Depois de uma longa e inquietante avaliação, Dante decide que chegou o momento de fazer Vergil, privado de boa parte das experiências humanas, provar a melhor coisa criada pelo homem: a pizza.
[Dante&Diva&Vergil | Comédia]
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A monotonia de um dia sem ocorrências ou ligações envolvendo demônios estabeleceu uma atmosfera preguiçosa no qual Dante estava bastante acostumado. Nem sempre surgiam trabalhos que necessitassem de sua atenção prévia tampouco arruaças com criaturas do submundo para resolver e estava bem com isso, fazia parte do negócio. O som ininterrupto do ventilador preencheu o silêncio, jogando sobre os presentes fracos sopros de ar que sequer funcionavam bem para o objetivo de refrescar, mesmo não estando particularmente quente.
O clima razoavelmente ameno favorecia, em parte, para que não tivesse que suportar o gênio variado da sua companheira que tinha um histórico de ficar bastante irritável em temperaturas extremas, embora ele contribuísse para tal com seus comentários fora de hora e humor duvidoso, não queria arriscar dormir no sofá mais uma semana pela ousada empreitada.
Retirou a revista que cobria seu rosto, sem sair de sua posição preguiçosa de descanso. Fitou a porta com interesse, aguardando a iminente chegada do entregador com sua pizza para que, enfim, pudesse degustá-la para seu deleitamento casual. Ligou para a pizzaria há pouco mais de meia hora e considerou a possibilidade deles terem desistido de tê-lo como cliente pelas dívidas ainda em aberto em seu nome, talvez se não fosse Diva cuidando das questões financeiras da agência com pulso firme, essa conta seria muito maior. Folheou a mesma revista que usou como cobertura com interesse nulo. Paciência não era uma virtude que possuía e os minutos passando lentamente somado a sua fome, tornavam a espera mais enfadonha.
Apesar de gostar de tempos de calmaria em sua rotina agitada, o tédio pela falta de ação o incomodava e as vezes tinha que usar sua criatividade para arranjar distrações, porque quanto menos se ocupasse, mais sua mente traiçoeira começaria a se agitar em um sentido negativo. Pensou em testar com Diva, que se encontrava deitada no sofá lendo um dos livros de Vergil, suas mirabolantes ideias de atividades para entretenimento mútuo, porém com a leitura dificilmente ela aceitaria qualquer proposta e se a interrompesse, muito provavelmente, acabaria com uma mulher muito aborrecida.
Com o toque na porta, Diva levantou, se espreguiçando no meio do curto percurso, para atender o rapaz da entrega e agarrou cuidadosamente as duas caixas de pizza com uma expressão que não conseguia ler: uma mistura de “sério?” irônico com “Você não muda mesmo”. Ela as depositou na mesa sem alarde, querendo retomar sua tranquila leitura sem mais intervenções.
– Você passa tanto tempo lendo que começo a achar que prefere a companhia dos livros que a minha. – brincou, pegando uma fatia ainda fresca e quente daquela maravilhosa pizza.
– Tenho espaço no meu coração para os dois. – retrucou rindo. – E creio que você pediu pizza três horas antes, vai quebrar de novo o orçamento.
– Não se preocupe, querida. – assegurou com o semblante confiante. – Eu tenho tudo sob controle.
– Da última vez que disse isso, a agência ficou metade destruída. – Diva contra argumentou, rindo.
Dante lambeu os dedos oleosos com satisfação, recebendo um olhar de desaprovação da jovem.
– Espero que não encoste nos móveis que limpei com essas mãos gordurosas. – repreendeu, cruzando os braços.
– Doçura, relaxa. Não tenho a intenção de sujar nada. Aproveite e deguste junto comigo, sim? – ofereceu a caixa aberta com a pizza exalando um aroma delicioso que despertou o estômago da moça com um ronco tímido que a deixou visivelmente constrangida. Diva alcançou com cuidado o pedaço da pizza e mordiscou sem fazer muita bagunça.
– Quer luvas e babador também? – alfinetou em tom tão atrevido quanto o padrão.
Diva arqueou a sobrancelha.
– Um de nós tem que ser cauteloso. – revirou os olhos, mordendo generosamente o aperitivo. – Além disso, não quero sujar o livro que seu irmão me emprestou.
Com a menção de seu gêmeo, Dante, subitamente, teve uma espécie de epifania no qual percebeu um mero detalhe que lhe fora quase despercebido – tanto que demorou para que entendesse o peso da verdade. Se ajustando na cadeira, o caçador encarou Diva que franziu o cenho confusa tanto com a pausa brusca na tagarelice do meio-demônio quanto pela postura reflexiva dele.
– Algo errado? – indagou incerta.
– Acabei de notar...
– O que?
– Meu irmão nunca esteve muito interessado em nada ligado ao mundo humano. – iniciou se debruçando ligeiramente sobre a mesa antes de retornar ao lugar despreocupadamente. – Talvez seja o momento perfeito para mostrar a ele uma das maravilhas criada pelos seres humanos, a pizza.
Diva riu, não sabendo se de nervoso ou por enxergar algo divertido na ideia do caçador em querer introduzir o irmão ao mundo como se ele fosse um mediador. Diferente da idealização de Dante, não seria ingênua em acreditar que em todos esses – quase – quarenta anos, Vergil não tenha comido pizza em nenhuma ocasião. A proeza do gêmeo mais novo em ultrapassar todos os limites lógicos de algo, sempre a impressionava.
– Não querendo ser estraga prazer, mas como pode ter tanta certeza que ele nunca comeu antes?
– Doçura, eu sei do que falo. Conheço meu irmão. Ele não vai recusar, pizzas podem amolecer um coração duro.
Diva revirou os olhos.
Por mais que quisesse negar, tinha uma certa curiosidade para assistir, em primeira mão, o desenrolar daquela situação arquitetada por Dante e as reações que causaria. Sentou na borda da mesa e contou os minutos restantes para chegada de Vergil. Sendo um homem regrado, ele determinava um horário exato para retornar e fazer o que precisava.
– Bem vindo de volta, Vergil. – Diva saudou, recebendo um breve e discreto aceno de cabeça do gêmeo mais velho.
– Irmão, aproveitando que finalmente chegou, tenho uma oferta irrecusável.
– E o que está tramando? – replicou com frieza.
– Simples: quero te dar a chance de provar algo que você nunca experimentou antes. – Dante, carregando uma das caixas de pizza, se aproximou vagarosamente do irmão que franziu o cenho, seu olhar vagou até Diva em busca de uma explicação para aquela estupidez perpetrada por uma mente não muito engenhosa como de seu gêmeo mais novo, tendo um dado de ombros em resposta.
– Irmão, o que te faz assumir que nunca comi isso? – a expressão plácida de Vergil denunciava sua falta de vontade em participar das brincadeiras de Dante.
– Foi exatamente o que eu disse! – Diva se pronunciou.
– E então, você já comeu? – Dante incitou com uma sobrancelha erguida em desafio.
– Não.
Diva ficou mortificada. Totalmente perplexa enquanto o mestiço lhe lançava um olhar convencido.
– Se eu provar essa coisa vou ter a garantia que não vai me envolver nas suas bobagens?
– Tem a minha palavra, só por hoje. – sorrio cheio de si com o semblante desgostoso de Vergil, que pegou a fatia da pizza. Sem cerimônias, mordeu um pedaço e mastigou sob a vigilância de Dante e Diva. Se ele gostou, não fez questão de demonstrar – como ocultar o que sente sendo uma das suas especialidades –, contudo, continuou comendo sem protesto ou a insistência do irmão mais novo. Conhecia-o bem para ter uma ideia de que, por trás da fachada endurecida, Vergil, de fato, gostou de prová-la.
Diva concordou com a citação anterior de Dante, nem mesmo alguém como o orgulhoso filho mais velho de Sparda resistiria a uma pizza.
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Coletâneas do Cotidiano em Devil May Cry
FanfictionEntre caçadas de demônios e impedir que Imperadores Infernais dominem o mundo, a trupe de Devil Hunters - junto da Garota de outra dimensão - será posta em abordagens mais humanas, vivendo cada particularidade de uma vida comum nos parâmetros mais n...