CAPÍTULO - VINTE

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ALBERT FONTANA

— Aqui sua mercadoria. — Dois homens empurraram a loira aos meus pés. Ela gemeu de dor, chorosa, completamente assustada. Entrego a maleta, preenchida por notas altas. Enquanto eles conferiam o valor exigido, puxo a garota pelo braço, a ajudando a se levantar. Ela me olhava com pavor, certamente desejando que aquele pesadelo acabasse. — Tudo certo. Obrigado pela compra. — O homem sorriu, me estendendo a mão, mas não a aperto. Apenas sustento o olhar, o encarando com indiferença. Ele limpou a garganta, recolhendo a mão e acenando, se despedindo com um sorriso nojento para a loira ao meu lado.

— Como se chama? — Questiono, me virando de frente para ela. A garota era magra e pálida, parecia não se alimentar direito há dias. E mesmo naquele frio de matar, ela estava usando apenas um vestido branco, curto e quase transparente.

— Elise… por favor… não me machuque… — Pediu, em súplica.

— Quantos anos você tem? — Questiono, ignorando seu comentário.

— 16… — Balbuciou e eu apenas assenti, retirando meu sobretudo e entregando a ela, que me olhou confusa.

— Vista-se. Ou vai morrer de hipotermia. — Ordeno e ela rapidamente se cobre. — Tem família? Amigos? Alguém? — Questiono, e sua cara de choro se intensifica, balançando a cabeça em negativa.

— Eles que me jogaram naquele lugar… com aqueles homens… — Murmurou, o que me fez suspirar.

— Famílias são difíceis… venha. — Chamo, e mesmo receosa, ela me acompanha até o carro.

Após instalá-la devidamente em seu novo quarto, eu tive que resolver alguns assuntos pendentes e só retornei para casa no dia seguinte. A garota parecia mais animada, eu diria que encantada com o lugar. Uma mansão ampla e arejada, com paredes de vidro que iluminavam o ambiente, além de ser afastada da cidade e rodeada por um jardim belíssimo e bem cuidado. Eu tenho uma paixão imensa por minhas rosas vermelhas que embelezam tanto aquela imensidão verde. É a única coisa que pode me oferecer um pouco de paz nesse mundo podre.

— Bom dia, senhor! — Elise exclamou, sorridente, me servindo um café. A observo, um tanto quanto curioso.

— Você me parece bem para quem acabou de ser comprada. — Comento, analisando o café. — Está envenenado?

— Que horror! — Exclamou, parecendo realmente ofendida. — Ao contrário daqueles asquerosos, o senhor não me machucou e disse que não faria isso… não é? — Falou, o que me fez suspirar.

— Por que eu machucaria você? É só uma menina. Detesto tráfico de menores, e pior ainda é o que eles fazem depois com essas meninas. Não se preocupe, ragazza, não tenho interesse em crianças. — Falo, finalmente tomando o café. Estava quente e saboroso. Ela sorriu, corando.

— Obrigada… não sei o que o fez me escolher, mas obrigada. — Murmurou e eu apenas assenti.

— Se essa compra não ocorresse, você seria jogada em um bordel. Por isso a comprei. E devo dizer… você é bem cara. — Resmungo, passando por ela e me acomodando no sofá, cansado da viagem. Ela rapidamente correu até mim, retirando meus sapatos e começando uma massagem em meus ombros. — O que está fazendo?! — A afasto, a olhando friamente.

— O senhor me salvou. Quero ser útil de alguma forma. Não me sinto bem usufruindo de tudo isso sem fazer nada em troca. — Falou, o que me fez respirar fundo.

— Eu gosto da ideia de ter uma figura feminina pela casa… — Balbucio, deixando a xícara de café sobre a mesinha de centro, girando a aliança em meu dedo anelar. — Ficar sozinho por tanto tempo é muito mais cansativo… — Ergo o olhar, a encarando. — Seja simplesmente você. Seja a adolescente que você é. Já é o suficiente.

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA? - Livro 3 da série A Ascensão do Alto Escalão Onde histórias criam vida. Descubra agora