CAPÍTULO - TRINTA E UM

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EMMANUEL SÁNCHEZ

Meu coração só faltava sair pela boca de tanto pavor. Eu segurava Dulce com tanto medo de tirarem ela de mim que ela até chegou a reclamar que eu estava a abraçando forte demais. Agora estávamos ali, na sala de reuniões da Corte, com Russel, Sebastián, Natalie e meus irmãos me encarando. É óbvio que nada passaria batido aos olhos do Supremo e isso realmente me causou pânico. Ainda mais por Sebastián ter descoberto dessa forma. Da pior maneira possível. Ele estava sério e de cara fechada desde o momento em que me trouxeram para cá.

— Quer começar, Sánchez? — Russel questionou, com um olhar cortante em minha direção. Natalie chorou todo o caminho, temendo pela nossa pequena e tentava se manter forte agora, por mais que a situação fosse devastadora.

— Senhor… eu sei que quebrei a maior regra do nosso mundo. Mas… eu era um adolescente. Não sabia direito o que estava fazendo. Nos envolvemos num momento e numa idade onde tudo é intenso demais. Não há razão. Não demorou até que… eu soubesse da gravidez. O que o senhor queria que eu fizesse? Que eu me livrasse da minha filha?! — Questiono, trêmulo.

— Não me interessa! Você sabe das regras e mesmo assim tentou passar por cima de mim! — Ralhou, em fúria. Ele respirou fundo, alternando seu olhar entre Natalie e Dulce, me deixando angustiado.

— Russel… você também é pai. Por favor, deve saber como eu estou me sentindo. — Falo, com os olhos marejados, chamando sua atenção. — Eu sei das regras e fui um tolo ao quebrá-las. Mas não vou permitir que machuque minha menina. — declaro e ele suspira, cruzando os braços e me encarando seriamente.

— Você é um mero soldado, Sánchez. — Ditou, caminhando em minha direção, me fazendo engolir em seco. — Não importa de quem seja filho. Você não é o futuro líder da Corte, e mesmo assim, tem influência no Alto Escalão por conta do seu sobrenome. Sabe no que isso pode acarretar? Outros terão direito de fazer o mesmo. De "errar" e depois me pedir desculpas achando que é o suficiente. Você teve uma bastarda com uma inferior e ainda quer me pedir misericórdia usando meu filho como meio?! — Seu tom se alterou, o que me fez notar que ele estava nitidamente irritado. — Meu filho tem sangue legítimo, tem sangue do Alto Escalão… — virou seu olhar para Natalie, que engoliu em seco, assustada. — não de uma mundana insignificante. Não ouse abrir a boca e tentar usar meu filho para livrar sua inconsequência! Muito menos compará-lo… com uma bastarda!

— Chega! — Natalie gritou, me surpreendendo e atraindo o olhar frívolo de Russel. — Já entendemos o quanto nos odeia! Mas acha que somos os únicos?! — Natalie rebateu, me fazendo arregalar os olhos em espanto. — Acha que somente o Emmanuel se envolveu com alguém fora da máfia?! Isso não tem como controlar. Você está privando as pessoas de amarem! Se acha superior por ser um criminoso?! Isso é exemplo?!

— Natalie! Cale-se! — Exclamo, vendo Russel sorri de canto, a agarrando de súbito pelo pescoço, o que me fez cobrir os olhos de Dulce, com medo de que o pior acontecesse.

— Sua insolente! Com quem acha que está falando?! — Ralhou, em fúria.

— Russel! Por favor, não a machuque. Tudo bem, eu assumo a culpa, eu a procurei. Eu que me envolvi com ela. Deixe-as em paz! Me mate se precisa enviar algum exemplo para os demais. — Falo e Sebastián logo me olha, vindo para o meu lado. Até então ele estava em silêncio, me deixando temeroso caso agora ele me odiasse.

— Russel… — Sebastián chamou, respirando fundo. — Amy não é uma inferior? — Questionou, chamando a atenção de Russel.

— O quê…?

