Dante enfrentou e venceu reis demoníacos tiranos e diversas criaturas que quase dominaram o mundo, mas nada o preparou para o confronto mais tenebroso de sua vida com o mais difícil adversário: seu sogro.
[Dante e Diva | Dinâmica Familiar | Comédia | Fluffy]
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Não importava quantas vezes cogitasse a possibilidade, menos soava razoável dentro do que queria — o que gerou várias hipóteses e resultados inimagináveis em cada uma delas, mais ou menos como o Doutor Estranho vendo todos os possíveis futuros e apenas um que os Vingadores obteriam a vitória.
Para ser justa, Lyana tinha razão em pôr isso em evidência e me fazer queimar meus neurônios para elaborar um plano que funcionasse bem para esse encontro. Na verdade teorizo que, em parte, ela queria plantar a sementinha do caos e da dúvida para que saísse da minha zona de conforto e resolvesse o que precisava sem deixar para última hora. Não é que a ideia nunca tivesse passado pela minha mente antes, apenas não imaginava que renderia boas recordações e certamente Dante rejeitaria a menor tentativa.
Ao vê-lo tão disperso e aparentemente de bom humor, decidi que aquele seria o momento perfeito.
— Dante! — chamei animada, torcendo para que meu nervosismo não transparecesse tão nitidamente. — Estava pensando que deveríamos ir à uma próxima etapa do nosso relacionamento.
Dante baixou a revista que folheava e me encarou intrigado.
— Isso significa que finalmente vai usar a fantasia que sua amiga te deu? — zombou com um sorriso travesso. — Ou será que você decidiu que está pronta pra...
— Não! — berrei para o interromper, corando em todos os tons de vermelho possíveis. Se não o detivesse, o diálogo se alargaria e se tornaria comprometedora demais pra minha própria sanidade. — Não é nada disso!
O caçador arqueou a sobrancelha e deu de ombros, pouco interessado no assunto, retomando sua atividade anterior.
— E o que é? — indagou por fim, arrancando um sorriso meu.
Sabia que podia contar com ele!
×××
— Então você é o namorado da minha princesa? — meu pai perguntou com seu típico tom de policial, fazendo com que o constrangimento me atropelasse a toda velocidade.
Cobri o rosto, enrubescida.
Meu pai trabalhava como investigador criminal e no quesito parecer sério e intimidador, duas especialidades que aperfeiçoou ainda mais na profissão que exercia, ele ganhava com louvores. Geralmente ele não marcava nenhum namorado passado meu, mas não julgava sua desconfiança, sobretudo, ao ver Dante fortemente armado com uma espada que quase me superava de tamanho.
— Princesa? — Dante virou a cabeça ligeiramente pra mim, seu sorriso exibia toda diversão que experimentava com a minha vergonha. Apesar de já estar pertinho da casa dos vinte e cinco anos, meu pai não deixava de me tratar como se eu fosse criança me chamando com apelidos fofos que meu eu de cinco anos amava. Não achava ruim, só que ter dito isso na frente de Dante era como um atestado de que ele se muniria contra mim por conta desse pequeno deslize. Afinal, a ideia tinha sido minha. — Ah, claro. Acho que dá pra definir nosso relacionamento assim. — gracejou tacando mais lenha na fogueira.
— Você não acha que é muito velho para namorar uma menina? — meu pai franziu o cenho, ciente desse detalhe.
De acordo com minhas contas tínhamos vinte anos de diferença — Dante com seus quase quarenta e um e eu com vinte e um — o que não definiria como um grande empecilho na relação. Ia comentar se esse tópico era mesmo relevante para ser discutido, porém minha mãe impediu que prosseguisse, meneando negativamente a cabeça. Sabia que minha interferência não pararia a determinação implacável do meu pai.
— Menina? Sua filha já é bem grandinha, muito mais do que parece. — Dante conseguia burlar as bandeiras de alerta que papai montava sempre que surgiam com a sequência de questionamentos, usando sua irreverência e jogo de cintura com a situação, quase o classificaria como um perito, no entanto, ainda era cedo demais para ter certeza que ele contornaria todas as armadilhas vindouras.
Suspirei aliviada.
