Diferente

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Karen ria, olhando repetidas vezes as imagens, satisfeita com a repercussão que aquela notícia teria na vida de Rodrigo. Agora estava no mesmo nível que a esposa dissimulada. Ambas o traíram, ambas tinham as mesmas chances, porém somente Karen venceria e, pelo que podia perceber - após ler e ver as fotos impressas na revista -, Sara não lutaria pelo Montenegro.

Nesse momento, viu Rodrigo sair do elevador, os olhos escuros evitando mira-la ao passar pela antessala.

Ciente que Rodrigo iria ignorá-la e seguir direto para o escritório, Karen se levantou com a revista em mãos e barrou o caminho do Montenegro. Não perderia aquela oportunidade por nada nesse mundo.

— Chegou uma correspondência interessante para você, amorzinho! — cantarolou com um sorriso sórdido de satisfação presente nos lábios pintados de vermelho

— Deixe na minha sala, depois leio — informou com mau humor. Odiava as investidas dela.

— Não, não, não, Rodrigo — retrucou com voz manhosa enquanto estendia a revista. — Quero entregar em mãos.

Rodrigo pegou sem qualquer interesse e a encarou com pouco caso.

— Só isso?

— Olha a capa com atenção, querido.

Karen vibrou depois de Rodrigo atender seu pedido, o cenho franzindo em um claro sinal de insatisfação.

— É só uma matéria idiota e falsa — Rodrigo resmungou devolvendo a revista. — Esse tipo de revista sensacionalista adora opinar sobre a vida e os relacionamentos alheios. — Se acostumara a ser alvo de especulações e a não se abalar com as mentiras publicadas.

— Rodrigo, amor, tem de ler e ver o que tem dentro para entender melhor — Karen informou com falsa doçura, antes de procurar as páginas que lera instantes atrás, segurando a revista aberta na frente da face do Montenegro. — Olha o que a santa da tua esposa anda fazendo pelas suas costas, querido.

Rodrigo deslizou os olhos sobre três fotos distribuídas por duas páginas, todas com Sara trajando suas roupas novas, as mesmas do dia anterior. Porém, não foi à roupa que o fez estreitar os olhos com irritação. Sua esposa havia sido fotografada perto demais de um homem desconhecido.

Todas as fotos deixavam a mostra um casal íntimo demais na opinião do Montenegro. A primeira com o homem enlaçando Sara com um braço e a mão livre encaixada na nuca dela, parecendo prestes a se beijar; A segunda havia sido tirada do lado de fora de um restaurante, cuja janela deixava a mostra Sara de mãos dadas com o sujeito; E na terceira, Sara se encontrava dentro do carro dele.

O sangue do Montenegro ferveu nas veias e praticamente arrancou a revista das mãos da secretária, lendo cada linha com voracidade, em busca de uma explicação para aquelas fotos. Só conseguiu ficar mais irado, só não sabia dizer se com a matéria ou com a esposa.

Karen gostou de ver a expressão inabalável passar para incrédula, depois confusa e finalmente para de pura raiva.

— Que merda é essa?

— É uma revista sobre os ricos e fam...

— Pouco me importa a droga do tipo da revista — interrompeu Rodrigo nervoso, embora seu tom de voz não tivesse modificado. — Quando tiraram essas malditas fotos e quem é esse homem?

— Na revista já diz tudo, querido. Infelizmente Sara anda se encontrando com outro homem — Karen disse apreciando a fúria rubra tomar a face de Rodrigo, sinal de que se encontrava dominado pela ânsia de retaliação. Sentia até uma ponta de pena dela. Mentira!

— Já sei o que essa porcaria diz. — Se deixando dominar pela cólera jogou a revista contra a parede com força. — De onde apareceu esse desgraçado e porque Sara se encontrou com ele sem me avisar? — Se aquele homem estivesse na sua frente seria capaz de transforma-lo em pó, tamanha a sede de retaliação que o dominava.

Karen se aproximou e deslizou as mãos pelo tórax do Montenegro, seus olhos fixos nos dele.

— Sua esposa não anda lhe dizendo muitas coisas — decidiu aproveitar aquela chance para envenenar Rodrigo. — Pena que não dizem para onde foram após o encontro, embora possamos ter uma ideia do lugar, não é querido?

— Não me chame de querido — ordenou com um tom de voz cortante e frio afastando as mãos da ruiva.

— Tento te ajudar e é assim que me agradece? — queixou-se Karen com fingida ofensa.

— Desde quando me mostrar essa... aberração me ajudaria em algo? — retrucou Rodrigo tentando conter sua ira, embora consciente de que faltava pouco para que explodisse. Sentia vontade de esmurrar, de preferência o miserável que tentava lhe roubar a esposa.

— Isso mostra que ela não é melhor que eu — retrucou maldosa. — É até pior. Pelo menos fui discreta, mas ela desfila a luz do dia com o amante...

— Calada! — urrou com o dedo em riste direcionado para a face da ruiva, um claro sinal de que se encontrava no limite da razão. — Sara é diferente de você. Se disser mais uma palavra venenosa contra ela, não respondo por mim — informou cansado dos comentários da secretária.

— Escute a verdade — gritou Karen zangada com a atitude de Rodrigo. — É melhor saber agora que sua querida esposa anda com outro do que...

— Cala a boca, Karen!

— Se tivesse feito o que era preciso teria se livrado dessa vadi...

Rápido Rodrigo a imprensou contra a parede, forçando uma mão sobre sua boca enquanto o corpo forte a impedia de fugir, cego pela dor de ter sido traído novamente, ignorando os socos que Karen lhe dava e os olhos injetados de surpresa e pavor.

Pela primeira vez Karen temeu por sua vida, pois, de propósito ou não, a mão de Rodrigo cobria tanto a sua boca quanto seu nariz, precisava de ar, mas por mais que se debatesse não conseguia se livrar da pressão que o Montenegro exercia sobre si.

— Rodrigo, o que está fazendo? — Júlio apareceu atraído pelo som das vozes exaltadas. — Solte-a antes que a machuque — pediu, ao mesmo tempo, em que puxava o amigo para longe de Karen. — O que houve?

— O que houve? — Rodrigo procurou com os olhos a revista no chão, ao encontra-la a recolheu e jogou no sócio, que a segurou contra o peito claramente confuso. — Isso é o que houve — vociferou exaltado. — Estou cheio de ser rodeado por mulheres dissimuladas, traidoras e vagabundas que declaram amor aos quatro cantos enquanto me apunhalam pelas costas.

Seus olhos escuros, carregados de rancor e repugnância, pousaram sobre Karen, que sentou e o encarava chocada, antes dele marchar para sua sala fechando a porta com um estrondo.

Karen permaneceu com os olhos fixos na porta recém-fechada, a respiração apressada para recuperar o ar que lhe foi negado por alguns instantes. Nunca imaginou que Rodrigo se voltaria contra ela, faltara pouco para que a sufocasse tamanha a força que utilizou para mantê-la de boca fechada. Dessa vez devia agradecer ao loiro irritante por aparecer na hora certa e evitar o pior. Porém, antes que pudesse fazê-lo, Júlio entrou na sala de Rodrigo com a revista em uma das mãos.

Páginas em Branco ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora