capítulo 18

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Rudolf

Ultimamente Jake andava um pouco distante de mim, tudo por causa desse relacionamento diferente que tinhamos, eu gostava dele, e isso que a gente tinha era legal, mas ainda assim era errado e eu iria me casar. Acordei cedo e logo saí para me encontrar com alguns amigos meus, não meus amigos de sempre, mas outros amigos que me entendiam melhor, até melhor do que Jake.
Andei um pouco até chegar em um campo aberto no meio da floresta e logo vi algumas pessoas correndo, me aproximei aos poucos e depois entrei no lugar que era fechado por uma cerca e então continuei andando até que um homem me viu e começou a correr em minha direção. O rapaz era bem alto assim como eu e também era bem forte, eu reconheci ele logo de cara quando pulou em cima de mim. Era Jonathan, um hipopótamo, apesar dos músculos ele era meio gordinho, mas era quase imperceptível. Assim que pulou em cima de mim, ele logo levantou e me ajudou a me levantar, depois disso nós fomos para um canto com uma mesa de piquenique e ficamos sentados conversando.

— Qual a novidade?– ele perguntou sorrindo enquanto comia um biscoito.
— Nenhuma, se tivesse eu teria falado.
— Verdade, porém… você costuma a não dizer a verdade, não?– ele me olhou sério.
— Só um pouco.
— Pois é, você sabia que o Martin fez uma prova pra ganhar uma bolsa em uma faculdade?
— Não sabia, quando foi isso?
— Semana passada. Ele perdeu e ficou puto, aí quebrou a cômoda do quarto.– nós dois rimos.
— Ele deveria ter mais controle, não pode quebrar tudo o que vê pela frente.
— NÓS deveríamos ter mais controle, ontem eu quebrei sem querer umas canecas na casa do Titi.
— É. Sabe uma coisa interessante?
— Hum.
— A gente é tão diferente dos outros, tipo… tão grandes e fortes e a gente nem pediu pra ser assim.
— Genética, se você pudesse ser de outra espécie, qual você queria ser?
— Acho que… um carneiro.– passei a mão no cabelo.
— Escolha legal, eu iria escolher ser um bicho preguiça, sem preocupação de nada.
— Bem a sua cara.– nós rimos.

Depois de um tempo conversando, escutamos alguns passos e depois vimos um homem no meio das árvores chutando elas, logo nós já sabíamos quem era. Martin, um rinoceronte cabeça quente, de todos os meus amigos ele era o mais agressivo, mas é porque ele foi criado assim, de toda forma ele era legal e um grande amigo. Ele veio andando em nossa direção e depois se sentou do meu lado, ele ficou com os braços cruzados olhando para o lado.

— Bom dia Martin.– Jony falou olhando para Martin.
— Bom dia… até parece que tá sendo um bom dia.
— Jony disse que você não passou no teste pra ganhar a bolsa.
— Aqueles… um bando de infeliz, eu acertei quase todas as respostas, eu só errei três, mas aí a mulher veio e me disse “Ai, porque só vai ganhar bolsa os três primeiros e você ficou em 4°”. Filha da puta aquela desgraçada.
— Acontece, mas caso se sinta mal ainda, faz uma meditação.– Jony falou e Martin olhou para ele sério.
— Meditação Jony!!!!– Martin deu um soco na mesa e a mesma quebrou.
— É, lá se vai mais uma mesa.– falei olhando para a mesa quebrada.
— Hum, alguma novidade?– Martin falou revirando os olhos.
— Acho que estou gostando de um garoto de outra espécie.– assim que falei os dois me olharam surpresos.
— Que espécie?– Jony perguntou me olhando.
— Um carneiro. Ele é bonitinho.
— É pequeno, frágil, indefeso. Sabe que se você encostar um dedo nele, ele morre.– Martin falou prendendo o cabelo.
— Tipo assim, legal, as vezes é bom experimentar algo novo, mas… não acha que é errado?– Jony falou ficando de pé.
— Eu sei, mas sei lá. Ele me faz pensar diferente.
— Ok, não queria ter que dizer isso, mas lá vai… Você ficou louco cara, você endoidou por completo. Aonde já se viu um carneiro e um touro juntos? Afinal, convenhamos, ele é pouca areia pro seu caminhão. Porque não fica com sua noiva.– Martin falou colocando a mão no meu ombro.
— May?!!! Tá doido?!!! Ela é uma escrota, não gosta de mim, só pensa no casamento e nada mais.
— Acho a ideia de ficar com alguém de outra espécie um pouco anormal de mais, porém, amor é amor.– Jony falou se sentando do meu lado.
— A sim, você diz isso porque gosta daquela raposa que ninguém sabe se é menino ou menina.– Martin disse zoando.
— Ele tem problemas, Martin!!! O Titi gosta de roubar as pessoas, isso não é normal, eu só sou amigo dele e ajudo ele com isso.
— Você fala isso, mas daqui a pouco um de vocês vai estar transando com esses carinhas.
— Quem garante que você também não faça isso?– falei olhando para Martin sério.
— Porque eu penso, não sou que nem vocês.
— Vamos ver Martin, daqui a alguns meses você vai gostar de alguém que não é da mesma espécie que a sua e aí eu vou te olhar no fundo dos seus olhos e dizer “Eu falei Martin”.– Jony disse olhando para Martin que continuava sério.
— Se esse for o caso, aí nós três vamos fazer um surubão.– Martin falou e nós três rimos.
— Ok, vamos ver. De qualquer modo, eu tenho que ir agora.
— Falou Dolf, até outro dia.
— Até segunda, a gente estuda na mesma escola.
— Verdade.– Jony deu um soco no braço de Martin.

Fui embora e depois decidi ir na casa de Jake para tentar conversar com ele, chegando lá, bati na porta e depois o tio dele a abriu, perguntei se Jake estava em casa e o mesmo apareceu descendo as escadas. Entrei na casa e nós dois fomos para o quarto de Jake, me sentei na cama dele e ele se sentou ao meu lado. Ficamos um bom tempo quietos e depois eu comecei a falar.

— Hoje eu fui ver uns amigos e eles não acham a ideia de ficar com alguém de outra espécie seja tão ruim.
— Bom pra você, Dolf.– Jake falou olhando para o chão.
— Você não parece legal.
— Eu tô bem.
— Têm certeza?– falei apoiando uma mão no ombro de Jake mas o mesmo tirou minha mão.
— Estou bem.
— Não parece, você nem se quer me deixa te ajudar.
— Por que deveria? Você não precisa de mim, então eu também não preciso de você.
— A questão não é se precisa de mim ou não, a questão é que você tá diferente Jake.– falei e o mesmo levantou e se virou de costas pra mim.
— Como não estaria? Já faz semanas, um mês no mínimo que eu estou tendo sentimentos por você, mas do que adianta eu dizer isso se você não se importa com uma palavra se quer.
— Jake, eu já te falei, eu…
— “Eu estou confuso”, eu sei que sim, mas parece que você nem ao menos tenta entender esses sentimentos. Talvez você ainda ache que eu possa fingir pro resto da vida que você é o meu “melhor amigo” e que eu não sinto nada além de um apego emocional. Eu odeio fingir sobre isso, eu só queria ficar com você.
— Mas você pode ficar comigo.– me aproximei de Jake mas ele me empurrou.
— NÃO DESSE JEITO!!! Eu quero ficar com você pra mim Rudolf!!!! Eu não quero que você fique comigo de vez em quando, só quando se sentir à vontade, não quero ser como um amante, entende?– Jake falou chorando.
— Jake!!! Eu tô tentando, mas ainda é tudo tão complicado, eu quero ficar com você mas eu não quero deixar de ser seu amigo.
— Eu também não queria no início, mas não tem como eu continuar desse jeito, não posso ser só o seu amigo quando eu te quero de outra forma.
— Jake...– falei abraçando ele e o mesmo desabou em lágrimas com a cabeça em meu peito.

Depois dessa conversa reveladora eu fui embora da casa de Jake, resolvi ficar sentado no banco da praça por um tempo e depois voltei para casa. Fiquei trancado em meu quarto por um bom tempo até que meus irmãos apareceram, minha irmã e meu irmão eram as únicas pessoas com quem eu tinha pra conversar quando pequeno, eles sempre foram meus melhores amigos mas depois que eles se casaram eu não vi mais eles.
Conversei um pouco com eles e depois decidi fazer algo arriscado, porém era o certo a se fazer. Fui até a casa de May e bati na porta e logo um homem alto de terno me atendeu, ele disse que iria chamar ela e que eu poderia vê-la daqui a pouco. Depois de alguns minutos ela apareceu usando um vestido florido e depois me abraçou.

— O que te trás aqui, querido?– ela perguntou animada.
— Eu vim te ver, sabe… você é minha noiva.– dei um beijo nela e a mesma ficou surpresa.
— Ah, sim, meu noivo!
— Queria saber se estava bem e se seus pais estão aqui.
— Estão sim. Mamãe!! Papai!!– assim que ela os chamou eles apareceram.
— O que faz aqui Rudolf?– o pai de May me perguntou.
— Vim fazer o que deveria ter feito antes.– me ajoelhei em frente a May.– Vamos nos casar semana que vem?
— Tipo, semana que vem?!!! Mesmo?!!!– ela falou animada.
— Sim.
— Ahhhh, meu amor, claro que sim!!!– ela pulou em cima de mim e me beijou.– Vamos nos casar semana que vem!!!
— É… vamos nos casar.

Fui embora e fiquei pensando nisso, eu falei que vou me casar semana que vem, me casar com May, uma garota e é da minha espécie, isso era o certo a se fazer, não? As outras pessoas iriam me julgar se eu ficasse com Jake, ele era um garoto e um carneiro. Andei por um bom tempo enquanto pensava em tudo que tinha acontecido, era isso, eu iria me casar com a garota que eu praticamente odiava ao invés de ficar com meu melhor amigo que me amava, tudo estava bem, ou talvez não. Percebi que uma gota de água havia caído em minha mão, olhei para o céu mas não parecia que iria chover, foi então que percebi que aquilo não era uma gota de chuva, e sim uma lágrima, uma lágrima minha, por que eu estava chorando? Eu fiz a coisa certa, fiz o que era mais sensato de se fazer, não é?
Mesmo que eu tentasse ser forte eu não conseguia, não conseguia me segurar, foi então que corri pro mais longe possível e depois desabei, desabei em lágrimas e tudo o que eu sentia era ódio e tristeza, se eu realmente tinha feito a coisa certa, por que doía tanto pensar em Jake? Por que meu coração estava apertado só de imaginar contar para ele sobre isso? Porque parecia tanto que eu iria morrer?
Era isso, era esse sentimento que eu não queria sentir, porque eu sentia medo, sentia medo de perdê-lo, e por isso fugi. Esse sentimento… acho que era amor, é, se não fosse isso o que seria? Eu amava Jake, mas não percebi antes, mas do que adiantaria agora, eu iria me casar, semana que vem seria meu casamento. Eu nunca mais iria ficar perto de Jake, porque May não gostava dele, e eu iria me casar com ela… semana que vem…

Um amor em vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora