Homem certo

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Karen caminhou pelo salão torcendo o nariz para as esculturas colocadas em pontos estratégicos do local. Não conseguia entender o que as pessoas viam de belo naquilo. Se não tivesse um interesse enorme em encontrar Robson Gomes não perderia sua noite naquele lugar.

Parou em frente a um grande pássaro feito de argila e contorceu a boca em um claro sinal de desagrado.

— O que acha?

Virou e encarou um homem de longos cabelos loiros, uma mecha espessa cobrindo um dos olhos azulados, que vestia uma calça jeans preta e uma camisa social vermelha com os três primeiros botões abertos, nos pés tênis pretos.

— Ah, bem... Diferente.

Ele riu.

— Por experiência sei que quando dizem "diferente" querem dizer "odiei". — A olhou com atenção, os olhos azuis percorrendo seu corpo de cima a baixo com certa malícia. — Me pergunto o que uma mulher tão atraente faz em uma galeria quando é evidente que não entende de arte.

— Só porque uma pessoa não gosta de uma escultura em particular, não significa que não entenda de arte — revidou irritada pelo tom zombeteiro, embora não apreciasse nada daquilo. — Você trabalha aqui?

— De certa forma...

— Ótimo! Estou à procura de Robson Gomes.

— Ah, entendi! — exclamou com um sorriso abusado nos lábios. — Só um momento.

Aguardou no mesmo lugar até o loiro retornar com Robson ao seu lado, soltar mais um sorrisinho abusado e se afastar.

— Está a minha procura? — Robson a analisou com interesse. — Na verdade, ele acha que tenho ou tive algo com você, mas não me lembro de ter te visto antes e sou bom fisionomista.

— Meu nome é Karen — comunicou ajeitando o óculos sob seu nariz. — Realmente, não nos vimos antes, mas temos uma amiga em comum: Sara Montenegro.

— Sara Montenegro?

— Era Almeida antes de se casar — disse com pouco caso, um brilho estranho nos olhos ao perguntar: — Ela não te disse que se casou quando se encontraram há alguns dias atrás?

Esperava que a resposta fosse não, porque assim conseguiria deixar Rodrigo furioso com a esposa.

— Disse. Mas não chegou a falar que mudara de sobrenome — Robson respondeu estranhando toda aquela conversa.

— Ah, que pena! — resmungou insatisfeita. — Bem, não vim falar do novo sobrenome dela e sim da própria Sara.

— Aconteceu algo com ela? — quis saber preocupado.

— Nada muito sério. Já deve saber da perda de memória, certo? — Quando ele confirmou continuou. — Também deve saber que antes disso Sara vivia em guerra com o marido. Estavam prestes a se divorciar.

— Disso eu não sabia. Porém ainda não compreendo o que pretende.

— Ainda a ama?

— Amar é um termo forte. Paixão descreveria bem o que senti ao revê-la.

— Ótimo, o importante é que a reconquiste. E eu estou disposta a ajuda-lo.

Robson riu.

— Já pretendia fazer isso. Mas, diga-me, o que você ganha com isso?

— A satisfação de ver Sara feliz. Acredite, ela nunca foi e nem será feliz ao lado do Montenegro. A coitadinha era tão infeliz no casamento que não é a toa que tenha apagado tudo — confidenciou com fingindo olhar de pena. — Com você quem sabe ela encontre algo melhor para o futuro. Sinto que você é o homem certo pra Sara, ela precisa de você — terminou com um sorriso tão falso quanto suas boas intenções.

O ar dissimulado não enganou Robson. Seja lá o que pretendia aquela mulher não pensava no melhor para Sara. No entanto, se o ajudasse a ter Sara de novo em seus braços, não via um bom motivo para não ouvir o que Karen tinha a dizer.

Páginas em Branco ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora