"— Ele está morto há meses..."
Não consigo descrever ao certo o que estou sentindo.
Eu sinto tudo. E ao mesmo tempo nada.
Minhas pernas estão pesadas a ponto de ter a certeza de que não consigo mexê-las. Mas elas também parecem leves de um jeito que não tenho certeza se consigo mantê-las firmes no chão.
Como descrever esse sentimento?
Alívio? Afinal, Mike David não poderá voltar a machucar minha irmã ou a mim mesma.
Luto? Afinal é uma vida que se foi.
Eu deveria estar me sentindo mal ou culpada por isso? Porque do turbilhão de sensações que estou sentindo, com certeza não há nada perto da culpa.
Me sinto bem e mal ao mesmo tempo.
Bem por saber que ele não irá encostar em nenhuma outra mulher a força.
Mal por saber que eu nunca poderei olhar para o verdadeiro Mike.
Bem porque parece que um peso gigante, três vezes maior que eu, saiu das minhas costas.
Mal porque me martirizei, me privei, me culpei, me droguei por tantos dias, tantas noites... Permiti que uma sombra me atormentasse ao invés de criar coragem e bater de frente com a vida.
Se eu soubesse que ele estava morto faria tanta coisa diferente.
Teria trocado consultas com a psicóloga por passeios pela cidade.
Jogado conversa fora em um bar qualquer ao invés de estar trocando receita de antidepressivos na farmácia.
E por falar nisso, será que agora consigo dormir melhor sabendo que ele não vai aparecer e me amarrar no meio da noite?
— Vem comigo Joana, vamos para o meu quarto — Orfeu me estendeu a mão, o tom autoritário ali, fodendo-se para a minha atual situação.
— Como você sabe? — fiz a pergunta de um milhão de dólares.
Eu não tinha ideia de que ele sabia sobre meu ex marido, imagina o choque quando ouvi o nome composto do filho da mãe saindo da sua boca.
— Não vou conversar aqui com você sobre isso — abriu as mãos e olhou nervoso para a porta de vidro que separa a parte coberta do terraço, da parte aberta, que é onde estamos.
— Orfeu, como você sabe sobre o meu ex marido? — repeti a pergunta sentindo um arrepio eriçar todos os pêlos da minha nuca. — Que merda está acontecendo? — gritei em português me encolhendo no pufe para ficar longe dele.
— Está com medo de mim? — ele levantou uma sobrancelha e fechou a expressão, ficando assustadoramente apavorante.
— Orfeu — chamei por ele, com medo do que o seu olhar me mostrava.
Algo que nunca vi antes.
Sei que ele é um homem bruto, intimidante, ríspido, grosseiro na essência mais pura e crua. Eu vi tudo isso naquela noite, senti na pele o que um homem másculo e bronco pode fazer.
Mas o que vejo nos seus olhos é mais do que isso. É mais do que a atração de uma pegada mais forte.
A névoa que cobre seus olhos é pesada, agressiva, esconde tanta coisa que me falta o ar.
Não tenho medo dele, tenho medo dela.
— Venha aqui — olhei para suas mãos grandes, um punho estava fechado, enquanto sua outra mão tinha um dedo em riste apontando para perto dele.
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SHARBERTY - A Liberdade Inexplorada
Roman d'amourJoana Sharp nunca pensou que iria gostar de ser o centro das atenções. Nunca pensou que iniciar uma nova jornada apostando em algo que acredita, iria lhe trazer tantos benefícios - financeiro, mental e pessoal -, também não pensou que dinheiro e vis...