Não tenho palavras para explicar o quanto foi doloroso voltar para Sorocaba.
Depois que deixei a Mari na casa dela, voltei sozinha para a minha e tudo o que fui capaz de fazer foi estacionar o carro na garagem. Senti um aperto horrível no peito antes mesmo de sair do carro, foi ainda mais doloroso do que quando tive que voltar para casa após descobrir sobre o Mike.
A dor de sentir que fui enganada pelo meu marido não se compara com a da Jade.
Não chega milimétricamente perto.
Há um abismo gigante de diferença e dói, dói muito, dói mais do que posso suportar.
Escorei minha cabeça no volante e chorei. Chorei até não haver mais lágrimas. Até minha cabeça doer e pesar a ponto de meu corpo querer se desligar de cansaço, mas não era nada físico, só um cansaço mental extremo.
Após um longo tempo, onde minha bunda já estava reclamando do estofado do carro e minha bexiga implorava por misericórdia, aceitei que teria que sair dali. Mesmo assim o trajeto foi curto; fui até o banheiro, fiz minhas necessidades, tomei um calmante, uma aspirina, um relaxante muscular, qualquer outro comprimido que achei, e me joguei na cama, deixando o cansaço me levar até a dor finalmente sumir.
Por algumas poucas horas.
Acordei com o toque insistente do celular. Comecei a escutar o barulho de longe, quase como se fizesse parte do sonho, não sei quanto tempo demorou para o toque se acentuar e ficar insuportável a ponto de eu ter que me levantar para atender.
— Jojo, está tudo bem? Estou tentando falar com você há horas — a voz da Mari estava alterada e eu tive que afastar o celular da orelha para olhar o relógio.
— Caramba, tomei remédio para dormir e acabei me perdendo na hora — tive que me defender por já passar das dez da noite.
— Você me deixou preocupada, só não fui até aí porque o Lívio me falou que seu carro estava na garagem.
— Mari, o que acha de nos mudarmos? — mudei radicalmente o assunto enquanto me sentava na ponta da cama, com as pernas no chão e cotovelos apoiados acima dos joelhos.
— O que? Amiga, você bebeu?
— Conversamos sobre nossa agenda pelos próximos meses no avião, pensa comigo amiga, não é loucura nos mudarmos para a Grécia agora — no fundo eu só queria me convencer que é por pura racionalidade. — Tem a nossa parceria com a Lolô, ensaios, os eventos dos hotéis que vamos participar, toda a reforma da plataforma... Ficarmos por lá vai nos poupar muitas horas perdidas em que vamos poder ajudar e recrutar mais pessoas.
— Mas acabamos de expandir o projeto aqui, vamos simplesmente abandonar? — pela sua voz ponderada eu não estou totalmente louca.
— Falamos com Orfeu, ele consegue uma equipe para amparar a Sharberty aqui de Sorocaba, assim como fazer a nova reforma, enquanto nós poderemos focar na amplitude de verdade. Sabe que nossas aulas de grego serão muito melhores presencialmente, assim como vamos poder nos preparar melhor para os projetos sociais, os podcasts, as gravações, no final das contas vamos acabar ficando mais lá do que aqui.
A linha ficou muda por alguns segundos, talvez minutos, eu só tinha a certeza de que ela ainda estava ali por conta da sua respiração.
— Sei que você está certa Jô, mas teria algum outro motivo para fazermos isso? — claro que minha melhor amiga veria a situação como um todo, eu a amo por isso, mas também me incomodo por ter que tocar no assunto.
— Podemos fazer as malas e conversar sobre isso quando estivermos saindo daqui? Prometo que te conto tudo, só preciso ter uma conversa com minha irmã antes — pedi querendo seu apoio, sendo retribuída com toda a sua compreensão, mesmo que ela ainda não compreenda nada.
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SHARBERTY - A Liberdade Inexplorada
RomanceJoana Sharp nunca pensou que iria gostar de ser o centro das atenções. Nunca pensou que iniciar uma nova jornada apostando em algo que acredita, iria lhe trazer tantos benefícios - financeiro, mental e pessoal -, também não pensou que dinheiro e vis...