Blue Rose (Parte I)

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"Vergil não entendeu o comentário e como um trecho pouco visitado, uma floricultura minúscula em uma cidade supérflua que pouco se mostrava interessada em contemplar plantas ou sequer a cultivá-las, poderia ser algo que tivesse tanto valor para a mulher."

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Vergil não costumava se distrair com coisas mundanas — na verdade, dificilmente algo lhe atraía o suficiente para parar o que fazia apenas para olhar

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Vergil não costumava se distrair com coisas mundanas — na verdade, dificilmente algo lhe atraía o suficiente para parar o que fazia apenas para olhar. Contudo, aquele dia em particular, viu de relance rosas azuis na vitrine de uma floricultura de aspecto modesto e bem organizado. Nunca reparou que a poucas quadras da agência de seu irmão existia uma loja de artigos de jardinagem tampouco uma com um acervo tão grande de flores expostas e como eram bonitas em sua delicadeza e vivacidade. Todos os dias, em seu regrado percurso até a livraria, passava por ali e nunca se incomodou em explorar os arredores com devida atenção.

O meio-demônio permaneceu a uma curta distância da entrada do pequeno estabelecimento sem intenção de adentrá-lo, não notando o quão focado se encontrava em sua tácita admiração pela simples flor que enfeitava a prateleira.

— Linda, não é? — uma simpática anciã murmurou com um sorriso afável e convidativo. Visivelmente exultante com a presença do meio-demônio.

Vergil a encarou com um semblante estoico, sem se dar ao trabalho de responder a interação amigável da velha senhora. Apesar de suas habilidades sociais terem melhorado comparado ao seu antigo eu, não gostava de engatar conversas triviais principalmente com uma mera desconhecida. 

— Por que não entra? — indagou com serenidade. — Vamos, querido. Entre. Não precisa se envergonhar.

Vergil franziu o cenho com a insistência da senhora, mas não se opôs tanto quanto desejou. Por cortesia ou apenas porque, em seu íntimo, queria, não tinha como ter total certeza. Suas pernas percorreram o curto espaço sem hesitar, aspirando uma variada mistura de aromas impregnados pelo ambiente fresco.

— Essa é minha loja e meu orgulho. — proferiu com graça.

Orgulho? O meio-demônio não entendeu o comentário e como um trecho pouco visitado, uma floricultura minúscula em uma cidade supérflua que pouco se mostrava interessada em contemplar plantas ou sequer a cultivá-las, poderia ser algo que tivesse tanto valor para a mulher. Convivendo com os humanos por algum tempo e testemunhando suas estranhas ações e perspectiva de mundo, Vergil começou a se dar conta que não compreendia realmente as emoções e suas vulnerabilidades.

— Você gostou das rosas, não é? — perguntou se posicionando atrás do balcão e vestindo o avental com desenhos florais. — É uma nova aquisição que decidi vender, sabe?

O homem sisudo fitou as distintas espécies de flores que o cercava em silêncio meditativo.

— Meu marido dizia que se não arriscarmos um pouco perderíamos oportunidades. Então quis testar essa teoria, você foi o primeiro a aparecer logo no dia da estreia. — riu animada, mantendo o ar terno. — Rosas azuis não são encontradas naturalmente na natureza, elas são criações humanas.

A tonalidade harmoniosa de azul escuro tornava as pétalas quase tão belas que se assemelhavam a seda.

— Infelizmente meu marido não está mais aqui para admirá-las. — suspirou por um instante, fazendo com que Vergil a fitasse. — Essa floricultura foi um negócio nosso e quero mantê-lo para que possa dar a chance de outras pessoas terem o mesmo prazer que tínhamos em preservá-las e ver de perto sua beleza.

Sua mãe amava atividades na antiga estufa e associava flores, sobretudo lavanda, a ela.

Vergil voltou a focar nas rosas, um pouco tocado com as palavras da florista — mais do que gostaria de admitir. Estranhou um pouco o quão envolvido estava com a situação e que aquilo tinha mexido em uma parte sua que não deveria.

— Diferente do que a maioria pensa, flores são mais que uma decoração. Elas tem simbolismo e falam.

— Falam? — questionou pela primeira vez desde que o diálogo se iniciou.

— Oh. — a mulher arregalou ligeiramente os olhos, contente com a curiosidade do homem cético. — Sim. As flores tem sua linguagem própria.

Saindo detrás do balcão, a senhora manuseou uma das rosas com cuidado e a pôs em um invólucro transparente, mostrando ao meio-demônio.

— Alguns acreditam que ela representa a prosperidade e laços, mas, em muitas culturas, elas retratam a busca e alcance pelo impossível. — ofereceu ao homem que, à princípio, transparecia certa relutância, porém a pegou com um cálido sentimento preenchendo seu peito. Uma sensação tão inexplicável e fora de tudo que já experimentou que não soube o que significava ou porque surgiu. — Você parece ser um homem muito nobre e de poucas pessoas.

Vergil estudou a mulher, avaliando suas feições e sua assertiva observação. Ela conseguia descrever bem o que seus olhos astutos liam nas entrelinhas. Diva também tinha essa estranha sensibilidade e, segundo ela, provinha do que chamava de empatia — a capacidade de ser colocar no lugar do outro.

— Ah! Leve essa aqui também. — entregou um lírio, juntando-o a rosa. — Considere um presente de boas vindas!

— Agradeço. — seu tom soou sutil e intrigado.

— Pode vir mais vezes, mesmo que seja só para admirar minhas flores.

Vergil caminhou para a saída, parando por um instante.

— Eu voltarei, mas dá próxima comprarei algumas. Tem a minha palavra. — retomou seu trajeto de volta para Devil May Cry.

Escutou um canto do lado de fora do prédio ao se aproximar da porta, sendo recebido por Diva que o saudou com um sorriso carinhoso. Seus olhos não a abandonaram enquanto a via arrumar o escritório com Dante jogado no sofá como de praxe.

— Você deveria fazer meu irmão inútil te ajudar. — Diva riu com a sugestão. — Ele é um homem adulto e você não é babá dele.

Dante entreabriu um dos olhos com a fala ácida de seu gêmeo.

— Oh, que lindas flores. — Diva se aproximou para vê-las, notou como ela parecia genuinamente encantada com as duas.

Vergil tomou o lírio pelos dedos, convencido de que talvez presenteá-lo certamente a faria feliz. Diva inalou o perfume e fechou os olhos como se o ato lhe proporcionasse uma alegria singela e doce, exatamente como previra.

— Muito obrigada, Vergil. Prometo que cuidarei bem dela. — dito isso, ela a inseriu em um recipiente com água, pondo sobre a escrivaninha para apreciá-la enquanto trabalhava na limpeza.

Dante assistiu a cena quieto, não alfinetando seu irmão com um gesto tão gentil e o perturbando. Sorriu discretamente com a possibilidade do irmão se abrir mais.

Vergil depositou a rosa azul sobre sua cômoda e sentou na cama, fixando seu olhar sobre ela.

— Alcance do impossível. — murmurou pensativo, mas consciente de que, de alguma forma, soava como a resposta que tanto ansiava.

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