Capítulo 1

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Festa de casamento da Jade Sharp e Otávio Castro

Sorocaba, São Paulo

Chega a ser irônica as voltas que o mundo dá. Se a três anos atrás você me falasse que minha irmã estaria se casando com o pai biológico do Lívio, eu riria por minutos achando ser apenas uma piada mal contextualizada.

Não é que eu não goste o Otávio, mas também não sou uma das suas maiores fãs. Claro que eu tenho em mente que a culpa maior do meu desafeto por ele não é ele em si — por anos cultivei o meu ódio pelo moleque adolescente que deixou a minha irmã grávida ir para outro país sem nenhum tipo de preparação psicológica ou financeira para ser mãe.

Todas as vezes que minha irmã chorou, eu o culpei.

Quando ela teve depressão pós parto, eu o culpei.

Quando ela me deixou com um bebê recém-nascido, chorando, anémica e com diversos transtornos alimentares e psicológicos, eu o culpei.

Nos primeiros cinco anos do Lívio repeti diversas vezes que a sorte da minha irmã foi ter o Apolo ao seu lado, e acho até que ele ter a apoiado nesse momento tão difícil foi o que a fez se casar e prosseguir em um casamento infeliz por tantos anos.

Eu sabia que ela não era feliz ao lado dele, mesmo depois de tudo o que fez por ela; Apolo deixou o Brasil para vir morar com a gente, mesmo sabendo que estava grávida de outro homem aos dezesseis anos, ficou ao seu lado nos dias ruins, mesmo que ela gritasse que não queria olhar para a cara dele. É incontestável que ele lutou por anos para fazê-la feliz, até que chegou uma hora que ele só desistiu de lutar por uma felicidade que não conseguia trazer para ela. Então começou a beber, a se drogar, a dever, a brigar... Até que o inevitável aconteceu e ele foi morto a facadas em Brighton na Inglaterra por causa de dívidas.

Quando o Otávio apareceu na vida da Jade novamente, meu primeiro pensamento foi que ele estava arrependido de ter abandonando o filho e queria recuperar o tempo perdido, mas o pensamento foi rápido já que era nítido que ele não sabia sobre a paternidade. Só então, depois de quatorze anos, que eu descobri que a minha irmã não chegou a contar para ele que estava grávida no dia em que partimos para Londres. Ele não fazia a mínima ideia da existência do Lívio e por causa disso, todo o pré-conceito que eu tinha dele, fui obrigada a mudar.

— Por que está com essa cara feia para o Otávio? — eu estava sentada na mesa junto com a Maria Luiza, atual namorada do Lívio e mãe da Lizzie, filha deles.

— Só fico impressionada no quanto minha irmã é feliz com ele — suspirei desviando o olhar do casal.

— Será que todo homem apaixonado tem essa cara de bobo? — brincou e nós duas rimos.

— Eu não sou a melhor pessoa para te responder, lembra? — era para ser uma brincadeira, mas acabei com o clima descontraído ao fazer menção a tragédia da minha vida.

Eu sempre consigo estragar uma conversa, incrível como minha mente não mede as palavras e minha boca não tem trava na língua. A Jade diz que tenho problemas de humor, já que consigo mudar de assunto e temperamento sem dificuldade, mas não sou diagnosticada com nada, só não sou uma pessoa positiva igual a ela.

Não me ofendo por ser considerada uma mulher azeda. A única vez em que me permiti ser totalmente feliz eu cai do cavalo, levei coice, fui pisoteada e ele ainda cagou em mim.

— Você é uma chata, era uma brincadeira — a Malu se ofendeu, com tão pouco tadinha.

— Eu sei, também fiz uma brincadeira, você que é sem senso de humor — a Stella e Sara, filhas do Emerson e da Angel, passaram correndo na minha frente e a babá quase caiu ao tentar alcançá-las.

SHARBERTY - A Liberdade InexploradaOnde histórias criam vida. Descubra agora