CAPÍTULO - TRÊS

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SEBASTIÁN FONTANA

Acendo meu cigarro. Aquela merda era praticamente o meu segundo coração. Um vício de anos e que não penso em parar. Nunca me passou pela cabeça na verdade. Fanculo, eu tenho 25 anos e minha expectativa de vida é 30. Quem liga para o que a porra do cigarro pode fazer quando o perigo maior é o meu sobrenome?!

— Foi mal a demora… mas o culpado é você. — Olho para frente, sorrindo maldoso ao ver Emmanuel, usando um cropped vermelho, com detalhes em renda, deixando amostra sua barriga surpreendentemente trincada, com calça jeans destroyer e coturnos negros. Sua expressão era de puro desconforto e irritação, o que me agradava ao vê-lo se sentar rapidamente, com um sobretudo dobrado no braço.

— A segunda parte? — Questiono e ele torce os lábios em desgosto.

— Eu estou usando!

— Deixa amostra. — Ordeno e ele franze as sobrancelhas, irritado, olhando para os lados. Estávamos em um rodízio de pizza, como eu havia prometido cumprir. Ele suspirou, mexendo seus dedos por dentro do cós da calça e puxando a alça da calcinha de renda vermelha mais para cima, a deixando em evidência.

Ele realmente combinava com vermelho…

— Isso é um jogo nosso. Não é necessário que todos me vejam assim. Posso colocar o sobretudo? — Pediu, mas eu neguei, tragando meu cigarro e me recostando na cadeira.

— Não teria graça que só eu visse. É uma consequência, não? — Insinuo e ele bufa, revirando os olhos e bebendo um pouco da água que era servida antes de tudo. As pizzas começaram a chegar, em fatias, de vários sabores. Algumas eram estranhas, como de calabresa e que Emmanuel pediu primeiramente.

Os demais países insistiam em estragar algo delicioso e que pertencia ao meu País.

Pego uma fatia na mão, pronto para comer, mas encaro Emmanuel, desacreditado, vendo ele encher a pizza de ketchup. Meus olhos estão sangrando!

Fanculo! O que acha que está fazendo?! — Exclamo, assustando Emmanuel, que me olhou sem entender.

— O que foi?

— Você está estragando a pizza! — Exclamo, irritado. Ele me encara confuso, mas então o figlio di puttana sorriu, colocando mais ketchup na fatia e mordendo aquela porcaria.

— Isso é delicioso. — Apontou, com a boca suja daquele molho vermelho. Faço careta, querendo matá-lo.

— Você é doente! VOCÊS NÃO SABEM FAZER A PORRA DE UMA PIZZA?!! — Grito, chamando a atenção dos garçons. — Sem porcaria de calabresa, sem porcaria de ketchup! Vocês querem o quê?! Isso pode ser considerado qualquer coisa, menos uma pizza! — Exclamo e Emmanuel sorri, cruzando os braços e me olhando com a sobrancelha erguida, em desafio.

— Ótimo… Verdade ou Consequência? — Questionou, e eu quase o xinguei, mas decidi ver o que ele queria.

— Consequência. — Ele sorriu, se levantando e lambendo os lábios sujos de molho.

— Sua consequência é fazer uma pizza à moda italiana. — Falou, e eu não pensei duas vezes em aceitar. Iria mostrar para aquele estabelecimento como era que se fazia um fanculo de uma pizza!

Emmanuel pediu ao dono do estabelecimento que me deixasse fazer uma receita diferente. Eu ignorei os dois conversando e adentrei os fundos até chegar à cozinha, assustando os cozinheiros que estavam fazendo "pizzas" e entupindo as massas de ketchup.

EU VOU ENTUPIR A GARGANTA DELES COM ESSA MERDA!

Puxo um avental com certa brutalidade, assustando os cozinheiros que se afastaram, me olhando sem entender. Então começo a preparar a verdadeira pizza, vendo os ingredientes que tinha ali e optando por fazer o meu sabor preferido: Prosciutto e funghi. Com fiambre cru. O sabor era simplesmente único. Fiz com extrema paciência, enquanto os cozinheiros assistiam curiosos. Emmanuel já estava na cozinha, sentado na mesa e de braços cruzados, enquanto me observava com um sorriso que não sumia nunca. Eu odiava cozinhar, mas aquela droga de estabelecimento devia fechar por tamanha audácia em não saber fazer direito nem uma pizza.

— Aqui. — Falo, tirando a pizza do forno e retirando as luvas de cozinha junto com o avental. Emmanuel lambeu os lábios, ansioso, descendo da mesa e cortando uma fatia da pizza. Ele cortou um pedaço com o garfo por ainda estar quente e o levou até a boca, comendo e me olhando. Ele mastigava lentamente, como se fosse um chefe julgando minha especiaria.

— Sem condições. — Falou, por fim. — Deliciosa, mas… — Ele ousou pegar o ketchup, e eu rapidamente agarrei seu pulso, o olhando ameaçadoramente.

— Estrague a pizza que eu fiz e aí sim não faltará molho vermelho nessa cozinha. — Ameaço e ele sorri, erguendo as mãos em rendição. Ele pegou mais uma fatia, comendo com vontade.

— Nossa… Quem imaginaria que um homem como você saberia cozinhar tão bem? — Emmanuel comentou, sorrindo e me acompanhando para fora da cozinha, voltando a nos sentarmos na mesa, mas eu já tinha perdido o apetite.

— Tenho muitos talentos a qual você não está preparado para saber. — Falo e ele se inclina na mesa, se apoiando nos braços e sorrindo desafiadoramente para mim, olhando fundo nos meus olhos.

— Será que não…? — Insinuou, chamando minha atenção. Observo o cordão em seu pescoço, e então agarro a corrente, o puxando e o trazendo para mais perto, o assustando.

— Tenho certeza. — Afirmo, e dessa vez ele ficou calado, apenas sorrindo. O solto, respirando fundo e me recostando na cadeira, girando os anéis em meus dedos, em uma mania que sempre tive desde a adolescência. Especialmente quando ficava nervoso ou impaciente.

— Bom, agora que comi uma verdadeira pizza italiana… podemos ir? — Questionou e pela primeira vez concordei com ele, me levantando e vendo ele abrir o sobretudo, querendo vesti-lo, mas arranco o sobretudo de suas mãos, chamando sua atenção.

— Só acaba quando você estiver na sua casa. — Falo e ele suspira, fazendo um bico.

— Não vou aparecer assim na frente dos soldados. — Ditou e eu dou de ombros.

— Assuma sua consequência. — Provoco, caminhando na frente, seguindo até a minha moto.

Foi uma quebra de rotina, definitivamente, apesar de eu nunca seguir um padrão.

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA? - Livro 3 da série A Ascensão do Alto Escalão Onde histórias criam vida. Descubra agora