Sara levantou cedo, fez sua higiene matinal e vestiu uma camiseta de Rodrigo, que a cobria até os joelhos antes de caminhar sonolenta e faminta para a cozinha.
Na geladeira selecionou vários ingredientes para fazer um sanduíche perfeito. Montava seu lanche quando Rodrigo entrou na cozinha, o cabelo úmido e penteado, o corpo coberto por terno escuro e segurando uma valise de couro marrom.
Sobre o olhar cauteloso de Sara, ele colocou a valise na mesa e foi até à cafeteira servir-se de café. Para aflição da ruiva, enquanto bebericava o líquido, Rodrigo encostou-se a pia e observou cada movimento dela.
Após passar a noite incomodada por ele não a ter beijado, ter aqueles penetrantes olhos escuros sobre sua pessoa lhe causava arrepios pela pele. Tentou ignorar a reação a presença dele e focar no lanche, mas Rodrigo a atraia como um ímã.
"Também, além de ser lindo, tem um olhar matador capaz de abalar uma mulher".
— Cala a boca! — ordenou ao seu pensamento fora de hora.
— O que disse? — perguntou Rodrigo com uma sobrancelha arqueada.
— Nada. — Encarou Rodrigo com raiva. A culpa era dele por ficar olhando-a fixamente. — O que foi? Nunca me viu antes?
— Preparando algo sozinha, não — respondeu apontando para o sanduíche.
— É só um sanduíche, nada elaborado — desdenhou. — Não sou uma dondoca como a senhora Montenegro.
— Nunca vi a "senhora Montenegro" na cozinha, mas classificar de dondoca é um exagero — ele defendeu com um pequeno sorriso.
Sara dividiu-se entre gostar da defesa ou ter ciúmes dela. Era estranho ser a pessoa da qual ele falava e, ao mesmo tempo, não ser.
— Aposto que você também não entra aqui muitas vezes.
— Meu café não se faz sozinho — ele informou, erguendo sua xícara.
— A Marta que faz o café.
Pela expressão interrogativa, percebeu que ele não sabia de quem ela falava.
— A empregada. — Bufou irritada. — Não sabe nem o nome da mulher que lava e passa para você?
— Ela chega praticamente quando estou de saída, só a conheço de vista — ele retrucou sorvendo seu café antes de completar com pouco caso. — E foi você que a contratou - trocando de empregada pela milionésima vez desde que nos casamos -, então não achei necessário decorar o nome.
"Recebeu o troco do senhor iceberg tentador". Fez uma careta pelo pensamento incomodo.
— Gosto de cozinhar, e quero fazer a minha comida, se permitir — disse temendo que ele negasse.
— A casa também é sua, Sara. É livre para fazer o que quiser.
— Não foi o que pareceu ontem quando sai sem te informar.
Rodrigo respirou fundo, os olhos queimando com a mesma reprovação do dia anterior.
— Nuca te proibi e nem proibirei de ir e vir. Me preocupei com sua segurança em uma cidade que você desconhece.
— Sei me cuidar — garantiu teimosa. Ele assentiu, decidido a não discutir.
Sentindo-se vencedora da discussão, foi até a cafeteira encher seu copo com o café que Rodrigo dizia ter preparado, ainda duvidando dele. Não que ele ganhasse algo mentindo, mas era difícil imaginar alguém tão empertigado fazendo algo sem um empregado do lado.
— Não deve beber esse café — Rodrigo disse com o olhar cravado nela.
— Só porque o senhor mandão não quer? — resmungou irritada por ele, depois de lhe garantir a autonomia, lhe dar ordens. Rebelde, tomou o café em um gole só. Para logo depois cuspir tudo na pia.
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Páginas em Branco ~ Degustação
Romance+18 ~ Sara dedicou dez anos de sua vida a Rodrigo Montenegro, seu marido ~*~ - Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara. - Tudo te irrita - retrucou farta de lutar por aquele casamento. - Queria nunca ter me apaixonado por um egocên...