— Joana, Dinis está aqui — a Mari abriu a fresta da porta para me cochichar antes que a secretária anunciasse a sua chegada.
No mesmo instante o telefone tocou e eu parei o que estava fazendo para encarar minha amiga.
Faz umas duas semanas que eu não falo com ele ou com Orfeu. Com ele porque o Dinis simplesmente sumiu e eu quem não fui atrás, com Orfeu porque ainda não consegui digerir tudo o que aconteceu naquela madrugada.
— Vemos isso depois, chefe — a Pata pegou os projetos que estavam na mesa e saiu da sala antes que eu pudesse contestar.
Pedi para que entrasse e me sentei no ambiente de reunião que tem no canto da sala.
Quando os olhos de girassóis cruzaram os meus entendi na hora o que ele veio fazer. Eu já vi aquele olhar antes; as pupilas perdidas, sem propósito algum, o desinteresse, a entrega.
Comecei a tamborilar a caneta entre os dedos, nervosa com a figura fragilizada do Megalos a minha frente.
— Oi sumida — tentou fazer uma brincadeira, mas não tinha nada divertido nele.
Havia olheira abaixo dos olhos, ele perdeu peso também, mas mesmo assim consegue permanecer absurdamente bonito.
— Eu sempre estive aqui Dinis, você quem desapareceu — deixei que a mágoa acentuasse e transparecesse pelo tom de voz, nós conversávamos regradamente todo dia e a sua ausência é como se de repente fosse arrancado uma parte importante de mim. Outra de tantas.
— Me desculpe Joana, não é algo que eu queira — ele também deixou as emoções transparecerem e me veio um aperto no peito ao perceber o que viria a seguir.
— Por que estou sentindo que isso é um adeus? — deixei que a caneta caísse na superfície da mesa e enfim se livrasse do tique nervoso dos meus dedos.
— Preciso me afastar por um tempo, não é para sempre — prometeu, mas não vi verdade ali.
— Para onde você vai?
— Caribe.
— Uau! — acabei soltando uma risada nervosa. — Por essa eu não esperava.
— Não é pelo motivo que está pensando, vou lá para me tratar, Jô. Pelo jeito que está me olhando eu sei que Orfeu contou para você sobre o meu vício, eu vejo a pena no seu olhar — Dinis desviou os olhos para o canto da sala onde há alguns livros, fugindo do meu olhar, de mim.
Me levantei com as pernas trêmulas e me aproximei dele, parando tão perto do seu corpo que ele não teve outra opção a não ser olhar para mim, olho no olho.
— Então olhe de novo, pois não é pena que estou sentindo — espalmei minha mão direita no seu peito, perto de onde deve estar seu coração, acertando em cheio ao sentir os batimentos acelerados.
— Então o que é? — me perdi nas batidas aceleradas e seus dedos longos e bonitos rasparam a pele do meu braço, subindo delicadamente até meu ombro.
— Saudade, orgulho, esperança, amor — passei meus braços pelo seu corpo e o abracei, repousando a cabeça no seu peitoral duro.
— Amor?
— Posso não te amar como você espera, mas não deixa de ser amor — me afastei para olhar nos olhos de girassóis. — Eu sinto a sua falta, não quero que deixe de me mandar mensagens ou se esqueça de mim só porque não temos o tipo de relacionamento que você esperava.
— Se me pedir eu fico por você — ele trouxe as mãos até meu rosto e eu senti o aperto se espremer ainda mais.
Por tudo.
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SHARBERTY - A Liberdade Inexplorada
RomanceJoana Sharp nunca pensou que iria gostar de ser o centro das atenções. Nunca pensou que iniciar uma nova jornada apostando em algo que acredita, iria lhe trazer tantos benefícios - financeiro, mental e pessoal -, também não pensou que dinheiro e vis...