— Gripe, de um tipo violento — o médico diagnosticou após sair do quarto onde Sara permanecia deitada. — Necessita de descanso e alguns cuidados. Se tomar os remédios corretamente no máximo uma semana estará bem melhor.
— E a febre? — Rodrigo perguntou enquanto acompanhava o médico pelo corredor até a sala.
— Os comprimidos que deixei são para abaixar a temperatura. No demais é só seguir tudo que está escrito aqui. — Entregou uma folha com recomendações que Rodrigo pegou e começou a ler com atenção. — Qualquer dúvida ou dificuldade, me chame.
— Sim. — Desviou os olhos negros da folha para o médico. — Poderia me fazer um favor?
— Claro, no que posso ajudar?
Rodrigo pegou uma pasta preta que deixara em cima da mesa de centro da sala.
— Poderia entregar para a diretora Tatiana? São os documentos que Sara iria entregar hoje.
— Com certeza. — O médico aceitou a pasta aparentando apreensão. Logo Rodrigo entendeu o motivo ao ouvi-lo murmurar baixinho: — Tatiana me mataria se me negasse.
Rodrigo teve vontade de rir, pelo jeito a diretora do Santana era temida pelos funcionários.
Despediram-se e após dar algumas ordens para Marta, referentes às recomendações do médico, Rodrigo retornou para o lado de Sara, que tentava se levantar sem muito sucesso, erguia o tronco um pouco para logo depois cair pesadamente sobre a cama.
— Sara, o médico pediu que descansasse — indicou ao sentar na beira da cama e força a esposa a continuar deitada. — Significa que não deve sair dessa cama
— Você é muito mandão, sabia? — Sara resmungou de olhos fechados. Soltou um suspiro profundo antes de dizer com a voz falha: — Preciso de ajuda... minha roupa está molhada de suor... preciso troca-la, mas não consigo.
Rodrigo sentiu o corpo ficar tenso ao fim das palavras vacilantes da esposa. Passara tantas noites sonhando e desejando aquele momento, a oportunidade de despi-la e vislumbrar o corpo esguio nu. Porém, em sua imaginação Sara não estaria doente pedindo por um favor sem conotação sexual.
Saindo de suas divagações a ergueu para escorá-la contra seu peito, notando que a camisola branca se encontrava quase grudada na pele devido o suor, mesmo assim não teve dificuldade em remover a peça.
Estranhou a risada suave que Sara emitiu quando o fez.
— O que foi?
— Esperei que... pedisse a Marta para fazer isso...
— E perder essa oportunidade? Nunca.
Sara voltou a rir ignorando a dor que o ato causava.
— Seu pervertido...
— Não tanto quanto gostaria — retrucou com a voz rouca, fitando os lábios entreabertos da esposa e depois os olhos verdes.
— Desculpe-me... por te dar trabalho — desconversou Sara ainda envergonhada por ter afastado o Montenegro do trabalho.
— Já disse para não se preocupar com isso.
Sara apoiou a cabeça no ombro do Montenegro e deslizou a mão pela cintura dele, sem muita consciência do que seu gesto despertava nele, sua intenção era somente receber um pouco do calor que ele emitia.
— Se eu não tivesse ido procurar o Ro, nada disso estaria ocorrendo — comentou consigo mesma.
Rodrigo ficou imediatamente tenso.
— Ro?
— Sim, o Ro... Robson... fiquei tempo demais em baixo da garoa... depois teve a chuva... — explicou distraída. — Foi um erro... desde o início.
Lembrou-se de Sara ter mencionado esse apelido antes, na noite em que tivera algumas lembranças do colegial, assim como se lembrava da declaração de amor que se seguira após o apelido. Pensou que era para ele, mas pelo jeito o Ro que ela amava não era de Rodrigo e sim de Robson, o antigo namorado. Estranhamente teve a sensação de que seu coração era apertado com força diante dessa constatação.
— E porque o procurou? — perguntou friamente levantando a cabeça da esposa para fita-la nos olhos febris.
— Eu só queria verificar... se ainda o amava — respondeu sincera.
— Qual foi o resultado? — perguntou curioso e, ao mesmo tempo, temeroso da resposta.
— Ele continua bem atraente... — Os lábios de Sara se inclinaram em um sorriso que, mesmo fraco, desagradou o Montenegro, principalmente pela palavra "atraente" ter saído por eles. — Mas você é meu marido e...
— E...? — incentivou, incerto se a declaração anterior era boa ou não.
— Prefiro você... embora seja frio e vive me ocultando coisas... — Se queixou fazendo bico.
— Vou tentar mudar isso — prometeu dando um selinho no bico sedutor e depois na face ruborizada, provavelmente pela febre.
— É bom mesmo ou peço o divórcio — ameaçou Sara acomodando a cabeça no ombro do marido.
Mesmo Sara rindo levemente após essa declaração - para demonstrar que havia sido brincadeira -, Rodrigo sentiu o corpo todo gelar com a menção de divórcio e automaticamente a estreitou em seus braços, uma das mãos acariciando os cabelos ruivos, enquanto a outra se movia devagar pela cintura nua. Só se afastou ao ouvir batidas na porta.
Ajeitou Sara na cama e cobriu, permitindo que Marta entrasse com uma bandeja em mãos.
— Posso cuidar da senhora Montenegro enquanto o senhor volta para o trabalho — ofereceu apoiando a bandeja sobre a mesinha de cabeceira.
— Não é preciso. Eu mesmo farei isso — informou o Montenegro ordenando em seguida: — Prepare uma sopa ou algo fácil de comer para ela.
— Sim. — Marta se retirou admirada com a atitude zelosa de Rodrigo.
Sara também ficou admirada, principalmente por ele fazer questão de lhe dar os remédios, segurando seu corpo fraco junto ao dele e a ajudando com o copo, que ela não conseguiu sequer segurar. Só não gostou quando ele se afastou após isso, mas como se sentia dominada por um estranho cansaço se ajeitou nos lençóis e quase dormiu, porém, abriu os olhos assustada quando foi erguida da cama.
— O que está fazendo? — questionou notando que Rodrigo estava sem camisa e a levava em direção ao banheiro
— Um banho na banheira vai lhe fazer bem agora e, segundo as recomendações do médico, ajudam a baixar a febre — Rodrigo explicou.
— Preferia ficar deitada — resmungou se aconchegando nos braços do marido. — Não sinto força nem para levantar uma esponja.
— Eu me encarrego da esponja.
— Isso faz parte do seu plano de me reconquistar?
— Em parte.
Sara sorriu satisfeita. Assumia que ser cuidada pelo marido era, ao mesmo tempo, estranho e agradável, assim como gostava dos planos de reconquista dele, por isso não se assustou quando Rodrigo retirou sua calcinha e entrou com ela dentro da banheira, - com água morna e espuma que exalava um cheiro agradável de rosas -, acomodando-a entre as suas pernas e com os braços ao seu redor. Cuidando de tudo para ela, massageando seu corpo dolorido enquanto deslizava a esponja com sabão por sua pele devagar, como em uma carícia leve e provocante. A certa altura, Sara virou o rosto para olha-lo nos olhos, um calor que não tinha nada a ver com sua febre percorrendo cada célula de seu corpo ao se deparar com o brilho desejoso dos olhos negros e profundos.
Não saberia dizer quem tomara a iniciativa, em um instante estavam se encarando fixamente e no outro suas bocas se juntaram para um beijo suave, provocante e apaixonado, as mãos experientes do Montenegro acariciavam os seios parcialmente cobertos pela água com espuma, causando arrepios excitantes pela pele dela. Separaram-se em busca de ar, porém os lábios de Rodrigo desceram até o pescoço da esposa distribuindo leves beijos molhados em sua extensão.
Com um suspirou profundo Sara se recostou no tórax forte do marido, sentia todo o corpo relaxado, pelos carinhos e pelo efeito dos remédios. De olhos fechados se deixou envolver pelas sensações prazerosas e não percebeu que aos poucos se entregava ao mundo dos sonhos.
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Páginas em Branco ~ Degustação
Romance+18 ~ Sara dedicou dez anos de sua vida a Rodrigo Montenegro, seu marido ~*~ - Gritar não resolverá nossos problemas, só me irrita, Sara. - Tudo te irrita - retrucou farta de lutar por aquele casamento. - Queria nunca ter me apaixonado por um egocên...