SEBASTIÁN FONTANA
— Preciso de uma bebida. — Emmanuel pediu, exausto de tanto dançar.
— Vou pegar para nós. — Falo, lhe dando um selinho. Ele sorriu, agradecido e logo buscando um lugar para se sentar, massageando os tornozelos. Procuro o bar improvisado, situado no outro lado do salão, o que me fez andar bastante até, perpassando por entre os convidados até finalmente chegar ao meu destino.
E que fodido destino…
Por algum motivo, Albert estava ali, sentado e bebendo, ignorando todos dali, mas ao sentir minha presença, se virou para me olhar.
— O que faz aqui? — Questiono, seco. Ele suspirou, se levantando devagar, enfiando as mãos nos bolsos e me olhando.
— Estou banido, não morto. — Rebateu, o que já me fez notar o quão fácil ele conseguia me irritar.
— Chegou bem próximo disso. — Insinuo e ele sorri de canto, dando de ombros, como se a questão sobre sua própria vida não tivesse importância.
— Mas não cheguei ao fim. — Ditou, me olhando em seguida, passando alguns segundos em silêncio. — Como você está?
— Isso importa? — Rebato de imediato e ele suspira, me olhando de uma forma estranha, como se fosse com… ternura?
— Sempre importou, Sebastián. Se ainda estou aqui é por você. Os outros sinceramente não me importa. Sei que nossa última conversa não foi das melhores e eu lutei muito para que ela não acontecesse. De qualquer forma, sei do seu temperamento… você herdou meus transtornos e manias, mas em quesito de teimosia, é igual a sua mãe… — Falou, me fazendo engolir em seco, podendo sentir o ar me faltar.
— Chega… não vamos falar disso agora! — Exclamo e ele assente, balançando a cabeça e me olhando novamente.
— O que estou tentando dizer… é que meu irmão não tem culpa de nada. Ele acolheu você, ele e a esposa te amaram igualmente aos seus primos… que acabaram se tornando seus irmãos. Eles amam você. Se quiser alguém para culpar, culpe apenas a mim. Eu que causei tudo isso…
— Pare! — O corto, chamando sua atenção. — Você está dentro de um conflito que não te pertence! Você assumiu uma traição que não foi sua! E agora quer me dizer como eu devo me sentir? — Avanço um passo em sua direção. — Eu queria muito culpar você, continuar te odiando com vim fazendo todos esses anos… Mas… ao mesmo tempo, imagino você presenciando uma dupla traição… tanto da mulher que amava, quanto do homem que considerava seu melhor amigo… Tento… me colocar no lugar e tentar imaginar o que eu faria numa situação como essa. E sabe? O resultado não é muito diferente do seu. — Falo, com a voz trêmula. Albert desviou o olhar, prendendo as lágrimas e tentando não desabar. — O que eu devo fazer…? — Minha voz sai em um sussurro, chamando sua atenção. — Me diz… o que devo fazer para essa raiva sumir? A família que eu acreditei ser minha… mentiu para mim a vida toda e me deixaram alimentar esse ódio por você. Como quer que eu aja? — Ele engoliu em seco, abaixando o olhar.
— Sinto muito… — Murmurou, não conseguindo nem ao menos olhar para mim, o que só contribuiu para me deixar ainda mais angustiado.
— Amor, por que a demora…? — Emmanuel apareceu ao meu lado, congelando ao ver Albert, me olhando em seguida. — Eu… devo voltar?
— Não. — Albert falou de repente, chamando minha atenção. Ele forçava um sorriso, dada a tensão em que estávamos antes. — Cuide bem dele, Sánchez… dê todo o amor… que eu não pude dar. — Falou, me olhando diretamente, o que me fez engolir em seco, querendo falar algo, mas não sabia o quê. — Vocês são lindos juntos. Não que… minha opinião valha de alguma coisa. Divirtam-se. — Falou, acenando com a cabeça e me virando as costas, indo embora da festa. Permaneço estático, sentindo o ar me faltar e a dor em meu peito aumentar.
Consigo imaginar por tudo que ele passou, sendo lixado a vida inteira, vivendo sozinho e fugindo, tentando se manter vivo. Tudo por um erro que ele não cometeu. Tudo porque ele amava intensamente a mulher que acabou o traindo da pior forma.
