Primeira Caçada

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"Em seu encalço estava Dante parecendo bem mais animado e ostentando um sorriso, talvez devido a oportunidade de trabalhar com o ele — seu filho. Gael não escondia seu desagrado em dividir a cena com seu progenitor, que ironicamente acabara de conhecer ao vivo."

[Relação Pai&Filho | Dante e Gael]

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Aborrecido era a expressão que o definia bem aquele momento enquanto apressava o passo. Em seu encalço estava Dante parecendo bem mais animado e ostentando um sorriso, talvez devido a oportunidade de trabalhar com o ele — seu filho. Gael não escondia seu desagrado em dividir a cena com seu progenitor, que ironicamente acabara de conhecer ao vivo. Nos seus recentes catorze anos, só o viu através de fotografias e o pouco que sabia a seu respeito eram o que falavam, sobretudo sua mãe e seu tio e mentor, Vergil. E diferente de qualquer encontro familiar, Gael não estava nem um pouco feliz com esse contato forçado. Na verdade queria entender o real propósito de ter companhia, nem seria a primeira vez que partia em uma missão sozinho e quem geralmente o acompanhava era Vergil.

— O tempo passa voando mesmo e você parece muito comigo na sua idade — Gael olhou de soslaio com desprezo, não abalando em nada a postura do meio-demônio.

— Por que você veio afinal? — perguntou em tom hostil. — Não sou uma criança pra precisar de babá.

— Estou aqui pra te ver em ação e — fez uma pausa dramática com a clara intenção de provocar o garoto. — Catorze anos. Você ainda nem saiu das fraldas. Acho que é muito cheio de si pra um garoto que não chega nem a metade do meu tamanho.

— Cala a boca, velhote! — rosnou irritado, arrancando risos de Dante. Por mais auto disciplina que Gael tenha treinado, ainda era um adolescente e as palavras certas somado a pessoa certa poderiam fazê-lo explodir rapidamente. O garoto possuía um gênio difícil e que dobrá-lo seria uma tarefa árdua e praticamente impossível. Conquistá-lo pelo seus pequenos pontos fracos soava mais fácil e divertido.

— Devia falar melhor com seu velho pai — brincou, ganhando um muxoxo enraivecido.

— Pai? Eu não tenho pai — Dante viu, naquele breve instante, ele mesmo mais jovem projetado em seu filho. Pronunciando a mesma frase. Como um carma. — Um pai é muito mais que doar material genético.

Dante suspirou.

Mudar o ponto de vista dele levaria tempo e exigiria paciência. Mas estava preparado. Sempre esteve, isso desde o momento que descobriu a existência de seu primogênito.

Ao chegar no depósito abandonado, os dois caçadores pararam na entrada. Dante fixou atenção em Gael que, assim como a mãe, conseguia fazer uma leitura energética com perfeição.

— Nove. E um décimo cuja aura indica mais poder. O que daria pra concluir é o que comanda a pequena horda — informou, cético. — Temos que mantê-los aqui. Evitamos civis envolvidos e a destruição do patrimônio público.

Dante deu de ombros e com um gesto despreocupado abriu espaço pro garoto ir na frente. Não lutaria, exceto se for necessário. Queria ver a capacidade do garoto e avaliar seu estilo único de batalha.

Por dentro, a escuridão impedia que enxergassem, mas Dante sentiu o deslocar gracioso e ágil do filho ao eliminar os demônios presentes. Gael estalou os dedos invocando uma esfera de luz que resplandeceu suavemente, iluminando o galpão. Não demonstrando surpresa ou medo, o pequeno caçador fitou o líder do pequeno grupo. Comparado aos demais, esse detinha mais peso energético; acentuando seu tamanho, quase como se ficasse maior.

O meio-demônio instintivamente com o mero risco do filho ser ferido, tocou o punho de Rebellion, prontificando-se a atacar.

— Isso é alguma piada? — a criatura debochou, olhando para o menino. — O que um pirralho como você... — antes que tivesse tempo para terminar seu comentário, metade de seu corpo já havia sido dilacerado em um movimento quase imperceptível.

— Saiba seu lugar — Gael cuspiu com claro desdém. Dante franziu a testa, até mesmo na questão hábitos vagamente lembrava Vergil — o que já devia nem ser surpresa, uma vez que seu irmão foi o responsável pelo treinamento do menino.

— Esse é o meu garoto — aproximou-se dele, tocando de leve seu ombro. — Estou orgulhoso do quão forte você se tornou — Gael o encarou, pela primeira vez, sem nenhum traço de inimizade, raiva ou apatia. Uma faísca de alegria legítima atravessou os olhos azuis dele, algo que o fazia, de fato, parecer o que é: uma criança. Era impressionante vê-lo esboçar um discreto sorriso, contente pelo reconhecimento vindo do pai. Dante percebeu com um pouco de esperança que mesmo não admitindo, aquilo significou muito pro seu filho — talvez durante todo esse tempo tivesse esperado para ouvir aquilo. Um sinal de que nem tudo estava perdido. Que, com muito esforço, teria maneiras para construir o laço de pai e ganhar o carinho de Gael. Repentinamente o garoto chacoalhou a cabeça, retomando a pose austera, disfarçando o sutil rubor que tingiu suas bochechas.

— Vamos embora, velhote.

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