8. O padre.

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Como já era de se esperar eu acordei gritando.

O pesadelo tinha sido o mesmo de sempre: Eu acordava, descia as escadas e via Joel sentado no sofá olhando para o lado de fora. Eu chamava por ele e ele zumbificado me perseguia como se quisesse me morder, mas ele não fazia isso, só gritava coisas como "Você me matou" "Você é um monstro" "Eu odeio você".

Então Ethan aparecia. Ele quase sempre estava chorando e tinha uma arma em mãos. Ethan matava Joel e logo em seguida apontava ela para mim, mas não atirava. Eu chorava pedindo perdão enquanto ele dizia o quanto me odiava. Depois de me torturar com suas palavras Ethan em si mesmo e eu acabava sozinha. Sozinha e culpada.

- Você está bem? - Perguntou Carl para mim enquanto eu colocava minha mochila sobre os joelhos e afundava o rosto nela.

Eu matei o Joel e eu perdi o Ethan.

Eu quero sofrer.

Eu não queria deixar ele.

Mas você foi embora ainda assim.

- Alice? - Carl chamou outra vez e eu finalmente olhei em seu rosto.

Fiquei feliz por ver que ele realmente tinha feito como disse que faria e ficou ao meu lado enquanto eu dormia. Isso me deixou menos preocupada. Mas o fato de saber que ele tinha ficado ao meu lado enquanto eu gritava horrorizada não me agradou muito.

Eu não queria ser fraca na frente de ninguém.

- Desculpa por ter gritado. - Eu disse, com a voz um pouco estranha por causa dos gritos e por ter acabado de acordar.

Meu corpo estava cheio das tremedeiras que eu sentia sempre que acordava de um sonho ruim ou sempre que matava alguém, não importava quão ruim a pessoa fosse.

Aquelas tremedeiras significavam que eu ainda me importava. Que eu ainda era humana. Mas ainda assim elas me incomodavam pelo simples fato de que eu não conseguia fazê-las parar.

- Não tem problema, Alice. - Disse Carl deixando claro que aquilo não o incomodava. - Você está bem?

- Sim, foi só um pesadelo. - Dei de ombros, mesmo sabendo que meu pouco caso não apagaria tudo o que ele -e todos- tinha visto.

- Você está com frio? - Carl me olhou preocupado.

- Não, isso é por causa do pesadelo. Daqui a pouco passa. - Respondi e tratei de me esforçar para controlar as tremedeiras, o que não funcionou muito.

- Com o que você estava sonhando? - Carl perguntou.

- Eu não quero contar.

- Tudo bem. - Ele concordou fácil e isso me fez sorrir em meio as tremedeiras e batidas de dente incessantes. - Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?

- Pode me contar alguma coisa? Talvez do que você gosta. Acho que seria um bom jeito de me distrair.

- Eu gosto de histórias em quadrinhos. - Disse Carl, dando de ombros e olhou para cima como se estivesse tentando pensar no que mais dizer. - Eu gosto de armas de fogo. - Carl deu de ombros, parecendo não saber bem o que falar. - Gosto de ajudar o grupo e de ser útil. Eu também gosto muito da Michonne, ela é minha melhor amiga. Eu gosto de brincar com a Judith e de colocar ela para dormir. Eu gosto desse chapéu que o meu pai me deu. Minha cor favorita é azul, qualquer tom de azul. E meu herói favorito é o Homem-Aranha. Isso te distraiu?

- Um pouco.

- E do que você gosta? Talvez falar te distraia mais. - Propôs dando de ombros outra vez.

𝐋𝐞'𝐑𝐨𝐮𝐱 - 𝐂𝐚𝐫𝐥 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬.Onde histórias criam vida. Descubra agora