Revista

796 78 1
                                    

Sentada em sua cadeira giratória, Isabel admirava o que considerava a realização de seu maior desejo, seu trunfo contra Sara Montenegro, a garantia de que a vida dela seria abalada, assim como a sua havia sido anos atrás pelo ciúme obsessivo da Montenegro.

Apreciava extasiada a nova edição da revista Famous, cuja capa estampava uma foto do casal Montenegro rasgada ao meio, abaixo da foto a legenda intrigante: "Casal Montenegro perto de um eminente divórcio?". Nas páginas internas da revista mais fotos, essas tão comprometedoras que deixavam claro o motivo da legenda da capa.

Apertou a revista contra o peito e forçou sua cadeira a girar enquanto ria divertida.

— Está magnífica — comemorou.

— Quanta felicidade — resmungou Gabriel sentando na beirada da mesa. — Não entendo esse prazer em prejudicar os Montenegro. — A fitou com interesse. — Continua apaixonada por Rodrigo Montenegro por acaso?

Isabel bufou irritada. Pelo jeito seus colegas - um bando de fofoqueiros sem o que fazer -, andaram espalhando sua antiga paixão pelo marido da ex-amiga. Quantas vezes teria que repetir que sua paixão pelo moreno de profundos olhos negros acabará anos atrás, muito antes do casamento dele? Não era mais uma adolescente deslumbrada, era uma mulher em busca de revanche.

— Não tenho nenhum interesse no Rodrigo. — Olhou para o ruivo de forma lasciva, as unhas compridas pintadas de roxo deslizando devagar pela coxa dele. — Prefiro outro homem mais... vibrante.

Gabriel se inclinou sobre a loira, sua respiração se mesclando com a dela. Por um louco e excitante instante, Isabel pensou que Gabriel iria beija-la, porém o ruivo desviou seus lábios em direção ao ouvido dela para sussurrar com sua voz grave e profunda:

— Então pare de agir de forma infantil.

Gabriel se levantou e seguiu em direção à sala que ocupava, sem dirigir sequer um olhar para a surpresa Isabel.

A atitude dele apagou por alguns instantes o brilho da vitória dos olhos da loira, porém logo afastou essa sensação e voltou sua atenção para a revista, sendo novamente dominada pelo sentimento de dever cumprido.

O gosto da vingança é saboroso.

~*~

Rodrigo tomou seu café sem desviar os olhos da porta da cozinha. Durante todo o tempo esperou que a esposa aparecesse e o cumprimentasse com um sorriso, ou pelo menos conversasse com ele.

Era incrível que - após anos reclamando da forma que a esposa agia quando irritada -, começasse a sentir falta da Sara que esbravejava, arremessava objetos e fazia um escândalo acalorado. Sentia que era melhor que o enorme vácuo que ficara após o que contara na noite anterior. Era como se Sara não tivesse se importado. Isso o incomodava de uma forma que nunca imaginara ser possível. O pior é que não conseguia apagar a imagem de Sara se inclinando para beijá-lo na testa. Um beijo fraterno demais para um casal.

Como tudo podia ter chegado aquele ponto? Por mais que tivesse errado ao pedi-la em casamento, alimentando esperanças no coração apaixonado dela, nunca pretendeu prejudicá-la ou magoá-la, apenas pareceu uma boa ideia na época. Como poderia imaginar que Sara se anularia em função dele? Ou que cometeria todas as loucuras que cometeu?

Sua decisão partira de um ato calculado, como todos que fazia, somente pensara na vantagem de ter uma mulher que louvava o chão que pisava, que seria incapaz de trai-lo. E mesmo que o fizesse não o atingiria, afinal não a amava. Mas agora...

Balançou a cabeça frustrado. Se ela tinha agido daquela forma só por saber que o casamento deles fora baseado em um amor unilateral, o que diria quando contasse que sua secretária, Karen, era a tal noiva?

Levou a mão a têmpora massageando o local, as memórias das consequências da primeira vez que ela descobrira ainda bem vívidas. Talvez dessa vez ela nem ligasse, mas poderia decidir pelo divórcio. Não aceitaria de forma alguma. Havia sido difícil falar sobre seu noivado fracassado e de que por isso a pedira em casamento, mesmo sem ama-la, mas seria ainda pior abrir mão da esposa.

