24. Os lobos.

57 5 11
                                    

Já fazem três dias que a Alice dormiu e além de Carl, Carol, Daryl e Rick que as vezes lançam olhares estranhos, ninguém pareceu desconfiar que eu estou aqui no lugar dela.

As coisas mudaram bastante em Alexandria. Todos estão de luto ou assustados, é claro, mas as coisas ainda assim estão melhores do que antes.

Eu matei Monroe, o outro homem que ficava de guarda na cela da Alice e também que tinha falado coisas horríveis para ela e sobre ela. Eu não teria matado ele se a Alice estivesse acordada, porque ela provavelmente me pediria para ser menos cruel, porque ela tem medo de que a vejam como um monstro. Mas com ela dormindo, eu podia fazer o que tinha que ser feito.

Ninguém reclamou quando matei ele. Depois do que o Pete fez, porque deixaram ele vivo apesar de ser um babaca, ninguém mais pareceu se importar se eu quebrava o pescoço ou não de alguém que passava dos limites.

Mas ainda falando em Alexandria, a comunidade não era mais o paraíso cor-de-rosa que eu tinha tanto medo que se tornasse um pesadelo, ela já tinha se tornado um pesadelo. E quando Rick pediu Alice para ir com eles bancar a heroína contra a horda de milhares de zumbis que ameaçava a comunidade, eu não hesitei em dizer “não”. Eu não iria jamais, nunca, nunquinha colocar a vida da Alice em risco lá fora. Ela podia ser imune ao vírus zumbi, mas isso não impedia os mortos-vivos de tentarem arrancar pedacinhos dela. E Alice não seria comida viva. Não, eu não iria deixar.

Mas proteger a vida dela não era o único motivo de eu estar evitando tanto os problemas que estavam acontecendo ao redor. A verdade era que eu temia que Alice acabasse acordando por causa de alguma frase ou palavra preocupante. Então eu estava fazendo meu máximo para evitar qualquer situação que possibilitasse o despertar dela.

Enquanto eu não tivesse certeza de como lidar com as possíveis memórias dela voltando, eu não iria deixá-la acordar. Ela não podia se lembrar.

E só de imaginar a possibilidade o corpo inteiro dela tremia. “Dela” porque eu odiava o pequeno e obscuro pensamento de querer tomar aquele lugar para mim. “O corpo é da Alice, pertencia a ela.” Eu precisava me lembrar sempre disso para não correr o risco de gostar de viver no controle.

Reconheci os passos que adentraram a sala da casa de Daryl antes mesmo de levantar o rosto para ver quem era. Habilidades que ganhei com a Alice.

– Carl. – Falei, só porque era a cara da Alice cumprimentar ele antes dele “se apresentar” só para comprovar que ela sabia sim diferenciar os passos barulhentos dele.

E Alice gosta de Carl. Não importa o que ela diga ou pense, eu sou a voz que divide a cabeça dela, eu sei das coisas.

– Alice? Tá tudo bem? – Carl perguntou, se aproximando lentamente de onde eu -ela-  estava. 

Porém Carl não estava perguntando porque estava em si, preocupado, e sim porque ele estava estranhando meu comportamento. Não era uma surpresa. Carl passava tanto tempo olhando para a Alice que não me admiraria se ele soubesse qual dedo das mãos dela era torto -era o mindinho da mão esquerda, só para constar. Joel tinha quebrado sem querer o dedo dela em uma das lutas. E Alice nunca soube, mas naquele dia eu cogitei a ideia de matá-lo enquanto dormia, mas não fiz aquilo porque eu sabia que ela amava ele e que ele amava ela ainda mais. Eu sabia que com o Joel, eu nunca poderia ser cruel. Ele era um pai para Alice e para mim também. Éramos felizes vivendo com ele e Ethan. E, depois que Joel morreu e Ethan sumiu, eu não sabia mais se eu podia ser feliz com outra pessoa além da Alice. Ela conseguiu uma família nova, pessoas que ela amava e temia perder. Eu não quis isso, não queria mais motivos para sofrer.

– Eu. – Respondi sem tirar os olhos do livro de medicina que tinha pegado emprestado com a nova médica de Alexandria, Denise.

– A Judith dormiu? – Carl quis saber e no exato momento em que ele fez a pergunta, percebi meu deslize.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora