Transformei seu Irmão em um Gato - 1

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"- Dante... Acho que, de alguma forma, transformei o seu irmão em um gato - ergueu o felino mal-humorado em direção ao meio-demônio, para que tivesse como analisá-lo de perto. Perto até demais. - Especificamente nesse gato."

[ Comédia | Fluffy | Dante/Diva/Vergil ]
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ASSOCIAR EVENTOS PERIGOSOS de escala global, demônios arruaceiros que tramavam nas sombras e dinâmicas familiares caóticas com Devil May Cry, sobretudo, o proprietário Dante, não era uma ocorrência incomum - na verdade, definia a essência crua do lugar. Não por ser o centro de algum fenômeno que desencadeia catástrofes devido a um mal enraizado nas entranhas do estabelecimento, simplesmente o acaso acabava atraindo esse tipo de má sorte e o resto vinha como consequência.

Graças a onda de infortúnios combinado com o histórico nada convencional, Dante estava mais que apto para qualquer situação extrema tendo no currículo uma extensa lista de seres que orgulhosamente já chutou o traseiro para fora do mundo humano. Não existia nada e nem ninguém no mundo que se comprometesse a proporcionar um desafio real a ele, ninguém capaz de surpreendê-lo tampouco de tirá-lo da comodidade de sua, nem um pouco modesta, visão de força.

No entanto, com um semblante aterrorizado e um gato bastante carrancudo nos braços, Diva lhe professou uma das frases mais absurdas, estranhas e engraçadas que ouvira em todos os anos de carreira:

- Dante... Acho que, de alguma forma, transformei o seu irmão em um gato - ergueu o felino mal-humorado em direção ao meio-demônio, para que tivesse como analisá-lo de perto. Perto até demais. - Especificamente nesse gato.

Em um primeiro momento, uma risada frouxa se projetou pela boca aberta em um sorriso matreiro, mas vendo o desespero que dela exalava percebeu que não seria uma brincadeira. Qualquer um que se deparasse com uma mulher prestes a chorar por algum problema, entende que o assunto era tudo no âmbito de preocupante, menos uma burla.

- Explica melhor isso pra ver se consigo entender - pediu parcialmente cético.

- Estava com Vergil em uma missão, fui testar um feitiço que tinha lido no livro que a Maya emprestou e... - novamente colocou o gato nos holofotes para ilustrar sua narrativa. - Simplesmente ele virou esse gato.

- Tem certeza? - Dante se deslocou até o bichinho de pelagem branca e olhos azuis severos. - Não acho que isso seja possível.

- Eu também não acreditaria se não tivesse presenciado - retrucou azeda. - A questão é: esse é o Vergil!

- Deixa eu ver de perto - Diva entregou o gatinho para Dante que procurou alguma evidencia mais concreta que só a coincidente palete de cores e o olhar de desprezo, o que por si só relacionava somente ao fato de que seu irmão e os gatos compartilham em parte um desgosto padrão. Não muito contente com o arranjo, o peludo começou a esticar as patas para acertá-lo. - Boa tentativa, carinha, mas vai precisar mais que isso pra me pegar. - o caçador sorriu desdenhosamente das tentativas do pequeno, o que atiçou mais o comportamento arredio. Sem se acovardar diante do desafio, o felino se soltou do meio-demônio, usando um truque veloz, e o arranhou na cara.

- Dante?

- Eu não devia ter subestimado essa bola de pelos.

Diva correu para alcançá-lo antes que o gato escapulisse para longe. Diferente maneira que se portou, o felino se adaptou rapidamente ao abraço da mulher que afagava as orelhas dele.

- Parece que ele tem um favorito. - Dante debochou não muito satisfeito com o resultado. O gatinho se aprumou, ronronando, contra o conforto dos braços dela.

- Achou algo nele?

- Não. Tem certeza de que é mesmo o Vergil?

- Já disse. - resmungou. - Como vou conseguir fazer ele voltar ao normal?

- Se foi um feitiço, é só fazer o inverso. - disse com os olhos estreitos.

- Você fala como se tivesse experiência com feitiços, foi um teste apenas.

- Um teste que funcionou e precisa ser resolvido. - o caçador retrucou. Dante quis rir pela ironia, talvez pela maluquice do conceito ou pelo quão estúpido isso seria ao imaginar a reação de todo mundo com a descoberta, principalmente de Nero. - Tem algum plano, doçura?

- Não sei... Deitar no chão e chorar? - forçou uma risadinha com o comentário que soou mais esganiçado e choroso que espirituoso como pensou que seria.

- Seria um bom plano se não tivesse um gato pra criar.

Diva fitou o bichinho com pesar matutando alguma ideia que proporcionasse um direcionamento, uma resolução que não fizesse o filho mais velho de Sparda a antipatizá-la por tê-lo convertido em um animal doméstico fofo, espertinho, bem articulado e com síndrome de manda-chuva. Em sua lista mental de tarefas também assinalou com o que deveria alimentar Purrgil, se teria que desembolsar uma quantia pra comida de gato ou lhe daria o que Vergil normalmente consumia - o que se definia como saudável em contrapartida com os terríveis hábitos alimentares de seu gêmeo mais novo.

- Será que ele vai ficar bravo se eu passar a chamá-lo, enquanto ele está assim, de Purrgil?

O rosto de Dante se contorceu antes dele simplesmente se projetar ligeiramente pra frente em uma gargalhada alta, genuína e cheia do que reconheceu ser malícia. Diferente dela, o meio-demônio estava desfrutando de cada segundo da desventura de seu irmão e como tudo se desenrolava. Poderia dizer que esse seria o entretenimento dele enquanto o efeito do feitiço perdurasse.

- Se é do seu gosto, por que não? Eu preciso aproveitar cada momento disso pra fazer questão de jogar na cara dele quando voltar ao normal, certo irmão? - aproximou o rosto do gato com um sorriso convencido que lhe rendeu um tapa enfurecido do felino que guinchou ameaçadoramente.

- Ele ficou chateado.

- E quando ele não está? Meu irmão é um velho ranzinza desde sempre. - deu de ombros.

Diva pousou o gatinho na escrivaninha ao lado do caçador que o espirou de esguelha; assistindo-o sentar e vislumbrar o local. Purrgil se espreguiçou e caminhou pomposamente pelo mesa, cheirando a última fatia da pizza disposta na caixa.

- Nem nos seus sonhos, o último pedaço é meu. - o mestiço agarrou a fatia enquanto o gato se esticou para alcançá-la. Sem obter seu alvo, o felino continuou sua curta jornada e encostou a pata na latinha de suco de tomate. - Você não... - mal conseguiu terminar a sentença quando Purrgil a empurrou para fora. - Nunca pensei que diria isso, mas irmão, você é um gatinho mal.

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