— Vai atrás dele… — Emmanuel aconselhou, com a mão em meu ombro em um gesto de apoio, chamando minha atenção. — Vai…
Sigo seu conselho, saindo da festa rapidamente, correndo na tentativa de alcançá-lo. Ele caminhava pela rua, e mesmo que houvesse pessoas andando para lá e para cá… ele permanecia sozinho, me sentindo de certa forma culpado, mesmo que indiretamente.
— Albert! — Chamo, mas ele não parou de andar.
— Volte para sua família, Sebastián… não quero mais incomodá-lo. — Ele falou, sem parar de andar, sem nem ao menos me olhar.
— Albert! — Chamo novamente, alterando o tom, irritado. Ele me ignorou, como se fosse justo ele entrar e sair da minha vida dessa forma. Minha respiração falhou, sentindo minha visão turva pelas lágrimas presas, enquanto o via se afastando. — Pai…! — Chamo, diminuindo o tom. Ele parou de andar repentinamente, me dando um pingo de esperança quando ele se virou, me olhando. Ele disfarçou na voz, mas seus olhos estavam banhados pelas lágrimas, me deixando pior do que já estava. Caminho até ele, aumentando a velocidade a cada passo, o abraçando fortemente. Pude sentir seu corpo enrijecer pela surpresa, demorando para reagir, e finalmente retribuindo ao abraço.
— Scusa, mio figlio… — Sussurrou, me apertando mais forte no abraço. Não aguentei, por mais que tivesse tentado me manter forte, desabei em seus braços, não conseguindo conter as lágrimas. — Está tudo bem, minha criança… você… foi o melhor presente que já recebi. — Albert falou, em uma calmaria invejável, afagando meus cabelos como se eu realmente fosse uma criança. E naquele momento, eu me senti uma.
— Como suportou tudo isso…? — Sussurro, com a voz falha.
— Suportei… sabendo que você ficaria bem de qualquer forma. — Falou, me fazendo soltá-lo do abraço, o olhando.
— Devia ter me dito… eu poderia ter feito alguma coisa… ainda pode voltar a ser…
— Não, Sebastián. — Me cortou, chamando minha atenção. — Se eu não te envolvi nisso tudo foi justamente para você não se preocupar comigo. Eu estou bem… na verdade, aliviado por ter tirado um peso das minhas costas. Mas… voltar a ser o que era antes… não há como.
— Você foi banido injustamente. Não pode carregar uma culpa que não é sua. Você é o líder…
— Francesco é um bom líder. — Ditou, me cortando, sorrindo fraco. — De qualquer forma, você permanece sendo o herdeiro. Mio figlio… você pode ser o que você quiser. Eu… eu estou cansado de tudo. Não penso em voltar aos negócios do Alto Escalão. — Ele me olhou, sorrindo carinhosamente. — Mas fico imensamente mais feliz por receber sua preocupação, um abraço seu… perdoe-me por não ser o pai que você merecia… — Murmurou, engolindo em seco, com os olhos marejados.
— Eu não… — Paro de falar quando ele pousa a mão em meu ombro, chamando minha atenção.
— Você é um homem feito, Sebastián. Tem poder e credibilidade. Ver que você adquiriu isso já me deixa extremamente satisfeito. Não se preocupe comigo… Temos muito em comum, e uma delas é odiar receber ordens. — Brincou, me arrancando um curto riso. Ele apertou meu ombro, me puxando para um novo abraço. — Sendo Líder ou Consiglieri… eu terei muito orgulho de você. Cuide-se… e do seu namorado também. — Falou, me soltando. Sorri fraco, assentindo. — Melhor voltar para a festa… — Aconselhou, e eu apenas assenti, vendo ele sorri, acenando e voltando a andar, de certa forma, me deixando orgulhoso por sua força. Mesmo com tudo que lhe ocorreu, ele ainda estava ali, de pé e com uma confiança que me fez admirá-lo pela primeira vez.
Mio papà…
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VERDADE OU CONSEQUÊNCIA? - Livro 3 da série A Ascensão do Alto Escalão
Romance"Mas você mentiu para mim. E isso vai me dá o direito de escolher uma consequência para isso. Não concorda?" PLÁGIO É CRIME! CRIE, NÃO COPIE :3