Capítulo 3

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Eu já estava derretendo debaixo do sol quente, sentia as gotas de suor escorrendo pela minha coluna, seios e canela — nem vou entrar em detalhes de como deve estar a pizza da minha axila.

A Renata, que trabalha com a gente na associação, conseguiu que um amigo carreteiro dela nos ajudasse com o transporte de algumas coisas da minha casa para o nosso novo espaço no centro da cidade.

Eu poderia pedir para o Emerson, Otávio e o Lívio me ajudarem na força bruta, seria maravilhoso, porém só o Otávio estava em casa em plena duas horas da tarde de uma terça-feira.

Então estávamos eu, ele e a Mari transportando as coisas do segundo andar, enquanto o amigo da Renata seguia sentado no banco do motorista mexendo no celular.

— Eu não sei se agradeço ou soco aquele cara — a Mariana reclamou pela décima vez, prendendo o cabelo no elástico e suando até mais do que eu pelo esforço físico.

— Ele já está fazendo o serviço de graça amiga, não vamos reclamar — pedi enquanto pegava uma caixa de documentos na mão.

— Nunca pensei que essas tralhas iriam ser úteis algum dia — o Otávio zombou enquanto passava com dois sacos cheios de caixas de leite vazias.

Desde que me mudei para Sorocaba e o marido da minha irmã descobriu que o segundo andar da minha casa foi especialmente modificado para guardar as minhas coisas, ele vem implicando comigo.

Quero deixar claro que não sou uma acumuladora.

Apesar de guardar as garrafas pets, caixas de leite, de sapatos, pastas de dentes, variedades de potes vazios, entre algumas outras coisas, sempre tive em mente que iria fazer proveito, nunca foi só com o objetivo de acumular.

Há anos que eu faço doações para oficinas de reciclagem. O engraçado que é nunca tinha pensado que um dia eu realmente aproveitaria do meu próprio material para a minha oficina de reciclagem.

Desde que fechamos a parceria com a Plena, uma empresa multinacional de produtos químicos, conseguimos uma casa de quinze cômodos financiada por eles para ampliar a causa.

Nosso projeto está crescendo e ganhando visibilidade tão rápido que tenho até medo de estar em outro sonho e cair do cavalo ao acordar.

Primeiro que a nossa reforma na plataforma digital foi um avanço e tanto, agora no nosso site é possível saber mais sobre o nosso projeto, fazer doações, assistir depoimentos de outras mulheres, ver algumas palestras que já temos disponíveis, entrar em contato e em breve terá a nossa novidade que são os cursos on-line e totalmente gratuitos para encorajar ainda mais essas mulheres a se desprender e ter sua própria liberdade financeira.

Já o espaço físico nós vamos inaugurar semana que vem e contará com a oficina de reciclagem, brechó, aulas de jiu jitsu e defesa pessoal, além do nosso espaço para a roda de conversa, palestras motivacionais e se tudo der certo e conseguirmos mais um apoiador como a Plena, teremos uma psicóloga fixa e cursos presenciais.

— Estou empolgada para a inauguração, vocês vão né? — perguntei ao Otávio quando carregamos a última caixa.

— Mas é claro que vamos, a Jade está super empolgada — ele fechou as portas do carreto e limpou o suor que escorria pela testa.

— Muito obrigada Otho, sem você nada disso seria possível — lhe lancei um sorriso de lado e ele me retribuiu.

Apesar de tudo o que passamos, o meu cunhado foi o primeiro a me apoiar quando a associação era apenas uma ideia bem longe de se realizar, se não fosse pelo seu investimento nós nunca iríamos ter cogitado a possibilidade uma segunda vez, e quando eu finalmente disse que aceitaria o seu dinheiro, ele não pensou duas vezes para agir.

SHARBERTY - A Liberdade InexploradaOnde histórias criam vida. Descubra agora