20. O beijo.

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- Eu sou mesmo obrigada a me vestir assim? - Reclamei enquanto olhava meu reflexo no espelho grande do quarto de Rosita e Abraham. - Já não basta ter que comparecer a essa festa, eu ainda tenho que usar isso?

- Não seja tão dramática, é só um vestido e você está linda! - Disse Rosita enquanto ajeitava as alças finas do vestido preto para mim.

Por causa das cicatrizes eu não pude me dar o luxo de usar só o vestido, então precisei colocar uma blusa de gola alta e tecido grosso e verde por baixo do vestido preto de alças finas e que ia na metade das minhas cochas. E como a minha adorável -sinta a ironia- voz era paranoica e controladora, eu estava usando um cinto na cintura com uma bainha onde cabia perfeitamente uma das minhas facas de caça. Era para ser o facão, mas Rosita achou que ia chamar atenção de mais.

- Eu não uso um vestido desde os cinco anos, Rosita. - Comentei em suspiro cansado.

Por causa da minha mãe que me abandonou no orfanato usando vestidinho e fitinhas no cabelo, eu odiava me arrumar daquela forma. Mas aqui estava eu de vestido e com um arquinho preto de veludo no cabelo ruivo e sedoso, só para agradar um bando de gente que a essa altura já sabia que eu era pirada.

- Outro motivo pra voltar a usar. - Disse Rosita e analisou o meu rosto coberto pela máscara preta que combinava como vestido. - Que tal um pouco de sombra nos olhos?

- Eu prefiro levar um soco. - Respondi rapidamente e Rosita suspirou. - Sério, Rosita, eu não preciso ficar bonita. Não é nem possível isso.

- Claro que é possível. - Rosita me lançou um olhar de censura. - Você já é linda, só precisa entender isso.

- Se eu disser que entendo você desiste de passar sombra em mim? Sombra faz meus olhos lacrimejarem!

- Tá legal, tá legal! Sem maquiagem então. Já ajuda você ter deixado eu fazer suas sobrancelhas.

- Ah, sim, as sobrancelhas que você disse que eram mais grossas que o cabelo do sovaco do Abraham. Aliás, obrigada pelo elogio, Rosita. - Abri um sorriso irônico e, apesar dela não vê-lo, achei que meu tom entregou bastante meu objetivo.

- Eu quis dizer que você tem sobrancelhas cheias. - Rosita tentou se redimir com palavras.

- Cheias como o sovaco do seu namorado. - Repeti, vendo Rosita soltar um riso abafado.

- Não é culpa minha que o Abraham tava passando pela sala bem na hora que eu estava procurando com o que comparar.

- Tem alguém pelado aí? - Perguntou Tara em alto e bom tom, enquanto colocava a cabeça para dentro do quarto de Rosita. - Já estão prontas? Uau!

- É, com certeza uau! - Noah concordou e eu o encarei pelo reflexo do espelho, surpresa de que ele tinha vindo com Tara.

Não devia me surpreender, já que os dois viviam grudados. E eu até diria que eram um casal, se já não soubesse da preferência de Tara.

- É difícil arrumar uma modelo quando ela não para de reclamar, mas ela não ficou uma gracinha? - Perguntou Rosita e me virou de frente para Tara e Noah.

- O Carl que tome cuidado porque os garotos de Alexandria vão fazer fila pra te conquistar. - Disse Tara com um sorriso implicante.

- O Carl não vai parar de babar. - Concordou Rosita e eu afundei meu rosto nas mãos, desejando fortemente que aquilo pudesse me sufocar só para não ter que continuar com aquela conversa.

A verdade era que desde a noite passada, onde tínhamos sido encontrados dormindo juntos e de conchinha no quarto, o pessoal não parava de implicar com a gente. Tínhamos passado a manhã inteira -digo sem exageros- ouvindo e fugindo de comentários como aquele.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora