Festa do Chá do Tio Vergil

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"Eles eram uma família e, como tal, compartilhar um momento por mais simples que fosse, como beber chá, pra Gael parecia uma forma de estar próximo de seu tio."

[Dinâmica Familiar | Fluffy | Pai e Filho | Vergil e Gael]

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VERGIL NÃO ERA VERSADO NO QUE TANGIA os conhecimentos primordiais do desenvolvimento infantil, entretanto, sua vaga noção permitia reconhecer como interações influiam muito dos hábitos expressados pelos pequenos. Não obstante, Gael estava na fase de absorção do meio, imitando comportamentos e falas dos adultos mais próximos de seu convívio direto. Não existiam riscos dele aprender ações prejudiciais tampouco palavras de cunho duvidoso pelas estratégias adotadas por todos em não mostrarem tais barbáries na frente do menino, conservando sua pueril visão do mundo.

Aproveitando uma das raras ocasiões no qual desfrutaria de algumas horas de sossego, o gêmeo mais velho se delegou a cuidar do garotinho de quatro anos que praticamente o seguia feito uma sombra que se recusava a abandoná-lo, indo de um lado para o outro com a figura diminuta em seu encalço. Conforme envelhecia, sua paciência se tornava um ponto vital e nunca, de fato, se incomodava com a perseguição insistente do sobrinho, ainda assim, achava estranho que dentre os parentes ativos em sua criação, justamente, fosse ele o que recebia tanta atenção — considerando seu histórico nem um pouco lisonjeiro em seu papel de pai com Nero.

Agarrou a caneca, com um desenho estampado do que supôs ser um, como Diva havia lhe comentado, ouriço azul chamado Sonic, no qual Gael adorava, e colocou o leite pra esquentar. Em meio ao curto processo, resolveu que prepararia um pouco de chá com mel para terminar sua noite tranquila com uma boa xícara quente em um ritual pessoal de paz e meditação individual.

— Tio, lê pra mim? — a maneira doce e pouco eloquente pelo qual o pequeno se referia a ele fez Vergil fitá-lo com feições suaves. Gael era um dos únicos seres que conseguia trazer a superfície um lado seu menos indiferente, voltado a família e o instinto natural de proteção da cria.

— Vou terminar seu leite e lerei seu livro. — disse em um tom cordial e terno, que destoava com seu eu altivo e de, quase nulas, demonstrações afetivas.

Checando a temperatura para garantir que estava adequada para não ferir a criança, Vergil lhe entregou a caneca com uma tampa para facilitar o consumo e evitar acidentes devido a estabilidade frágil que um garotinho de quatro anos possuía com artigos domésticos.

— Obrigado, titio. — bebericou um pouco do conteúdo e encarou o meio-demônio com bastante curiosidade.

— Vamos. — convocou, ciente de que o sobrinho o acompanharia até o sofá carregando seu livro favorito consigo, apertando protetoramente contra seu peito.

Estendeu as mãos para alçar o pequeno e acomodá-lo ao seu lado, porém Gael recusou educadamente e, por conta própria, subiu no sofá, com certa dificuldade. Sorriu discretamente com o senso de independência dele e bebericou um pouco do chá, notando estar sendo replicado com menos desenvoltura pelo garotinho.

— Isso é uma brincadeira?

— Não. Quero ser igual a você. — Gael respondeu com os olhos azuis cintilando em admiração, entregando o livro.

Vergil iniciou a leitura em um tom suave e em um ritmo que o menino pudesse conciliar e compreender a essência da história. Seus dedos vagaram ternamente pela cabeça dele, um gesto de carinho tão instintivo que não se deteve ao tomar conhecimento de sua própria ação. Sua mãe também costumava mexer em seus cabelos e acariciá-los como um ato de conforto, as vezes cantando canções outras contando histórias fantásticas a respeito do pai. Gostava de ouvi-la, não somente pelo que narrava com grande afeição que se derramava feito mel a cada palavra, como também porque experimentava uma conexão maior com sua doce mãe.

E tentava fazer o mesmo com Gael.

O filho mais velho de Sparda estranhou, em parte, a maneira como conduziu a situação e como tudo parecia mais fácil de lidar, sem cobranças, olhares inquisidores e cheios de mágoa por uma relação que começou falida — Gael o amava inocente e genuinamente. A criança do seu irmão Dante, no qual cuidou durante anos, o mirava com fascínio silencioso. Sem julgamentos.

Um ressoar despertou Vergil de suas divagações, com a respiração tranquila, Gael adormeceu em seu colo. Com delicadeza, o pegou nos braços o fazendo se remexer ligeiramente.

— Tio. — murmurou sonolento. — Da próxima vez, também quero tomar chá com você e a mamãe. Um festa do chá, igual na história... — bocejou, voltando lentamente ao mundo dos sonhos.

Eles eram uma família e, como tal, compartilhar um momento por mais simples que fosse, como beber chá, pra Gael parecia uma forma de estar próximo de seu tio.

— Quem sabe. — disse, afável.

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