tudo mas não fez nada.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora