A noite tomava conta de São Paulo quando Sara chegou ao prédio. Ao pisar na portaria foi surpreendida pelo abraço forte de um homem desconhecido.
— Senhora Montenegro, que bom que apareceu.
Paralisada pelo susto, levou alguns segundos para afastá-lo e olha-lo de cima a baixo com desconfiança. Pelo crachá preso ao bolso da camisa dele, se deu conta de se tratar do porteiro do prédio.
Aumentando o espanto de Sara com seu comportamento estranho, o homem deixou a portaria sozinha e a escoltou até o apartamento, e só retornou ao serviço quando ela entrou no apartamento.
Nem bem assimilou a estranheza com o comportamento do homem, foi novamente envolvida por um apertado abraço. Logo notou se tratar de sua madrinha.
Seus arregalados olhos verdes visualizaram Rodrigo em pé no meio da sala, as mãos plantadas nos quadris e uma carranca no rosto bonito.
— Em que lugar se escondeu, menina? — Tatiana questionou afastando-se e a avaliou com atenção, como a procurar algo de errado nela.
— Fui ao hospital conversar com você. Mas como já tinha saído...
— Não pensou, nem por um momento, em me avisar? — Rodrigo a interrompeu hostil.
— Precisava conversar...
— Conversasse comigo.
— Não queria incomodá-lo no trabalho... — começou a explicar sendo novamente interrompida.
— E ao sumir não pensou que me incomodaria?
O tom cáustico de Rodrigo, que parecia direcionado a uma criança de cinco anos, fez algo no interior dela ferver de raiva. Tinha a sensação de não ser a primeira vez que falava assim com ela.
— Tenho direito a uma vida — anunciou altiva.
— Você tem uma vida comigo — Rodrigo retrucou de forma rude.
— Não, eu não tenho — replicou e, querendo feri-lo, informou: — Nem ao menos te conheço direito.
— Sou seu marido.
— Pode até ser, mas me recuso a reconhecê-lo como tal.
Estreitando os olhos negros, Rodrigo se deu conta que preferia mil vezes a Sara de antes, pelo menos com a "senhora Montenegro" sabia como agir.
— Ótimo. — Rodrigo bateu palmas e pronunciou com tom ácido: — Também não te reconheço como esposa.
Abismada com o comportamento do casal, Tatiana olhava de um para o outro sem saber como agir. Sara sempre se exaltava com Rodrigo - com ou sem memória pelo jeito -, mas nunca vira o Montenegro exaltado antes. Normalmente, Sara gritava e ele ouvia em silêncio com uma exasperante expressão de desdém.
— Creio que deviam sentar e conversar paci...
— Estamos conversando — gritaram os dois ao mesmo tempo.
Uma gargalhada alta chamou a atenção de Sara. Olhou confusa na direção da cozinha e, esquecida da discussão, sorriu ao reconhecer Júlio saindo do cômodo quase chorando de tanto rir. A emoção em ver um rosto conhecido foi tão grande que correu para abraçá-lo.
Pego de surpresa, Júlio ficou sem saber o que fazer, encarando os fios acobreados da cabeça de Sara com confusão. Logo, feliz pela recepção calorosa, correspondeu ao abraço.
— Veio me visitar? — Sara quis saber, os olhos brilhando de emoção.
— Vim ajudar o Rodrigo a encontra-la — respondeu Júlio finalizando o abraço ao reparar o olhar assassino de Rodrigo em sua direção. Ao saber do sumiço de Sara decidiu ir até o apartamento do amigo para ajudar de alguma forma, mesmo sem saber bem como. — Nunca mais saia sem comunica-lo, deixou todos preocupados.
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Páginas em Branco ~ Degustação
Romance+18 ~ Sara dedicou dez anos de sua vida a Rodrigo Montenegro, seu marido ~*~ - Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara. - Tudo te irrita - retrucou farta de lutar por aquele casamento. - Queria nunca ter me apaixonado por um egocên...