— Ela tem idade suficiente para ser presa inclusive e ela foi, duas vezes. — sinalizei com certo desespero para não se aprofundar nessa história que ninguém precisava conhecer, principalmente meus progenitores.
— Como é?
— Ele está brincando, paizinho! — forcei a risada. — Dante tem um senso de humor muito fora do padrão.
Meu pai me encarou com severidade antes de voltar a atmosfera de interrogatório com o meio-demônio.
— Você trabalha? Como se sustenta?
— Bem, com os pés. — comentou ousado e eu rezava para que aquilo não se prolongasse mais em nome dos meus pobres nervos. — E trabalho como faz tudo, mas o meu meio principal de dinheiro é caçar demônios. — Dante esfregou o queixo como se estivesse pensando. — Ah, claro. Esqueci que nessa dimensão não existem demônios.
Papai franziu o cenho. Ele tinha pleno conhecimento sobre o lance todo de dimensões, sobre meus poderes e o fato de Dante ser parte demônio — e que ameaçar atirar nele caso me fizesse chorar não surtiria o mesmo efeito que teria com homens humanos.
— Pode ficar tranquilo, sogro. — disse dando uma ênfase engraçada na palavra sogro. — Estou cuidando bem da sua filha. Minha única reclamação é ela regular meus gastos, sei lidar muito bem com o dinheiro.
— Claro, por isso cortaram a luz e a água semana passada. — retruquei, revirando os olhos.
— Isso são imprevistos que podem acontecer com qualquer um. — a despreocupação estampada em sua face e emanando de seu corpo só demonstravam sua falta de equilíbrio financeiro.
— Querida, você não pode dizer muito porque gastou quase todo seu salário para comprar itens de colecionar dos jogos que seu namorado aparece. — mamãe me denunciou, rindo.
— Mãe! — choraminguei dramaticamente.
— Senhora Valentine, temos muito o que conversar. — Dante entrou em acordo com minha mãe.
— Vamos voltar ao papai, certo? — sugeri envergonhada.
— Vocês pretendem se casar? — ele indagou sem rodeios ao ser mencionado.
Engasguei pasma com o quão direto ele fora.
— Doçura, você quer casar? — Dante me fitou com curiosidade.
Casamento era um ponto muito complexo para ser citado tão casualmente, pensei.
— E isso é relevante? — rebati.
Dante alternou entre mim e meu pai, até tragar o ar com leveza e um sorriso sereno.
— Não sou rico, nem tenho muito para oferecer a sua filha. — meu olhar cruzou com o de Dante e um arrepio correu pela minha espinha. — Na verdade, a palavra falido até cairia bem nesse caso. — acrescentou bem humorado. — Mas o que puder fazer por ela, farei. Vou protegê-la com todo meu espírito e vou recompensá-la por ter me escolhido. Eu me importo com a sua princesa. — ele riu do apelido carinhoso que, não importava quantas vezes se repetisse, seria a mesma reação. — E acima de tudo isso, a presença dela na minha vida é um bom lembrete de como é bom ser humano.
Contrariando meus próprios planos pré estabelecidos, abracei Dante não contendo a miríade de emoções que transbordavam em mim.
— Sabe que se magoar minha princesa, vou te caçar, não é? — papai mirou Dante. — Então é bom que cumpra essa promessa. E já que resolvemos esse assunto, só há uma coisa a fazer...
E lá vem...
Bufei assistindo Dante perder pelo que pareceu ser a vigésima vez no poker. Ao menos as vitórias alegraram meu pai que agora tinha apostado um pacotinho de salgado.
— Agora que seu namorado e seu pai estão se dando bem, me responda, querida. — mamãe bateu o pé com o semblante sombrio. — Que história é essa de que foi presa? Duas vezes?
Havia algo feroz no tom dela que me fez ter certeza de uma coisa: seria uma longa, longa tarde.
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Coletâneas do Cotidiano em Devil May Cry
FanfictionEntre caçadas de demônios e impedir que Imperadores Infernais dominem o mundo, a trupe de Devil Hunters - junto da Garota de outra dimensão - será posta em abordagens mais humanas, vivendo cada particularidade de uma vida comum nos parâmetros mais n...