Sara se tornou importante em sua vida de várias formas e lutaria para receber de volta todo amor que ela lhe devotara antes do acidente. Dessa vez de forma correta. Após essa decisão olhou para o relógio digital pendurado na parede acima da porta da cozinha, era hora de ir trabalhar.

Respirou fundo, pegou sua maleta e caminhou em direção à saída do apartamento.

~*~

Karen se jogou de qualquer jeito sobre a cadeira que ocupava na antessala do escritório de Rodrigo. Em alguns minutos ele chegaria e se trancaria em sua sala sem lhe dirigir a palavra como nos últimos dias.

Estava chateada com a atitude dele diante dos últimos acontecimentos. Rodrigo começava a tratá-la com mais frieza que o habitual, passava a impressão de que desejava despedi-la ou remaneja-la, só não tivera coragem suficiente, por enquanto. Era justamente esse "por enquanto" que a enlouquecia. Como poderia reconquista-lo sem estar perto o tempo todo?

Era notável que a cada dia o interesse e preocupação do patrão em relação à esposa desmemoriada aumentavam. Antes Rodrigo ficava até tarde no trabalho, revisava vários contratos e sempre com ela ao lado. Mesmo que nunca tivesse correspondido as insinuações dela, muitas vezes o pegara a olhando fixamente. Talvez avaliando o que tinham antes dela trai-lo e ele decidir se casar com Sara.

Depois do acidente da esposa, onde a infeliz não fizera o favor de morrer, Rodrigo mudara, começara a evita-la com maior determinação e não ficava um minuto além do horário. Sabia que a culpa o consumia, mas isso não era motivo para dar as costas ao que poderiam ter novamente.

Tinha que fazer alguma coisa. Se reaproximar de Sara, plantar a dúvida e colher o ciúme doentio que a ela possuía, usando-o a seu favor. Mas como? A mulher não aparecia na empresa desde que acordou do coma, e Rodrigo não permitiria que visitasse sua adorada esposinha depois do que acontecera na noite do acidente.

Fechou os olhos com força, irritada com a sorte de sua rival. A maldita escapara com vida de um acidente fatal e conseguira a atenção do marido.

Cansada inclinou-se sobre sua escrivaninha, os braços estendidos para que pudesse colocar a cabeça entre eles. Foi quando sentiu algo abaixo de seus braços, abriu os olhos e observou o envelope pardo endereçado a Rodrigo.

Estava aberto, então remexeu dentro do envelope em busca de seu conteúdo, puxando o exemplo de uma revista muito famosa por conter notícias e fofocas dos ricos e famosos. Um sorriso satisfeito tomou conta de sua face ao ver a foto da capa e a respectiva legenda.

Ansiosa por mais, procurou nas páginas internas as informações sobre a notícia da capa. Seu sorriso aumentou à medida que seus olhos deslizavam por alguns trechos que a ajudariam a afastar seu amado da esposa idiota.

~*~

Muitos foram os boatos que o empresário Rodrigo Montenegro e sua esposa Sara Montenegro planejavam se divorciar. Ambos negaram [...].

Segundo informações, o casamento dos Montenegro sofreu um grande abalo após o acidente sofrido pela senhora Montenegro a cerca de um mês [...] a perda de memória da esposa acabou com o sono e a tranquilidade do empresário Rodrigo Montenegro. Ao que parece, Sara só esqueceu seu marido [...].

[...] na tarde de ontem, a senhora Montenegro foi vista em um encontro íntimo com o artista plástico Robson Gomes [...].

[...] fontes seguras garantem que não é o primeiro encontro desse casal inusitado e que não será o último.

O que Rodrigo Montenegro tem a dizer sobre esse "caso"? Será que tem conhecimento dos encontros clandestinos da esposa?

Creio que temos a prova que o casamento do casal Montenegro anda mesmo abalado. O que opinam queridos leitores?

~*~

Karen opinava que achou uma maneira ótima de acabar com sua rival.

Páginas em Branco ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora