Capítulo 19

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As coisas andam uma correria, a Sharberty vem crescendo dia após dia e a emoção de estar ajudando tantas mulheres a saírem da sua prisão e se tornar independe é indescritível.

Percebo cada vez mais a importância do que estamos fazendo e com o peso desse crescimento tenho sentido a necessidade da ampliação. Temos a Sharberty – Casa de Apoio e Liberdade da Mulher espalhada por diversos países e é muito mais do que um dia sonhei, mas há tantas outras pessoas que podemos ajudar, causas que podemos apoiar, que chega a me dar um desespero por estar andando e ao mesmo tempo estar estagnada.

Sei que não posso agarrar o mundo com a mão, também sei que a existência da Sharberty CALM já é mais do que um sonho realizado, mas venho pensando e almejando ajudar mais, me posicionar mais.

— Senhorita, chegamos — o motorista informou assim que paramos na porta da casa do Dinis e eu não fiz menção de sair, interrompendo completamente o meu devaneio sem nem perceber.

Abri a porta em um suspiro mental longo. Estamos tão distantes esses meses que achei ser uma boa ideia vir até a casa dele para ficarmos um tempo juntos, até porque estou cansada demais depois de quase cinco horas sentada em uma reunião que pareceu interminável e a casa dele estava só meia hora de distância. Mas confesso que agora, estando parada na porta de entrada, não acho que foi uma boa ideia.

Eu nem avisei ele, que ideia maluca foi essa?

Virei decidindo desistir daquilo, mas já era tarde demais, pois o motorista já havia partido.

Merda.

Desistindo de desistir acabei batendo na porta do Megalos, esperei algum tempo e bati novamente.

— O que está fazendo aqui? — a voz agressiva do Orfeu me acertou em cheio e dessa vez eu nem estava esperando.

Eu só posso estar cansada demais para estar alucinando.

— O que você está fazendo aqui Kalyvas? — devolvi a pergunta tentando passar por ele, mas seu corpo impediu minha passagem. — Me da licença — empurrei seu peito e me forcei a não ligar para a nossa proximidade.

— Megalos não falou que iria vir — ele insistiu a me deixar de fora e eu desisti de empurra-lo ao perceber quão inútil estava parecendo.

— E qual é o problema? Estão com mulheres aí? — levantei uma sobrancelha para ele, me recusando a tentar espiar para ter a certeza.

— Não é isso — Orfeu arrastou a língua pelo lábio inferior e meus olhos ingênuos seguiu o movimento em câmera lenta. — Vem, eu te levo para casa — sua mão tocou minha cintura e meu corpo falhou por alguns segundos. — GG, dá um jeito.

— Ok chefe — o segurança dele respondeu dentro da casa de Dinis.

— Mas que merda está acontecendo Orfeu? O Dinis está bem? Tem alguém morto aí? — comecei a ficar nervosa com o tom que eles trocaram as poucas palavras.

— Você já jantou? — ele decidiu me ignorar e percebi que não teria minha resposta, então apenas virei as costas para ele e fui andando na sua frente para me livrar do seu toque.

Quem sabe assim eu consiga pensar.

— Por ali — sua mão voltou para minha cintura e eu suspirei fundo deixando-o me guiar para o lado oposto que eu seguia.

Quando entrei no seu carro fiz questão de bater a porta com força. Achei que retrucaria, mas o bruto apenas ignorou minha cara emburrada e deu partida.

O caminho foi completamente silencioso, ele sequer fez o favor de ligar o rádio para nos distrair e eu também não dei o braço a torcer.

Não reconheci o caminho que fizemos, mas como nunca dirigi por aqui não saberia dizer, só percebi onde estávamos quando o portão grande se abriu e a casa completamente escura e atípica surgiu.

SHARBERTY - A Liberdade InexploradaOnde histórias criam vida. Descubra agora