Capítulo 14

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Céus, irmã! Agora que vai ficar internacionalmente famosa vou ter que marcar horário para te encontrar? — a Jade brincou assim que me viu entrar na cozinha da sua casa.

Ela estava cortando alguma coisa enquanto o Otávio mexia uma panela no fogo.

E aí, como foi em Copacabana? — o Otho perguntou com um sorriso calmo no rosto.

Algo dentro de mim quer se recusar a acreditar que eles esconderam a morte de Mike. Eles agem normalmente, é impossível que saibam.

Eu já tinha um diálogo pré planejado, na minha cabeça o roteiro vinha de um assunto propício para que eles abrissem o jogo.

Eu iria agir como se não soubesse, abordaria um assunto gatilho, para então eles me contarem, por livre e espontânea vontade.

Essa era a ideia.

Mas é óbvio que por conta do meu RHMH (aquele rompante habitual de mal humor diagnosticado pela Jade), não foi bem assim.

— Por que não me contaram que Mike está morto?

Não me levem a mal, não consegui me segurar diante a cara de pamonha do casal vinte — é assim que os Gupper os chamam.

Eles se olharam tensos. A Jade largou a faca e secou as mãos em um pano, o Otávio virou lentamente o botão do fogão para apagar o fogo.

— O que o Orfeu te contou? — foi ele quem fez o primeiro questionamento enquanto a Jade continuava tensa e calada.

— Por que. Não. Me. Contaram. Que o filho de uma puta. Do Mike. Está morto? — repeti a pergunta, pausado e demoradamente para que escutassem bem e não restasse nenhuma dúvida da minha ira.

— Irmã...

— Irmã nada, Jade — a interrompi batendo a mão contra a ilha da sua cozinha, eles de um lado e eu do outro. — Vocês dois realmente se merecem, são dois egoístas de merda — não sou muito apta a palavrões, mas ultimamente ando me superando.

— Eu queria te contar — os olhos dela me mostravam sua angústia, mas não diminuía minha dor.

— Quis, mas não fez — apontei o dedo para ela. — Eu sempre estive do seu lado, sempre fiz de tudo por você e é assim que me retribuí?

— Joana, você acha que é fácil dar uma notícia dessas? Você no mínimo iria surtar, como está fazendo agora — o Otho inventou de abrir a boca e eu juro que minha vontade foi de pegar a faca da mesa e tacar na sua cara.

Mas eu ainda não estou louca a esse ponto.

— Surtar? — soltei uma risada amarga, daquelas que até dói a garganta por forçar demais. — Meu amor, você nunca me viu surtada — apontei o dedo para ele. — Você nunca me viu em pânico, de madrugada, com medo de um maníaco aparecer, com medo dele me tocar, até o pensamento de ouvir a sua voz me fazia chorar por horas. Você, com certeza, nunca me viu no meio da rua, correndo, com receio de ter visto seu rosto em alguma pessoa aleatória, nunca teve pensamentos homicidas, pensando em mil formas de retribuir quem te machucou... E sabe por que isso Otávio? Porque vocês já sabiam que esse merda estava tendo o que merecia.

— Irmã, desculpa, me desculpa — a Jade começou a chorar no meio da minha fala, tentou até se desculpar, só que a essa altura não tem mais perdão.

— Os negócios do Orfeu não é exatamente lícito Joana, se te contássemos quando aconteceu, você não reagiria da mesma forma que agora — ouvir a sua voz estava me matando ao poucos. — Se você fosse até a polícia questionar sobre isso, os homens do Orfeu iriam sumir com você antes mesmo dele saber.

SHARBERTY - A Liberdade InexploradaOnde histórias criam vida. Descubra agora