Perdidos nos braços um do outro entre beijos e carícias, só perceberam a presença de uma terceira pessoa quando ouviram o barulho de algo caindo. Voltaram os rostos para a porta, vendo Marta parada no vão, fitando-os boquiaberta e com olhos arregalados.
— Ah! Desculpe... Eu não... É que... — gaguejava abaixando-se para pegar sua bolsa, que caiu tamanha a surpresa em flagra o casal se agarrando em cima da mesa.
"Droga, Marta sempre chega na hora errada", pensou Sara desgostosa.
Observou a empregada apertar a bolsa contra o peito, o constrangimento vibrante em suas feições. Então retornou sua atenção para Rodrigo, ainda com uma mão fechada, e paralisada, em seu seio.
Ele a fitou parecendo tão insatisfeito quanto ela com a interrupção. Por um instante, ignoraram a presença de Marta e riram cúmplices, suas testas se tocando, os olhos brilhantes e contemplativos, os corações no mesmo ritmo apaixonado.
Sara suspirou ao sentir a mão de Rodrigo deslizar de seu seio para sua cintura, seu lamento de prazer e desamparo sendo encoberto por um beijo suave.
Ele a ajudou a descer, ajeitou suas roupas com zelo e, mantendo a mão em volta de sua cintura, a aconchegou contra o tórax. O gesto irradiou uma sensação gostosa e cálida por sua pele. Estranhamente, também quis chorar.
— Bom dia, Marta! — Rodrigo cumprimentou a empregada ao passar por ela - ainda pasma com o que presenciou - rumo a sala, praticamente escoltando Sara junto a si.
Ele lembrar do nome de Marta, quando dias antes não fazia questão de saber, fez a vontade de chorar abandonar Sara, dando lugar a um sorriso luminoso.
"Devia ser crime ser tão exuberante mesmo desarrumado", pensou admirando os fios bagunçados pelos momentos de paixão.
Apreciava os dedos acariciando devagar sua cintura, roubando qualquer pensamento coerente, até notar que seguiam em direção aos quartos.
Parou bruscamente, obrigando Rodrigo a fazer o mesmo.
— Rodrigo, não podemos... — disse, insegura se fazia o certo, embora determinada a manter sua decisão.
Respirando fundo, Rodrigo ficou de frente para a esposa e acariciou de leve a face dela com ambas as mãos.
— Somos casados — lembrou com um atraente sorriso, os olhos castanhos, carregados de desejo, buscando os esverdeados. — Podemos passar o dia todo na cama sem problema — argumentou se inclinando para beijá-la.
Espalmando as mãos no torso dele, Sara o impediu de se aproximar, pois, quando se beijavam se esquecia de que havia um mundo lá fora.
— É que você tem de ir trabalhar — retrucou, enumerando em seguida: — E quero visitar minha madrinha hoje, ir a uma galeria de arte e, talvez, visitar a Laura. Ontem peguei o endereço do escritório dela.
Se não fosse conhecido por seu autocontrole e sangue frio, Rodrigo se contorceria em gargalhadas após aquelas palavras.
Antes do acidente, aquela situação acontecia todas as manhãs, só que com os papéis invertidos, ele querendo ir trabalhar e Sara bloqueando seu caminho, suplicando para que passassem o dia juntos.
Realmente, sua esposa mudou muito. Não lhe telefonava nenhuma vez, ignorava o sobrenome de casada, substituiu as roupas sociais por outras justas e - para acabar com sua sanidade - recusava a oferta de ficarem juntos o dia todo.
— Se prefere assim. — Deu de ombros, fingindo indiferença, quando por dentro desejava levá-la para o quarto mais próximo. — Deixarei um motorista da empresa a sua disposição.
— Não é preciso — Sara informou envolvendo o braço do marido com o seu e o arrastando em direção a porta. — Pode trabalhar tranquilo, ficarei bem.
— Acabará perdida — Rodrigo ponderou, ocultando o incomodo com a evidente pressa da esposa em se livrar dele.
Sem intenção de ser seguida por um motorista - que contaria ao patrão todos os seus passos -, Sara rejeitou a proposta de novo.
— Não me perdi quando fui sozinha ao hospital — retrucou se voltando para Rodrigo, as mãos ajeitando a gravata e a camisa dele, movendo-se suavemente pelo peito largo, um sorriso radiante nos lábios. — Estou sem algumas lembranças, mas sei chamar um táxi com perfeição. E quero sair sozinha — explicou o mais delicada e inocente que conseguiu. — Levarei o celular e, se tiver qualquer dificuldade, te telefono. Ou você me telefona, se for te tranquilizar.
Rodrigo arqueou uma sobrancelha, a desconfiança soando como um trompete. Havia algo por trás do pedido, só não conseguia saber o que.
— E, se você quiser é claro, posso pedir a Laura que me leve até a sua empresa — Sara propôs, usando todo seu charme para não discutirem. — Podemos almoçar os quatro ou só nós dois.
Quanto mais Sara falava, com doçura e sorriso luminoso, mais Rodrigo pressentia que havia uma intenção oculta por trás do tal passeio, algo que ela não pretendia contar. Odiava não ter o controle de tudo, no entanto, se tentasse impor sua vontade só afastaria a esposa. Além disso, Sara estava empenhada em conseguir o que queria de forma tão doce e carinhosa que seria tolice discutir.
— Se quer ir sozinha, tudo bem. Posso te dar uma carona até o hospital?
— Adoraria — Sara concordou, sentindo uma felicidade enorme por sua vontade prevalecer. — Vamos! — soltou empolgada, voltando a puxar Rodrigo em direção à porta. O encarou confusa quando ele não se moveu. — O que foi?
— Minha maleta e a sua bolsa ficaram na cozinha — Rodrigo informou dando de ombros. — Como está com tanta pressa, é melhor ir lá busca-las.
Com a face em chamas só em pensar em retornar a cozinha e dar de cara com a empregada, que, pela segunda vez, os flagrou em uma situação íntima, Sara olhou suplique para Rodrigo. Ele sorriu, colocou as mãos em seus ombros e a virou em direção à cozinha, deixando claro que ela iria sozinha.
— Você é desalmado — Sara resmungou carrancuda.
— Só com você, amor.
Um sorriso bobo se formou em seus lábios por Rodrigo tê-la chamado de amor. O fitou encantada por alguns instantes, apreciando a felicidade nas feições do Montenegro. E, com o coração aos pulos, foi em busca de sua bolsa e a maleta dele.
Tinha de admitir: sempre que estavam juntos se sentia balançada, e isso piorava quando ele sorria, a tocava, beijava ou demonstrava se importar com ela.
Se Rodrigo continuasse a agir como um homem apaixonado as poucas defesas contra o poder de atração entre eles cairiam por terra, se é que já não haviam caído.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Páginas em Branco ~ Degustação
Romance+18 ~ Sara dedicou dez anos de sua vida a Rodrigo Montenegro, seu marido ~*~ - Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara. - Tudo te irrita - retrucou farta de lutar por aquele casamento. - Queria nunca ter me apaixonado por um egocên...