CAPÍTULO - TRINTA E DOIS

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SEBASTIÁN FONTANA

Uma filha!

Uma maldita filha!

Parece que ultimamente eu só ando atraindo mentirosos na minha droga de vida! Mas eu notei o desespero no olhar dele, e no quanto isso poderia acabar mal. Mesmo que eu estivesse com raiva ou magoado, não queria que ele acabasse ferido… ou na pior das hipóteses, morto. Sei como a Corte pode ser cruel, e pior ainda... o Conselho.

Toco a campainha, e não demorou para que aquela pirralha de cabeleira loira abrisse a porta, arregalando os olhos ao me ver, querendo fechar a porta rapidamente, mas a segurei com o braço, adentrando a casa.

— Está maluca, sua pirralha?! — Exclamo e ela se afasta rapidamente, mordendo o lábio inferior, nitidamente com medo.

É bom que tenha! Estou por um fio de matar alguém!

— O que você quer? — Questionou, o que me fez suspirar.

— Não sabia que tinha virado dona da casa. — Resmungo, e não demorou para avistar Albert descendo as escadarias, me olhando com surpresa.

— Sebastián? Se eu soubesse que viria teria preparado algo… — Falou, sorrindo levemente. Balanço a cabeça, suspirando.

— Estou tentando fugir de algumas pessoas… posso usar aqui como refúgio? — Questiono e ele sorri largamente.

— Não precisa perguntar, mio figlio… esta também é sua casa. — Falou, me indicando o sofá. O acompanho, me sentando e o vendo se acomodar ao meu lado. — O que aconteceu?

— O que acontece… se um soldado tem uma filha com um inferior? Ele pode morrer? — Questiono, o olhando. Ele arqueia uma sobrancelha, parecendo surpreso.

— Você teve uma filha com uma…?

— Óbvio que não! — Exclamo e ele suspira, parecendo aliviado. — O Emmanuel teve. — Falo e ele me encara, parecendo surpreso.

Principessa, pegue o uísque na adega para nós, pode ser? — Albert falou, e a pirralha loira prontamente concordou, correndo pela casa com seu vestido rodado e irritantemente rosa. Albert logo voltou sua atenção para mim.

Após todos os problemas que tivemos, todo o rancor que nutri, todas as nossas discussões, o observando agora… Albert aparentava ser um homem maduro, apesar de tudo, com uma aura paterna que nunca pude sentir presente, mas agora, mesmo após eu declarar inúmeras vezes que o odiava, ele mantinha um olhar terno, uma atenção carinhosa, que me fez sentir confortável, como se fizéssemos isso há anos.

— Como está se sentindo? — Questionou, enquanto a menina entregava a garrafa de uísque e os copos. Albert logo nos serviu, agradecendo a Elise.

— Enganado… de novo. — Resmungo e ele me olha ternamente, entendendo minha angústia.

— Imagino… Vocês ao menos conversaram? — Bebo um gole do uísque, negando com a cabeça.

— Eu não quis conversar. Russel descobriu e foi buscá-lo pessoalmente em casa. Não chegaram a um consenso e ele decidiu contatar o Conselho. — Falo e Albert ligeiramente me encara, com espanto. Eu também me assustei quando o ouvi, mas busquei não demonstrar, apesar de por dentro estar em pânico.

— Isso não vai acabar bem… nem imagino como ele deve estar se sentindo… — Comentou, chamando minha atenção.

— Ele pode morrer por causa dessa inferior… — Murmuro, com um nó na garganta.

— Eu o entendo. — Falou, o que me fez encará-lo rapidamente. — Fazemos tudo por nossos filhos. Damos a vida, se preciso. Se ele escondeu isso, não pode culpá-lo, Sebastián. Já é difícil sobrevivermos a esse mundo. Ele certamente será julgado quando todos descobrirem desse caso. Ele vai precisar de todo o apoio possível… Você o ama, não? — Falou, o que me fez engolir em seco.

— Amo… Mas acabei o deixando sozinho… — Balbucio, vendo ele sorri compreensivo.

— Também está no seu direito. Foi pego desprevenido. Tudo que vocês precisam fazer agora é sentar e conversar. Vindo do Conselho… não virá coisa boa. — Falou, o que me fez respirar fundo, bebendo o uísque de uma vez.

Vejo a ragazza loira saltitar até o sofá à nossa frente, se sentando delicadamente e nos olhando, com um sorriso genuíno.

— Por que cuidar de uma inferior de repente? — Questiono e ele sorri, olhando em volta, como se observasse a própria casa.

— Eu me sinto menos solitário. Não quero voltar a ter relação com ninguém. Mas uma mulher na casa torna tudo realmente mais colorido. Dá vida ao ambiente. Elise… é como uma filha que eu decidi adotar. Preenche um pouco o vazio que era essa casa. — Comentou, me fazendo olhá-lo.

— Não precisa mais se sentir assim… — Balbucio e ele me olha com ternura, pousando a mão em meu ombro.

— Eu sei, figlio. Desculpe por te causar tanto sofrimento… — Apenas balanço a cabeça, sorrindo fraco.

— São águas passadas. — Ele sorriu, concordando.

— Quer ficar para o almoço? Seria ótimo ter sua companhia. Ao menos você esfria a cabeça e pensa melhor no que fazer. — Albert sugeriu e eu concordei, agradecendo. — Vou preparar algo especial, então. — Ditou, chamando minha atenção.

— Você cozinha?! — Ele riu, se levantando.

— Tenho muito tempo livre. — Falou, dando de ombros e seguindo para a cozinha, deixando eu na companhia daquela pirralha. Tentei ignorar sua presença, mas ela me olhava fixamente, parecendo curiosa.

— Perdeu algo? — Resmungo e ela faz bico, sorrindo levemente.

— Vocês se parecem. — Comentou, chamando minha atenção. — Você e o senhor Albert. Vocês não perceberam, mas ficam girando os anéis nos dedos frequentemente, e fizeram isso ao mesmo tempo. — Falou, o que me fez respirar fundo.

— Você é muito intrometida. — Falo e ela dá de ombros, como se não ligasse.

— E você é assustador! Nisso não se parece nada com o senhor Albert. Sobre o cara que conversavam… não seja idiota. Ajuda ele. — Ditou, o que me fez arquear uma sobrancelha em questionamento.

— Não preciso dos conselhos de uma pirralha intrometida! — Ralho e ela arqueia as sobrancelhas.

— Você que é mal educado! E não sou pirralha! Já sou adulta! — Exclamou, o que me fez ri. Só o jeito dela de fazer bico e bater o pé enquanto cruza os braços já demonstra a imaturidade.

— É uma pirralha que ainda não saiu das fraldas. — Resmungo, bufando e me colocando de pé. Ela pensou em reclamar, mas a encaro friamente, vendo-a se encolher, tentando disfarçar o tremor que sentia.

Tudo que me vem à mente agora é Emmanuel… e a filha que ele escondeu.

Precisava fazer alguma coisa...

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA? - Livro 3 da série A Ascensão do Alto Escalão Onde histórias criam vida. Descubra agora