Capítulo 25 - POV. Orfeu Kalyvas

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— Estamos quarenta minutos atrasados, senhor — já é a quarta vez que GG torra meus ouvidos, atualizando de dez em dez minutos o que é fato para mim.

— Não é como se Lupita não estivesse acostumada com o meu atraso — estico as pernas deixando meu corpo melhor acomodado no curto espaço do jato. — E também não há nada que eu possa fazer, a menos que queira que eu pilote essa lata velha — com o sorriso de lado levantei uma sobrancelha para o meu guarda costas e ele revirou os olhos para mim.

— O senhor fica assustador de bom humor — constata pegando o celular e digitando sem parar na tela.

— Engraçado que ontem mesmo você estava reclamando que eu precisava trepar por conta do mau humor — bati os dedos no copo de uísque e aproveitei para virar um gole.

— Seu bom humor não seria um problema se não fosse Lupita quem estivesse nos esperando — continua a reclamar. — Você sabe como o humor dela fica quando nos atrasamos...

— Nada que o seu bom desempenho não a ajude a desestressar — inclino o copo na sua direção em forma de um brinde, vendo-o desviar a atenção do celular para me repreender com o olhar.

Lupita Mendes é uma aliada da polícia na fronteira entre México e Estados Unidos, uma das responsáveis por nos ajudar com o tráfico humano de Xanthopoulos. Se estamos quase derrubando o seu esquema, devo muito a ela e a sua equipe.

No meio disso, sei que ela e GG andam esquentando a cama um do outro. E a julgar em como ele está preocupado com nosso atraso e o que a senhora Lupita irá achar, vejo que continuaram trocando mensagens desde a nossa última viagem ao México.

— Ela é casada, senhor — ele deixou o celular no colo e passou a mão espalmada no rosto, soltando uma lufada longa de ar no processo.

— Eu te avisei que isso de ficar comendo mulher dos outros ia dar merda.

— Lupita é diferente — aquela determinação no seu olhar me causa enjoo.

O típico olhar de homem apaixonado. GG me olha determinado, mas sei que vai quebrar a cara quando perceber que ela não vai mudar o rei do seu jogo.

— Diferente como? Ela não vai trocar o Tenente por você e eu torço para que ele nunca descubra essa sua traição.

— Eles já não estão juntos de fato, e ela já não é feliz naquele casamento há muito tempo — constatou começando a ficar nervoso.

— GG, você sabe que é mais do que um funcionário para mim — deixei o copo de uísque sobre a plataforma da mesa de canto acoplada e me inclinei apoiando os cotovelos pouco acima dos joelhos flexionados. — Não sou fã de conselhos, mas preciso que entenda a situação em que se meteu...

— Senhor... — o interrompi antes das reclamações.

— Mulher casada já é terreno perigoso, quando o marido tem influência internacional passa a ser um atestado de morte — ouvi o rosnado que saiu do fundo da sua garganta, mas não me importo. — A quantidade de amantes que ele tem ou o fato de não morarem na mesma casa, não vai fazer diferença na hora de salvar a sua bunda.

— Como sabe dessas coisas? — GG arqueou a sobrancelha grossa e eu me ajeitei novamente na cadeira.

— Fiz minha lição de casa.

Não vou me explicar para ele, muito menos dizer que estou temeroso pela sua vida.

— Eu também fiz, pode ficar tranquilo Orfeu — garantiu, mas reparei nas unhas curtas que esmagavam a palma da própria mão. — Em breve Lupita será uma mulher livre.

SHARBERTY - A Liberdade InexploradaOnde histórias criam vida. Descubra agora