— A ex de seu irmão, madrinha do casamento dele. Ramon, amigo do seu cunhado, também padrinho de casamento. Ambos não são inferiores? E mesmo assim eles estão presentes no nosso mundo, como se fossem do Alto Escalão. Ou a regra não conta para sua família? — Sebastián falou, me fazendo arquear as sobrancelhas, desacreditado. Russel suspirou, soltando Natalie bruscamente, o que a fez tossir, com a mão massageando o pescoço. Me aproximo dela, tentando passar algum tipo de conforto, mesmo que eu não soubesse fazer isso já que estava temendo o pior.

— Ninguém teve um bastardo como filho!

— A ragazza ainda é nova. — Sebastián falou, me olhando por alguns segundos. Ele ainda estava sério, mas por algum motivo estava me ajudando. — Ela pode crescer no nosso meio e jamais irá lembrar do pouco que viveu no mundo inferior. Já a donna… — Ele olhou para Natalie, balançando a cabeça. — Deixo em suas mãos. — Russel a olhou e depois para Dulce em meus braços. Ele nos virou às costas, massageando sua têmpora e nos olhando novamente.

— Chamarei o Conselho. — Ditou, por fim, agora me fazendo estremecer, em pânico.

— O Conselho?! Russel… não é para tanto… por favor, tenta me entender. — Imploro, assustado.

— Russel, Emmanuel errou, sabemos... Mas isso é demais... Por favor, reconsidere...! — Matías pediu, agora assustado.

— A inferior estará sob vigilância até a reunião do Conselho. — Declarou, saindo em seguida, sem esperar uma resposta.

— Eles não vão ter piedade…! — Falo, não conseguindo mais prender as lágrimas.

— Quem são eles? — Natalie questionou, me olhando com receio.

— Famílias da realeza. Muito acima de nós, e que só o Supremo tem contato. — Falo, vendo ela engolir em seco, nervosa. — Vai ficar tudo bem… eu espero.

— Vamos embora. — Sebastián ditou, seco, passando por mim, sem nem ao menos me olhar.

— Nat, pode ir na frente? — Lhe entrego as chaves do meu carro, vendo ela apenas concordar, beijando a cabeça da Dulce, a pegando nos braços cuidadosamente, sorrindo fraco e saindo. Sigo atrás de Sebastián, o vendo já subir em sua moto. — Amor, espera…! — Peço e ele me olha bravamente.

— Uma filha?! Você era o único que eu acreditava não ser capaz de mentir e você me esconde uma filha?! — Exclamou, me deixando pior do que já estava.

— Eu ia te contar, mas você sempre ficava alegando seu ódio por inferiores e fiquei com medo de que me rejeitasse… — Falo, choroso. — Nosso mundo é cruel demais, Sebastián… até mesmo para uma menininha de apenas 3 anos. — Ele suspirou, apoiando o capacete à sua frente, repousando os braços sobre o mesmo, me olhando seriamente. — Eu… eu amo você. Amo demais. Eu só estava tentando proteger minha filha. Fiquei com medo… mal consigo dormir à noite querendo garantir que ela esteja segura… Não sei o que fazer. Posso perder tudo agora… por favor, não quero perder você também… — Peço, com as lágrimas caindo livremente. Sebastián suspirou, balançando a cabeça e colocando o capacete.

— Preciso de um tempo, Emmanuel… — Ditou, ligando a moto e indo embora, me deixando sozinho, aos prantos, com uma dor em meu peito, assustado e preocupado. Mas agora… eu tinha que me manter firme e garantir a segurança da minha filha. Não poderia fraquejar agora…

— Venha, Em... — Santiago chamou, e só então notei que ele estava ali perto junto com Matías, apenas me esperando. Sigo rapidamente até eles, os abraçando fortemente e sendo acolhido pelos meus irmãos. Eu queria ser forte, queria arrumar uma solução para tudo...

Mas está doendo tanto…

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA? - Livro 3 da série A Ascensão do Alto Escalão Onde histórias criam vida. Descubra agora