Sem rumo

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Ao chegar no hospital particular Santana, Sara desceu do táxi e olhou maravilhada para o grande prédio antes de passar pelas portas automáticas. Desde pequena, graças a sua mãe, cirurgiã chefe do Hospital de Cezário, sempre teve fascinação por hospitais. Cresceu sonhando seguir os passos da mãe e, no futuro, trabalharem lado a lado.

Segurou a vontade de chorar ao dar-se conta de que a sua mãe já não vivia e, no lugar de ocupar um cargo num hospital, jogou anos de estudo no lixo após se casar. Agora, sem as memórias do que estudou, estava longe de tornar realidade o seu sonho de ser médica.

Inesperadamente insegura, foi até o balcão de atendimento do hospital. A atendente, uma mulher loira de olhos castanhos, falava ao telefone e nem mesmo a olhou quando se aproximou e colocou ambas as mãos no balcão.

— Boa tarde, meu nome é Sara Almeida. Preciso falar com a diretora do hospital, a doutora Tatiana Santana — informou assim que a mulher desligou o telefone e a mirou de cima a baixo com uma fina sobrancelha arqueada.

Diante do olhar raio-x da mulher, incomodada admitiu que as roupas que usava não eram adequadas a um hospital tão chique e nobre quanto aquele. A culpa era do gosto austero adquirido nos últimos dez anos. Não encontrou sequer uma roupa que a agradasse, sobrando a opção de vestir calças de moletom azul e camiseta verde que encontrou no lado do closet de Rodrigo. Podiam ser esportivas demais, mas eram peças novas e confortáveis. E a sandália rasteirinha dourada, mesmo não combinando com o resto da vestimenta, era uma graça.

A loira se ajeitou na cadeira e declarou séria:

— A senhora tem hora marcada?

Sara ficou sem ação por um momento, se condenando internamente por ter se esquecido de telefonar. Irônico.

— Não, mas...

— A diretora só atende clientes com hora marcada. — A mulher a interrompeu com um sorriso debochado.

Mesmo querendo dar uma resposta grosseira, Sara decidiu por voltar outro dia, afastando-se do balão e seguindo desolada em direção à porta do hospital.

— Sara?!

Virou-se, encarando confusa uma mulher de cabelo castanho curto e olhos escuros que lhe sorria. Era funcionária do hospital, pois se vestia toda de branco e tinha um crachá com o seu nome estampado.

— Desculpe! Te conheço?

— Quem tem que se desculpar sou eu por ser desatenta com o seu caso. — A mulher estendeu a mão. — Sou Suzana, trabalho no hospital como psicóloga clínica. — Recebendo o aperto continuou a falar. — Desculpe-me também por não tê-la visitado durante a sua internação. — A mulher olhou ao redor. — E onde está o senhor todo-poderoso?

— Não está comigo — esclareceu ao se dar conta que Suzana se referia a Rodrigo. — Vim ver a minha madrinha, mas me esqueci de marcar hora.

— Marcar hora? — Suzana riu divertida. — Tatiana te atenderia mesmo sem marcar horário.

— A moça ali não quis chama-la. — Apontou para a loira no balcão que escutava a conversa com interesse.

— Olivia, informe a Tatiana que Sara Montenegro quer lhe falar — pediu Suzana.

— O seu sobrenome não é Almeida? — a mulher indagou a olhar Sara com desconfiança.

Novamente, Sara esqueceu que agora o seu sobrenome era Montenegro. Estava pronta para explicar a situação, mas Suzana adiantou-se.

— Esse era o nome de solteira dela. De qualquer forma, a anuncie para Tatiana.

A mulher pegou o telefone e discou, pela expressão dela, Sara notou que o fazia de muita má vontade.

Páginas em Branco ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora