Alguns meses depois
Sorocaba, São Paulo
— Amiga, olha só a repercussão que o seu vídeo está dando — a Mariana chegou abrindo a porta do meu escritório improvisado e nem se importou com o susto que me deu.
— Espera um minuto que eu preciso pegar o meu coração que saiu pela boca — soltei a caneta que eu estava usando para revisar o texto da minha próxima reunião e peguei o celular que ela estava quase esfregando na minha cara.
Comecei a ler os comentários e realmente o impacto positivo que a nossa última publicação ganhou é impressionante.
O vídeo foi gravado em uma das reuniões que participei recentemente, devido as obrigações do nosso projeto, anda cada vez mais difícil conseguir tempo para ir as reuniões, mas eu estava estranhamente inquieta e depressiva nesse dia e precisava falar com alguém.
Se fosse qualquer outro assunto eu atravessaria a rua e iria diretamente para os braços da minha irmã, mas como vou dizer para ela sobre os meus sentimentos, narrar os momentos que passei com o cara que a amarrou na cama e tentou estuprá-la, e ainda dizer sobre o buraco que tenho dentro do meu coração por ter feito um aborto?
Eu nunca abordo totalmente o assunto, mas sempre comento nas reuniões sobre o quanto é horripilante a sensação de estar com alguém que achamos ser o nosso salvador e no final é um ser humano repugnante.
Quem está de fora e nunca viveu algo parecido pode dizer algo como "ele era um doente, ainda bem que sumiu da sua vida", isso até é verdade, mas ninguém nunca vai entender que poucas horas antes ele tinha me ligado para dizer que me ama e que estava contando os minutos para minha chegada.
A sensação é perturbadora. Não sei outro jeito de definir.
É perturbador pensar que ele armou tudo para nos conhecermos coincidentemente.
É perturbador lembrar da nossa primeira noite, e depois de todas as outras. O modo carinhoso que ele tocava meu corpo, sua voz ao dizer que me amava e que eu era a mulher da sua vida enquanto invadia o meu corpo como se eu fosse a flor mais sensível que pudesse se desmanchar ao toque mais bruto.
É perturbador lembrar do nosso dia a dia, da nossa rotina no café da manhã, dos beijos de despedida, dos nossos finais de semana.
Seu cheiro, seu toque, seu sorriso.
É um verdadeiro inferno.
Por meses eu vivi em um conto de fadas e pensar que tudo o que conversamos e compartilhamos foi ensaiado só para que ele conseguisse ficar perto da minha irmã... É algo tão doentio que me deixa doente só de começar a pensar.
Eu me perguntei por muito tempo como pode alguém ser assim. Ele abandonou a esposa, a filha, apostou em um novo casamento (no caso, comigo) pensando em ficar com a Jade, uma mulher que conheceu aleatoriamente na academia e que saiu poucas vezes.
O cara é insano, e o que mais me dá raiva nisso tudo é que eu ainda não pude olhar para a cara dele e dizer o quanto ele é um escroto repugnante e o quanto quero que queime no inferno e mofe na cadeia.
Ah, mas isso vai acontecer!
Oh se vai!
Eu conto os dias para isso, para ver o verdadeiro Mike David de verdade, não o príncipe encantado que me enganou, mas o sapo na sua verdadeira essência, e então, nesse dia, eu poderei jogar sal no anfíbio asqueroso.
Enquanto isso não acontece eu falo sobre o meu passado, ocultando o desejo de vingança; vingança pela minha irmã, pelo meu tempo perdido, pelo meu psicológico abalado e principalmente pelo meu bebê.
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SHARBERTY - A Liberdade Inexplorada
RomantizmJoana Sharp nunca pensou que iria gostar de ser o centro das atenções. Nunca pensou que iniciar uma nova jornada apostando em algo que acredita, iria lhe trazer tantos benefícios - financeiro, mental e pessoal -, também não pensou que dinheiro e vis...