Inimiga

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Apreciando estar sozinha em casa, Marta se jogou no sofá que lhe servia de cama à noite e discou o número de Isabel, informando a loira tudo o que ocorreu naquele dia.

— O que disse? Repete, porque creio ter pirado de vez.

— O senhor Montenegro passou o dia todo cuidando da Sara.

— Ou essa infeliz tem muita sorte, ou essa doença é um truque.

— Não me pareceu um truque — opinou acrescentando logo depois o motivo. — Está muito mal, nem se alimentar sozinha consegue.

— Mais que droga! Rodrigo não fez nada a respeito da matéria? Não brigou e nem tirou satisfação?

— Quando ele entrou no apartamento pensei que iria matar a Sara, mas acho que por ela estar doente desistiu.

— Você tem que fazer alguma coisa.

— Eu?

— Sim, tem que contar sobre o primeiro encontro da Sara com o Robson, dizer que são amantes e...

— Mas eles não são — declarou interrompendo as maquinações de Isabel. — Pelo menos não vi nada nesse sentido.

Mas vai dizer que viu — insistiu Isabel.

— Não farei isso — negou, assustada com a que ponto a loira podia chegar para prejudicar Sara.

Estou pagando para seguir todas as minhas ordens — lembrou a outra completando insensível. — Se não o fizer, não recebera e ainda vai ter que aguentar um processo, porque pode ter certeza, queridinha, que conto tudo o que fez aos Montenegro.

— Faça o que preferir, mas não vou mentir só porque você quer. — Voltou a se negar encerrando a ligação logo depois.

Seu coração batia acelerado, o medo a atingindo em cheio. Conseguiu uma inimiga perigosa, e o preço a pagar seria alto. Porém, não se arrependia, estava cansada de contribuir para destruir o casamento de duas pessoas que se amavam intensamente, caso em que os Montenegro pareciam se encaixar.

~*~

Quando a noite caiu, Rodrigo entrou mais uma vez no quarto de Sara para dar outra dose dos remédios. Apoiou a bandeja na mesinha de cabeceira e se sentou na cama ao lado da esposa adormecida.

Repassou tudo o que ocorreu durante todo o dia cuidando da esposa, o ponto alto sendo o banho de banheira, quando percebeu que Sara adormeceu, deixando-o mais uma vez frustrado. De certa forma foi conveniente. Com o grau de excitação que foi dominado teria tentado aplacar o desejo que o consumia, durante os minutos que permaneceram nus naquela banheira, esquecido do estado frágil em que ela se encontrava, gerando muita confusão.

Ao contrário do que insinuara, sua única intenção com o banho a dois fora o de ajuda-la, já que ela parecia não ter forças para fazê-lo sozinha, e assim baixar a febre o mais rápido possível. Mas isso foi antes de começar a banha-la, distribuir o sabão pela pele acetinada e se entregar a imensa vontade de beija-la.

Com honestidade não sabia se agradecia ou se queixava pela esposa ter caído em sono pesado. Ao notar que ela dormia, a retirou da banheira e terminou de cuidar dela, tentando sem sucesso manter a mente longe dos pensamentos obscenos enquanto a secava, vestia e colocava sobre a cama. Pediu a ajuda de Marta para trocar os lençóis enquanto segurava a esposa adormecida nos braços. Só acordou Sara para comer a sopa que a empregada preparara, se encarregando de alimenta-la porque ela se encontrava fraca e dopada pelos remédios.

O resto do dia foi tranquilo.

Çogo depois da saída de Marta, acordou a esposa e a ergueu para que bebesse o suco de laranja misturado com o remédio.

— Pronto, agora descanse — comandou ajeitando as cobertas.

Após se deitar Sara segurou a mão do Montenegro, impedindo-o de ir embora.

— Por favor... fica aqui comigo.

Rodrigo nem pensou duas vezes antes de levantar o cobertor e deitar ao lado dela, puxando e embalando o corpo trêmulo da esposa. A satisfação o dominou quando Sara correspondeu ao abraço e o envolveu pela cintura aconchegando-se nele. Mesmo que sentisse que ela só procurava se aquecer e não fosse como desejava, era bom retornar ao seu quarto, dormir em sua cama e abraçar a esposa enquanto adormecia.

Pela primeira vez desde que se casou com Sara, admitiu que seu coração foi atingido pelo sentimento que mais temia, amor. Faltava devolver esse sentimento ao coração da esposa.

~*~

O som estridente do telefone despertou Rodrigo na manhã seguinte. Rápido o atendeu, torcendo internamente para que o barulho não acordasse Sara.

Seu corpo ficou tenso ao ouvir a voz do porteiro, anunciado a presença de um visitante e pedindo permissão para que o mesmo subisse.

— Pode deixar — permitiu após um minuto de silêncio, minuto em que se dividiu entre autorizar ou descer para "recepcionar" a visita de uma forma que chocaria os outros condôminos.

Levantou-se, foi ao banheiro e só teve tempo de lavar o rosto e escovar os dentes antes da campainha tocar.

Antes de sair do quarto cobriu melhor a esposa e depositou um beijo no rosto adormecido.

Atravessou a sala e abriu a porta encarando a visita com frieza.

— Bom dia! Sou...

— Sei quem você é — cortou rude. — O que quer aqui?

Páginas em Branco ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora