Um amor em vermelho

capítulo 15

Jake

As semanas passaram rápido após o baile da escola, nesses dias que passaram eu não fiz nada de mais, apenas cuidei dos filhos de uns amigos e saí algumas vezes. Ultimamente Dolf anda muito quieto, pelo menos perto de mim, eu sei que foi por causa do que aconteceu no baile mas ainda assim não explica a forma como ele anda agindo. Talvez eu estivesse errado, nada vai voltar a ser como era antes e Dolf não vai mais falar comigo, mas eu não tô preparado para isso.
Quando cheguei na escola fui direto para a sala de aula, me sentei em uma cadeira ao lado de Luke e o mesmo me olhou e logo começou a falar.

— Caso eu diga que você parece triste, você vai achar ruim?– Luke falou mudando a cor do cabelo para azul escuro.
— Dolf quase não fala comigo, acho que...– Luke me interrompeu.
— Aaah… Só isso? Sabe que ele não gosta desse mês.
— Ah!!! Como eu sou idiota, eu esqueci.
— Essa não é a primeira vez que isso acontece, você já deveria estar acostumado.
— Eu sei.

Me animei um pouco quando lembrei do porque ele não estava falando muito comigo, normalmente neste mês o Dolf faz um tipo de “ritual”, ele acredita que o mês de Abril traz muito azar e por isso ele evita de falar, mas ainda assim é estranho ver ele e ele nunca responder. As aulas passaram rápido e o recreio chegou bem rápido, nós todos fomos para a cantina e nos sentamos em uma mesa e logo começamos a conversar.

— Dito isso, agora vocês me respondem!! Vale a pena comprar um terno?– Vitor falou fazendo todos nós ficarmos com tédio.
— Talvez… sabe que eu não ligo para essas coisas.– Ace falou passando a mão pelos cabelos.
— Claro que não liga, você só usa jaquetas e calças rasgadas.
— Tem estilo.
— Eu concordo com o Ace.– Luke falou olhando para Vitor.
— Jake?!!– Vitor falou olhando para mim.
— Minha opinião não é importante, você vai ignorar.
— Só se concordar com eles.
— Éee… Sabe quem é bom com decisões importantes?!!!
— Quem?– Vitor falou apoiando a mão no rosto.
— O Dolf!!! Mas ele não vai falar.– olhei para Dolf.– Pode escrever?

Dolf pegou um pedaço de papel do bloco de notas do Vitor e depois tirou a caneta que prendia o cabelo dele fazendo o mesmo cair sobre seus ombros e rosto, sobre aqueles olhos verdes, lindos. Dolf começou a escrever e logo depois virou o papel para que lessemos.

— “O terno é pra você, não pra mim ou pra eles. Idiota!!!”
— Ah.– Vitor falou revirando os olhos.
— Sempre direto, Dolf.– Ace falou dando um soco de leve no ombro de Dolf.
— Seria melhor se você falasse.– falei olhando para ele.
— Claro, pra depois alguém dizer “Como é bom escutar essa sua voz grave!!! Parece uma tuba!!!”– Dolf deu um tapa na cabeça de Luke, fazendo ele ficar quieto.
— “E sua voz parece um chiado de tv velha”– todos nós rimos.

Ficamos um bom tempo conversando até que alguém bateu na mesa e todos olhamos para ver quem era, e não era ninguém menos que Alan, uma arara vermelha que falava muito, apesar da espécie ele era bem baixinho, ele estava usando uma camiseta que deveria ser do grupo dele da escola e estava segurando vários folhetos.

— Oiiiiiiii gente!!!– ele falou colocando os folhetos na mesa.
— Oi Alan, alguma novidade?– falou Ace erguendo as sobrancelhas.
— Pois é, você ainda me dá arrepios. Fora isso, eu não tenho feito nada além de ser um ativista que luta pelos direitos de animais ficarem com outros animais de outras espécies!!! Falando nisso… folheto?– ele pegou alguns folhetos e estendeu para nós.
— Eu até aceitaria, mas não acho que gostar de uma humana entre na lista.
— Eu sei, estamos pensando em classificar humanos. Alguém de vocês tem interesse?
— Acho a maior falta de educação perguntar algo assim para nós.– falou Vitor empurrando a mão dele.
— Saiba que “nós” temos olhos em todos os lugares, por tanto pergunto isso pro Luke.
— Eu?!!! Tipo assim… eu gosto da…
— SAARA!!! Eu sei.
— Como amiga… não namoraria com ela, por mais que pareçamos um casal.
— Tem certeza?
— Claro. Eu meio que como insetos tipo joaninhas, e ela é uma joaninha e…
— Você não tem cabeça pra isso. Jake? Rudolf?– ele falou estendendo os papéis para nós dois.
— Talvez seja um pouco…
— “Eu não preciso entrar em um grupo idiota com várias pessoas que só falam disso”
— Isso foi muito Espéciefobico, mas você é legal Rudolf. Bom, vou deixar alguns folhetos aqui caso algum de vocês mude de ideia.– ele deixou alguns papéis e depois foi embora.
— Nunca na vida eu vou entrar para esse grupo.– Vitor falou fazendo uma bolinha com o papel e arremessando na lixeira.
— Eu não acho que seja o fim do mundo.– falei e todos eles me olharam surpresos.
— Como?!! Você tá gostando de um carinha de outra espécie?!!!– Luke falou surpreso.
— Ah, mais ou menos… mas não é como se fosse o fim do mundo.
— Ficar com alguém do mesmo sexo é aceitável, agora ficar com alguém de outra espécie é… um pouco repulsivo.– Vitor falou limpando as garras.
— Eu sei disso, mas eu falei que não é assim.
— Verdade, se for de uma espécie próxima da sua, tudo bem. Tipo um crocodilo e um jacaré, uma arara com um papagaio, uma lhama com uma alpaca.
— Eu entendi, e eu não gosto de alguém de outra espécie.– assim que falei isso olhei para Dolf e o mesmo estava indiferente.
— Ok, mas pra falar a verdade, nunca cheguei a ver ninguém que frequentasse esse grupo.– Vitor falou revirando os olhos.
— Eu já, tem a Ally e o Billy, eles estão juntos a 1 ano.
— Ally foquinha e Billy caracol?
— É, também tem a Carmem golfinho, Nicolas gavião, Sandra vespa e etc.
— Claro, deve ser estranho, não?– Vitor falou olhando para Luke.
— Sério isso?!!! Mano, como deve ser fazer aquelas coisas?– Luke falou rindo.
— Não devem fazer, como você vai acasalar com alguém que nem se quer tem o mesmo tamanho que você?
— Sorte ter esses corpos meio humanos, só dessa maneira pra dar certo.– os dois começaram a rir sem parar.
— Isso não é tão engraçado assim.– falei revirando os olhos.
— Tá brincando? Claro que é, pensando bem, acho que nem com forma humana daria pra fazer isso.– Luke falou olhando para mim.
— Por que não?
— Tipo assim, pega você e o Dolf como exemplo, se vocês tivessem um relacionamento estaria tudo bem no início, mas uma hora vocês iriam querer fazer sexo, mas como que iria dar? Dolf tem 2 metros e mais um pouco e você tem 1,73, baixinho até. Considerando que vocês são homens e você não sabe o “tamanho do Dolf”, não daria certo.– fiquei com um pouco de vergonha quando Luke falou aquilo.
— Claro, faz sentido só até certo ponto, porque nós poderiamos não fazer sexo nunca na vida.
— Duvido!!! Em algum momento viria o cio de um de vocês, e concordamos que usar supressores não iria fazer muito efeito. Aliás, nunca vi ninguém de uma espécie grande no cio.
— Quanto maior você for, maior vai ser o seu cio, por isso demora mais pra pessoas grandes ficarem no cio.– Ace falou olhando para Dolf.– Quando foi a última vez grandão?
— “Acho que a 4 anos atrás”
— Isso não é normal, tinha que ser pelo menos meses, agora anos é muito tempo.
— “O médico disse que meu primeiro cio foi precoce, por conta disso meu próximo cio vai demorar muito e pode acabar sendo mais forte que o normal”
— Há há, jura?– falei e Dolf olhou para mim sério.
— “Não gosto de entrar no cio, por isso evito contato físico com todo mundo, não sei quando vou entrar no cio de novo”
— Inteligente, eu faria isso.
— Quando foi o seu cio, Jake?– Luke me perguntou curioso.
— Eu… nunca entrei no cio.
— Que?!!!!! Sério?!!!!
— É, meu tio acredita que ainda não tive nada por causa do “trauma” de ver meu avô morrer. Mas eu tô de boa, não é como…
— Não é como se seu cio fosse te matar por dentro e a abstinência sexual seja tão grande que você pensa em ficar com a primeira pessoa que você vê na frente, sem contar as dores absurdas.
— Luke… obrigado por destruir minha  expectativa de ter um cio tranquilo.
— De nada.