"Ainda que estivesse preparada para qualquer contratempo e tenha Sparda ao seu lado, sabia que uma hora... A escuridão cobrirá parcialmente a luz com a penumbra e, do mesmo modo, a engolirá completamente até transformá-la na umbra — a sombra total."
[Sparda e Arya | Angst]
━────────────────━Penumbra — quase sombra — é a região no qual somente uma parte do corpo ocultante obscurece a fonte de luz.
Christie, que observava o jardim esplendoroso da mansão, virou-se para poder confrontar o marido e Sparda que se mostraram extremamente absorvidos em um monólogo mental compartilhado — presos em um assunto muito complexo e tenebroso. Estava plenamente consciente dos transtornos decorrentes aos recentes ataques pelo mundo, principalmente sobre o fim trágico do clã de Unchants que afetou Arya drasticamente. Talvez fosse o que os deixavam tensos: a incerteza do que o futuro lhes reservava com essa nova guerra prestes a culminar.
Lembrou-se, pesarosa, em que estado encontrou Arya e Sparda após terem regressado — do local onde Arya nasceu, conservado como sagrado —, a mulher, paralisada, quase catatônica, com as vestes tingidas no mais intenso vermelho e o demônio angustiado com a companheira. Isso, sem duvida, não era um bom sinal.
Adam olhou para esposa, tranquilizando-a com o gesto.
O demônio observou discretamente a dinâmica do casal, refletindo sobre a relação de amizade que desenvolveu com ambos. Christie e Adam eram os poucos humanos que conheciam a real história e ainda os recebiam muito bem — sempre os agradecendo por terem salvado o mundo. Contudo, os Lockhard também corriam o risco ao ter conexões com os dois e essa possibilidade preocupava o Cavaleiro Negro. Afinal, colocá-los em situações de risco não era aprazível tampouco honrado. E Sparda queria preservá-los para longe do perigo que os defrontava.
Eles têm sido bastante receptivos e sua missão era mantê-los salvo, meditou, seguindo em direção ao corredor que dava acesso para os aposentos de Arya.
Ultimamente ela manteve-se reclusa e não saia com tanta frequência do quarto quanto antes, mas a razão disso sabia muito bem: o extermínio a sangue frio do clã de Peregrinos. A culpa recaindo sobre algo que, supostamente, deixou de fazer para proteger seus irmãos e que por conta dessa negligência todos estavam mortos. Apesar de Arya não ser o tipo de pessoa que camufla suas emoções, não os demonstra abertamente para qualquer espectador interessado. Devido aos costumes e ensinamentos que recebeu durante sua infância — de que para ser uma exímia guerreira tivesse que controlar os sentimentos e não os expor levianamente —, ela pode muitas vezes ser considerada insensível. E Sparda conhecia perfeitamente bem a verdadeira face da jovem, aquela escondida atrás da fortaleza que construiu ao seu redor e que poucos viram: a ingenuidade e a personalidade minimamente infantil. Durante o tempo em que conviveram tinha a visto triste uma vez: quando perdera o pai na guerra que travaram ao que pareceu ser uma memória distante, afinal passaram-se mil e setecentos anos desde o ocorrido. Arya não é mais a garota cheia de vida e feroz guerreira daquela época, ao contrário, era uma mulher reservada e melancólica que se torturava constantemente com a sensação de impotência de não ter feito suficiente como também sua vontade de lutar desaparecera. Ao aproximar-se paulatinamente do final do sinuoso corredor em formato de T, seus olhos localizaram pequenos e quase imperceptíveis mechas no chão. Identificou-o confuso, sendo retalhos de cabelos, mais especificamente as castanhas e onduladas madeixas de Arya.
Nunca, em hipótese alguma, ela permitia-se cortá-los. Por esse motivo estranhou de imediato vendo-os ali, deliberadamente formando uma trilha para seu quarto.
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Coletâneas do Cotidiano em Devil May Cry
FanfictionEntre caçadas de demônios e impedir que Imperadores Infernais dominem o mundo, a trupe de Devil Hunters - junto da Garota de outra dimensão - será posta em abordagens mais humanas, vivendo cada particularidade de uma vida comum nos parâmetros mais n...