Relâmpago Amarelo

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"Ela era um demônio, um demônio que possuía alma e uma alma capaz de chorar."

[Trish centric | Trish e Diva | Dinâmica de Identidade | Crise de Identidade Leve | Relação Platônica]

Créditos do banner maravilhoso: Mocchimazzi {Elysium Editions ❤️}

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Contemplando o tédio, Trish folheou a revista mais recente de uma editora especializada em moda que destacava as tendências para a estação com fotografias das peças em alta resolução, uma estratégia eficiente para prender a atenção do público alvo...

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Contemplando o tédio, Trish folheou a revista mais recente de uma editora especializada em moda que destacava as tendências para a estação com fotografias das peças em alta resolução, uma estratégia eficiente para prender a atenção do público alvo — o que poderia servir para ela também. Houve muitas ocasiões, principalmente no passado, que desejou se revitalizar, fugir desse estigma de ser um demônio moldado a imagem da mãe de Dante, Eva. Quis mudar seu cabelo, trocar seu estilo ou qualquer outra forma de distanciamento com seu modelo original. Simplesmente ter sua pessoa como uma criatura independente.

Se acostumar em ser vista como sua própria persona demorou um pouco, porque, no fundo, ela mesma se sentia confusa sobre como lidar com Dante, o que a estimulou a procurar seu caminho individual e se separar do caçador durante um período. Nesse interim aprendeu muito sobre os humanos, sobre si e os desejos e vontades que existiam em seu interior. Tudo se encaminhou para seus devidos lugares orgânica e gradualmente, sem que ninguém se forçasse a formar uma aliança inconveniente.

No entanto, ao ponderar a respeito, as coisas mudaram com a chegada de Diva. A jovem era literalmente a cópia de outra, assim como ela, buscando também superar essa barreira e provar que não era uma versão atualizada de sua encarnação anterior. Poderia não ser exatamente idênticas nessas expectativas e em toda a concepção do dilema, pois, enquanto Trish foi criada para parecer Eva, Diva nasceu para continuar o legado de seu antigo eu. Contudo, isso não impediu que se construísse uma ponte de empatia entre as duas, tendo um carinho genuíno envolvido muito além de uma parceria improvisada.

Trish virou uma página, avaliando um traje, mas com o cenho franzido pela repentina mudança de atmosfera em sua linha de raciocínio. Anos se moveram como areia em ampulheta, ainda assim, se pegava vez ou outra recordando disso. Sua distração frívolas não cumpria mais tão bem seu propósito, não a atraindo o suficiente para romper o círculo vicioso de monotonia que perdurou por horas.

Diva se sentou no sofá ao seu lado, tirando-a de sua zona de aborrecimento.

— Eu posso adivinhar: problemas no paraíso? — brincou com uma pontadinha de sarcasmo.

— Se você se refere a um bando de meio-demônios se estranhando, então sim. — deu uma risadinha. — O que faz?

— Lendo.

— Uma revista? — perguntou com curiosidade. — E é bom?

— Dá pra passar o tempo.

Diva fez uma careta engraçada.

— Que tedioso. — a garota deslizou as mãos pela massa castanha que suas madeixas formavam, tão dispersa com o gesto que quase transparecia viajar para outro mundo com o semblante sereno e os olhos vagos. — Ultimamente nós não temos nos encontrado muito.

— Com os rapazes monopolizando seu tempo, fica mais difícil. — replicou sem deixar o tom gracioso.

— Preciso de um pouco de estrógeno — afirmou dramaticamente com um sorriso. — Sabe, andar mais com outras garotas. — sem dizer mais nada, surpreendendo a loira, Diva repousou a cabeça no colo dela. Intuitivamente Trish tocou mexeu no cabelo dela com uma noção um pouco superficial do que realmente deveria fazer, mas entretida pela quebra de distância tão inesperada.

Tal qual uma semente que brota de um solo fértil, dúvidas povoaram a mente da loira que meditou sobre sua complexa fase de desenvolvimento de identidade e como tudo mudou em uma trama cheia de reviravoltas. Nunca foi do seu feitio hesitar em suas motivações e medir ações, exceto se existisse um risco real agregado a isso, o que, certamente, não era o caso. Deixou a revista de lado com a atitude convicta, proferiu com cautela:

— Você já encontrou suas respostas, Diva?

Diva a mirou, confusa inicialmente, mas, conforme sua mente destrinchava a incógnita por trás da indagação, captou a essência dela.

— Não sei bem ao certo. — as feições alegres deram espaço para uma fisionomia mais séria. — Eu não tenho que viver à sombra da Arya, posso muito bem viver como eu mesma sem ter que suprir expectativas irreais. Acho que é um processo lento e complicado, porque instintivamente sempre vou assumir esse posto, mesmo que não queira realmente. — Diva a fitou com interesse, se aprumando no assento acolchoado. — E quanto a você?

Trish cruzou as pernas sob a vigilância astuta de Diva.

— Eu sou minha própria pessoa. — repetiu o mantra que dizia internamente ao que parecia séculos atrás como um discurso de auto afirmação sustentado pelo dilema que a assombrava e, embora não tivesse tanto peso quanto teve na época, ainda sentia a repercussão dessa insegurança. — E é isso que importa.

— É um fardo estranho que se carrega por nascer sob a sombra de alguém. — comentou reflexiva, olhando o teto. — Admiro sua força de vontade, Trish. Você é uma mulher de fibra, gosto de pessoas como você.

— Não tenho nada que devesse ser admirado.

— Eu não acho. — pouso a mão sobre a da mulher demônio como uma manifestação de cumplicidade e apoio. — Você conseguiu sair do domínio de Mundus e foi contra o propósito pelo qual foi criada pelo espírito brilhante que sei que tem. Não é a toa que seus poderes são baseados em raios.

Apesar de não estar acostumada com afetos tão abertos e alguém que legitimamente gostava de demonstrá-los, não negou o quão humano e vulnerável a miríade de emoções a deixavam, como se estivesse cultivando o princípio do que pensava ser um resquício de humanidade. Ela era um demônio, um demônio que possuía alma e uma alma capaz de chorar. Criaturas frágeis que podem ser subjugadas por outros seres, contudo, tinham em si o maior e mais precioso dádiva existente: o de chorar.

Recordou de ter pedido a Dante retornar o nome original de Devil Never Cry para Devil May Cry, o que sempre teve muito mais sentido. Naquele momento, em um curto intervalo, Trish experimentou uma parcela do dom inato dos humanos, apreciando os segundos mais delicados de sua vida. A epifania a atingiu feito um raio dourado que também simbolizava seu poder.

— Agora consigo entender melhor do porque até o Vergil caiu na sua graça. — sorriu com diversão, sobretudo pelo cara que Diva fazia: o que a confundiria com um cervo impressionado. — Você quer sacar o melhor das pessoas mesmo que elas não vejam o mundo como você, é algo que não deve abandonar, mas tome cuidado com essa ingenuidade pra que não usem contra você, Diva.

— Eu não concordo com você, Trish. — se levantou com entusiasmo. — Não vejo o lado bom de ninguém, somente as faço perceber que elas não são tão unidimensionais quanto pensam. Alguém precisa lembrar as pessoas daqui que não é tudo preto e branco, também existem as nuances.

— Vou te dar esse voto de confiança. — a loira sorriu. — Bem, você não disse que queria passar o tempo com outras garotas?

Diva assentiu.

— Venha, também preciso de um tempo. Pegamos a Chevaliere e veremos o que podemos fazer. — as duas mulheres riram, seguindo em frente com o plano.

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